A comitiva estava completa, seis no gado e o cozinheiro. A burrada pronta. Cinco dias pegando e apartando o gado da viagem tirou a barda dos hereges, quem tinha que pular, dar coice, negar estribo e outras artes já tinha aprontado. A mula farinha tinha entrado no globo com Gonçalo, apanhou até tomar prumo.
Hora de soltar no estradão. Boiada dormiu no mangueiro, os números já são conhecidos, a última conferência confirma a entrega ao condutor. Vinte e uma talhas, mil e cinquenta reses. Serão 14 marchas até o embarque no Corixão do primo Joci.
A comitiva tem uma rotina rígida, cada um sabe seus afazeres diários. Cedo um café preto, encilhar a burrada e ganhar estradão. Na frente vai o ponteiro, sempre um vaqueiro experiente, calmo e conhecedor do caminho. É ele quem dá cadência da marcha, toca o berrante para chamar o gado, o som funciona como uma música que acalma e faz andar a boiada.
Do seu lado os fiadores, um na direita e outro na esquerda, eles têm a função principal de fazer o gado, dar direção. Na culatra vai o condutor, o chefe. De resto são novos vaqueiros, aprendizes, vara de porteira…são os meieros e ajudantes da culatra.
Uma comitiva não funciona sem um bom cozinheiro, figura de extrema importância, talvez quem mais trabalhe no estradão. Clareia o dia com café preto pronto, arreia os cargueiros e sai na frente da comitiva empurrando dois ou três burros carregados rumo ao ponto de almoço.
Depois do rango é lavar as louças, preparar novamente os cargueiros e seguir viagem. No escurecer tem que estar com a janta pronta, dobles da peonada no jeito para o pouso.
Peão do estradão não acomoda em fazenda, mensalista pantaneiro não viaja em comitiva. Diarista só para culatreiro, daí o nome vara de porteira, tá sempre trocando.
Uma boa comitiva é formada por uma burrada em bom estado, bruacas, panelas e trempe, condutor, cozinheiro, ponteiro e fiador, o resto é farinha de guerra.
Vai com Deus!
(*) Pecuarista e escritor
Leia Também
O Pantanal e a eucaliptização
A vida presta, o problema são as pessoas
Brisa sulina
Onde falhamos no caso da Vanessa Ricarte? Algumas reflexões
Por uma rota estratégica