A ponte de concreto sobre o Rio Miranda, na Estrada-Parque do Pantanal, em Corumbá, era um sonho de décadas, mas está se tornando um pesadelo para quem explora o turismo na comunidade do Passo do Lontra e tem compromisso com aquele ecossistema frágil.
A construção de uma estrutura de 240 metros de cumprimento, que se sobressai em meio àquele ambiente selvagem, atiçou a cobiça de alguns empresários do município que trabalham com pesca esportiva e contam com barcos-hoteis para grandes grupos.
Ameaça 1: “Invasão” de embarcações
A nova ponte foi inaugurada em 2012 e, de lá para cá, se trava uma disputa para manter e derrubar a ponte velha (de madeira), construída na década de 1970, a qual, a três metros do nível do rio, impede a entrada de grandes embarcações.
A região da Estrada-Parque, unidade de conservação criada em 1993 a ainda não implantada de fato, é uma área sensível do ponto de vista ambiental, pela sua rica biodiversidade. Tornou-se um dos principais destinos de ecoturismo de Mato Grosso do Sul e seus rios são poucos explorados justamente pelas restrições de acessos.
Retirar a ponte velha, na opinião dos empresários do Lontra –situada na beira do Miranda, a comunidade fica distante 8 km do trevo do Buraco da Piranha, na BR-262 -, significaria permitir a invasão dos barcos-hoteis de Corumbá e a destruição do estoque pesqueiro, que já sofre agressões atrópicas.
“Exploramos aqui a pesca artesanal e esportiva, não temos volume de pescadores retirando do rio o que a lei permite ou não permite”, afirma o empresário João Venturini Junior, que também é presidente do Comitê Gestor da Estrada-Parque.
Ameaça 2: pesca nos rios cênicos
Ele defende a manutenção da ponte velha e cobra do governo estadual um plano de uso restrito da região, tal qual foi definido em Bonito, para limitar o acesso de pessoas nos ambientes naturais da Estrada-Parque e seu entorno.
“Nosso turismo é o ecológico, a pesca é um lazer. É preciso quantificar esse uso, definido por meio de estudo de sua capacidade de carga. A liberação de grandes embarcações no Miranda vai destruir o que já está no limite, vai destruir nossas reservas”, alerta Venturini.
O Rio Miranda, que recebe as águas do Aquidauana e praticamente limita os municípios de Aquidauana, Miranda e Corumbá na região do Lontra, a Oeste. Ele conta com várias vertentes, que são os rios cênicos Negrinho, Vermelho, Carrapatinho, Aquidauaininho e o Touro Morto, onde é proibida a pesca.
Um ordenamento para a unidade
Esses mananciais são reservas naturais e, como tal, devem ser preservadas como “um campo neutro”, diz o empresário. Suas margens concentram, além de uma variedade de árvores nativas em floração, como o carandá, a fauna representada por bugios, tucanos e, se o visitante tiver sorte, a onça-pintada.
A liberação do vão principal da ponte de concreto, que tem 100 metros de cumprimento por sete metros de altura, a partir da destruição da estrutura velha de madeira, vai gerar uma “corrida” desordenada a este paraíso, com danos irreparáveis.
Existe um movimento em Corumbá, segundo denuncias dos empresários do Lontra, para que o Estado autorize a retirada da ponte de madeira. A região também se mobiliza e vai cobrar não apenas a manutenção da estrutura, um ordenamento do uso da unidade de conservação e seu entorno, limitando, inclusive, tamanho de embarcações e motores.
“Não queremos turismo de massa”
“Liberar o vão da ponte nova será a destruição dos nossos recursos naturais, os quais vem sendo explorados há pelo menos 50 anos de forma respeitosa”, lamenta o empresário João Venturini, que chegou àquela região ainda jovem, nos anos de 1970.
A ponte de concreto, segundo ele, concretizou um sonho de pelo menos três décadas. A ponte de madeira sofreu interdições para reparos, devido ao excesso de cargas, e isolava a região, causando prejuízos ao turismo e à pecuária.
Mas, hoje, é também motivo de angustia de quem mora no lugar é não quer a destruição dos recursos naturais até agora explorados de forma equilibrada pelo turismo.
“O que nós precisamos é de estrutura, uma maior divulgação dos nossos destinos. Não queremos o turismo de massa, e isso o governo deve impedir mantendo a ponte de madeira”, cobra Venturini.
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