domingo, 05 de maio de 2024

Que o bem vença no Pantanal

17 SET 2023 - 12h20Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

Uma das consequências do isolamento das fazendas no Pantanal era a preocupação com os forasteiros, com os que apareciam naquelas horas que todos os moradores estavam imersos em sua rotina diária.

Um cavaleiro era imediatamente identificado, se cozinheiro de comitiva já verificava como serrana ou pantaneira pelo número de bruacas, se condução como trator ou caminhonete, a busca por quem seria, a partir do rumo de chegada.

Maiores preocupações despertavam os aviões desconhecidos, que rodavam procurando reconhecer a pista e eventuais viajantes a pé, seria alguém perdido ou com condução quebrada ou atolada, buscando ajuda ou um forasteiro desconhecido?

Esses eram avaliados minunciosamente, por palavras e atos para se verificar se era da parte de Deus, seria talvez um anjo ou próprio Senhor buscando ajuda ou alguém visando o prejuízo para aquelas vidas?

Mesmo os andarilhos eram figuras do Bem, reconhecidos por ostentarem vastas e variadas cabeleiras, vinham normalmente em busca de fósforos e fumo, fornecidos de bom grado, bem como enchiam-se vasilhas com a comida disponível, fornecia-se eventual pareio de roupas ou casaco de frio, se fosse o caso. 

Na beira do Rio Paraguai todos se conhecem, bem como as respectivas chalanas, uma condução desconhecida é avaliada sendo parte importante a forma de saudar ou pedir informações...

Há um rígido protocolo, sempre começando com um "Ô de casa?", respondido com um amigável "- Vamos apear ou vamos chegar!", conforme a condução.

Identificado o viajante cansado ou necessitado de algum tipo de ajuda, abrem-se as portas da solidariedade pantaneira e compartilha-se o que se tem disponível, visando o bem estar do recém-chegado.

Esta semana os pantaneiros da planície, ainda assustados com os últimos acontecimentos e denúncias, receberam duas notícias que ainda estão sendo avaliadas se virão para o Bem do Pantanal. 

Pantaneiro, como dizia o precavido Bugre do Chané, está como as anhumas, voando e gritando ao ouvir as notícias de sentença do STF sobre Identidade Ecológica e um Banco Internacional financiando milhões de dólares para o Pantanal: 

O que vem lá? Quem vem lá?"

Será algo para nosso Bem? Será que finalmente a planície será contemplada após décadas de sacrifício?

Confiamos que o Bioma dos Biomas seja usado para compensar áreas degradadas em toda a bacia platina pelo valor por hectare da área de origem do dano ambiental, não um hectare de milhares de reais por um desvalorizado hectare, expropriado na mão grande por "sabidos" e poderosos investidores, de algum sofrido proprietário no Pantanal.

Um hectare conservado no Pantanal, deveria, do ponto de vista da Identidade ambiental e da sustentabilidade, valer mais do que qualquer hectare degradado nos planaltos, equivalência ecológica que a Ciência definiu, especificamente, no Documento 159/2018 do CPAP Embrapa Pantanal.

E que novas estradas, limpeza e melhoria de nossas pastagens degradadas, as escolas, os postos de saúde e o direito cidadão ao voto também estejam nessas novas soluções anunciadas para a planície pantaneira.

"O que vem lá? O que vem lá? Quem vem lá? Quem vem lá?"

Oremos, juntos, para que todo o mal se afaste do Pantanal...
 

 

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