sexta, 26 de abril de 2024
ENTREVISTA

Turismo de MS cresceu em oito anos com gestão e investimentos

No período, 20 municípios receberam 100 eventos para aumentar o fluxo de visitantes

01 SET 2022 - 09h47Por SILVIO DE ANDRADE

O turismo foi um dos setores da economia que mais avançou em Mato Grosso do Sul, ganhou suporte e incentivo financeiro do Governo do Estado durante a pandemia do coronavírus e retomou as atividades em alta no ano passado: Bonito, um dos principais destinos, bate recordes de visitantes a cada mês e deve fechar 2022 com o maior fluxo de turistas de sua história.

O crescimento do segmento não foi apenas em números apontados pelas pesquisas. Em oito anos, a Fundação Estadual de Turismo (Fundtur/MS) reorganizou o setor com planejamento e gestão, envolveu a iniciativa privada e o trade na governança das rotas e colocou os atrativos nas prateleiras do mundo, com campanhas de promoção e participação nas maiores feiras.

Nesse período, o Estado ganhou um novo Mapa Turístico, elaborado criteriosamente dentro do potencial de cada região, e os investimentos chegaram aos municípios por meio de ações pontuais, como capacitação de mão-de-obra e cursos. Somente na geração de fluxo turístico, o Estado investiu, nos últimos anos, R$ 10 milhões em 100 eventos realizados em mais de 20 municípios.

“Não tem como falar que Mato Grosso do Sul não ampliou sua oferta de produtos turísticos”, aponta Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundtur. Nesta entrevista, o turismólogo de 43 anos aborda o novo momento do turismo regional e destaca os investimentos do governo em infraestrutura, com novos acessos rodoviários e captação de voos direcionados aos destinos.

“Os números estão aí, as ações dizem mais do que as narrativas criadas por quem desconhece o quanto avançamos em organização, criação de novas rotas, posicionamento de mercado e logística, fundamental para facilitar a chegada do turista e aumentar o fluxo”, acrescenta.

Bruno Wendling é especialista em ecoturismo e extensão em gestão pública de turismo e foi presidente da Fornatur (Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo). Com 22 anos de experiência, atuou na área de gestão de destinos nas três esferas de governo e como palestrante, moderador e consultor em mais de 100 destinos em 25 estados.

Bruno: "Avançamos em organização, criação de novas rotas, posicionamento de mercado e logística"

A entrevista:

A política do Governo do Estado de fomento e promoção do turismo, nestes últimos oito anos, contemplou que regiões?

Bruno Wendling: Há cinco anos, quando assumimos a Fundação de Turismo (Fundtur), redesenhamos a oferta turística de Mato Grosso do Sul, ampliamos a atuação para outras regiões, inclusive criamos a região turística do Cerrado Pantanal, antiga Rota Norte, isto é, criamos em termos de organização. Foi constituída uma associação privada para fazer a gestão da região, com repasse de recursos financeiros por parte do Estado, e hoje tem um executivo contratado pela fundação para atuar durante dois anos com o trade. Estamos atuando na Costa Leste, integrada por Três Lagoas e Aparecida do Taboado, trabalhando com as prefeituras e os empresários no planejamento estratégico e na gestão, descentralizando recursos para eventos geradores de fluxo. Ampliamos as ações também em Campo Grande e região, a Capital não era uma cidade trabalhada dentro de um território maior com gestão.  Hoje, a Capital tem uma governança, que é o Campo Grande Destination (Associacao Convention & Visitors Bureau), com executivo contratado pelo Estado e repasse de recursos financeiros. Ou seja, a atuação da gestão do governador Reinaldo Azambuja ampliou o Mapa Turístico de Mato Grosso do Sul.

Esse Mapa também foi reformulado de maneira muito criteriosa, levando em conta as potencialidades, profissionalismo, organização e formatação de roteiros.

Bruno Wendling: O pessoal tem que entender que se trata do Mapa Turístico do Estado. Temos o mapa geopolítico, com 79 municípios. Turismo é uma atividade econômica, pra isso tem que ter produção dentro da região, não é simplesmente dizer: quero ser turístico. Ótimo, mas tem um caminho a ser percorrido, até para você fazer parte de um território maior, do que a própria cidade. Os critérios são fundamentais e hoje são muito mais responsáveis. Temos exemplos de alguns estados que colocam todos os municípios dentro de um desenho de um mapa, que é só no papel, não existe na prática. Aí o turista quer ir para aquele local, não consegue chegar, não tem hotel bom para se hospedar, não tem passeios, bons restaurantes. São critérios que o município tem que começar a cumprir, para entender que de fato a atividade turística é prioritária para a economia daquela cidade. Houve um redesenho, uma reclassificação, sim, e estamos chegando próximo do Mapa Turístico real, com 40 municípios, alguns precisando trabalhar muito ainda na estruturação de sua oferta até chegar na promoção. Qual é o paradigma hoje, que as pessoas dizem mais? Ah, só ficam divulgando a Rota Pantanal-Bonito. Eu não posso divulgar aquilo que não tem produto, o turismo é consumo de experiências. Não podemos ser irresponsáveis, enquanto gestor público, e divulgar municípios que não estão prontos para receber turistas. E qual é a ação do governo para apoiar esses municípios? A fundação entra com outras ações, apoiando eventos geradores de fluxo, que atrai aquele público pontual, apoiando a circulação de oferta, apoiando a criação dos conselhos municipais de turismo, fazendo diagnósticos. Nossa equipe está indo agora para Amambai para ajudar no diagnóstico do município, que vai apontar o que pode ser feito. Estamos apoiando, inclusive, aqueles municípios que não estão hoje no circuito do turismo regional e nacional e muito menos internacional.

Esse trabalho da fundação, incluindo a organização local, mas também desde a qualificação da mão-de-obra e formatação dos pacotes, depende muito do município para avançar?

Bruno Wendling: Muito, e não é por falta de apoio do Estado. Utilizando as instituições que já fazem esse trabalho, porque não é a fundação que tem que capacitar, temos o Sebrae, o Senac, o Senar, com as quais firmamos parcerias. Estamos preparando um termo de parceria com o Senac para fazer capacitação em condutores de pesca esportiva, em janeiro do próximo ano, em cinco municípios (Três Lagoas, Coxim, Corumbá, Bonito, Porto Murtinho), destinado aos guias de pesca. Já fizemos capacitação, utilizando essas instituições, em observação de aves, e a fundação tem apoiado financeiramente, cumprindo o nosso papel de melhorar os serviços ofertados ao turista, além dos programas de inovação de oferta junto com o Sebrae, oportunizando consultoria online, consultoria para cada empreendimento, cursos. 

Costa Rica recebeu o Rally dos Sertões, com patrocínio do Governo do Estado

E com relação aos investimentos do Governo do Estado direcionados a promoção e eventos e no fomento ao turismo e suas vertentes, como você posiciona a atuação da FundturMS nesses últimos anos?

Bruno Wendling: Muito presente. Posso afirmar, seguramente, que praticamente quadruplicamos os recursos hoje investidos no turismo do Estado. Desde a parte de infraestrutura, setor que recebe o maior volume de recursos na história de Mato Grosso do Sul, ampliando os acessos rodoviários e conexões aéreas aos principais destinos. Na parte de promoção, estamos presentes nas maiores feiras e eventos como principal apoiador ao lado de estados que eram mais vistos, como Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. As nossas campanhas promocionais tem sido premiadas ao longo desses anos; ações como esta que estamos realizando agora em Bonito, uma convenção com 100 agentes de viagem, com atenção total para os nossos produtos, capacitando quem vende os nossos destinos. E a participação com destaque em eventos internacionais levando nossos agentes e empresários para vender o Mato Grosso do Sul fora.

Com a pandemia quais foram as ações fundamentais e implementadas pelo Estado para retomar a atividade do turismo com o sucesso que estamos acompanhando?

Bruno Wendling: Primeiro, nossa capacidade de redesenhar rapidamente o planejamento. A pandemia do coronavírus chegou em março de 2020, mas em junho do mesmo ano já tínhamos lançado o plano de retomada, 100% executado, é importante ressaltar. A gente redesenhou algumas ações, focamos muito a qualificação online, para manter o interesse de Mato Grosso do Sul em alta, já que as feiras ficaram sem trabalhar. E o auxílio financeiro, uma conquista para o turismo que o governador Reinaldo Azambuja abraçou, para os guias de turismo, pequenos bares e restaurantes, transportadoras e a redução de IPVA. O auxílio emergencial foi fundamental para dar esse respiro a um setor impactado pela pandemia, e agora a retomada total com recordes de fluxo de turistas. A captação de novos voos, como a conexão direta Congonhas-Bonito, os voos para Três Lagoas, Dourados e Ponta Porã, também foram conquistas por conta do Programa Decola MS, fundamental para a retomada, com a redução da alíquota do combustível para avião. Temos ainda os editais, um processo transparente e inédito criado pelo nosso governo, de apoio a eventos geradores de fluxo, com captação de quase R$ 10 milhões para mais de 100 eventos em mais de 20 cidades. Ou seja, não tem como falar que Mato Grosso do Sul não ampliou sua oferta, os números estão aí, as ações dizem, mais do que as narrativas que são criadas às vezes por pessoas que não estão envolvidas com a atividade e tem esse desconhecimento, achando que tem que promover tudo, quando temos responsabilidade e planejamento com a nossa gestão. 

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Com a Rota Bioceânica saindo do papel, com todos os investimentos dos governos do Brasil e do Paraguai e também do Estado para abrir esse caminho até o Chile, o que essa integração física pode agregar ao turismo fronteiriço?

Bruno Wendling: Vai mudar o nosso Mapa Turístico no cenário da América do Sul. Já somos muito consumidos pelos paraguaios e bolivianos, principais públicos internacionais. Com a Rota Bioceânica, podemos ampliar para a Argentina e o Chile. A integração com esses países de destinos que já são consolidados e outros que podem se estruturar, criando um caminho que conecta desde Porto Murtinho a Antofagasta (Oceano Pacífico, no Chile). Em termos de turismo internacional, seja europeu e o norte-americano, que entram pelo Chile, chegando a Bonito, Campo Grande e outros destinos, até os que chegam por aqui, fazendo o caminho inverso. Acho que a rota redesenha nosso posicionamento geográfico e turístico na América do Sul e, claro, ganhamos uma grande alternativa de desenvolvimento ao longo desse corredor.

Para os próximos quatro anos, o que a Fundtur está planejando para fortalecer ainda mais o nosso turismo?

Bruno Wendling: A continuidade do plano estadual e das ações é o primeiro passo. Temos hoje a governança do turismo, que é o legado da gestão do governador Reinaldo Azambuja, com conselho estadual de turismo forte, acabamos de atualizar o mapa estratégico do turismo 2019-2030 e renovamos as ações em 2022. São tomadas de decisões que empodera o setor privado, ou seja, a próxima gestão vai ter que dançar conforme o que foi construído agora, já temos as linhas estratégicas para ampliar a atuação regional, surgir novos destinos, dar mais apoio para estruturação de novos produtos, aumentar o leque de opções do nosso turismo, potencializar cada vez mais as ações promocionais, dentro e fora do Estado, e trabalhar os equipamentos culturais também, enquanto patrimônio, e os equipamentos turísticos. Temos um grande passivo que pode ser trabalhado, seja em Corumbá, em Campo Grande, em Miranda e outras cidades, reforçando cada vez mais a identidade cultural do Estado por meio desses equipamentos emblemáticos que temos. Ampliar o programa de captação de novos voos e atração de investimentos privados, seja em hotelaria e parques temáticos, criando um grande plano de negócios, por que realmente Mato Grosso do Sul é hoje o estado para se investir.

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