sexta, 03 de maio de 2024

O segredo da hospitalidade inclusiva

25 JUN 2023 - 18h44Por RICARDO SHIMOSAKAI

A hospitalidade é uma das palavras-chave mais importantes que descrevem o turismo. Porém, as pessoas são diferentes, então a forma de atendê-las não funciona se for igual a todas. Pensando nisso, as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida precisam ser atendidas da melhor forma, às vezes de maneira bem específica, mas como fazer isso? 

Sempre que for ajudar uma pessoa com deficiência, primeiro pergunte se ela realmente quer ou precisa dessa ajuda. No aeroporto, por exemplo, às vezes o atendimento da companhia aérea insiste em me conduzir até a aeronave, sendo que eu não preciso e prefiro ficar livre para ir ver o free shop ou tomar um café. Então, quem realmente quiser ou precisar, vai aceitar o auxílio, a insistência é desagradável. 

Pesquisas mostram que a pessoa com deficiência dá um valor enorme pela forma como é atendida, até mais do que a própria acessibilidade física do local. Não que os espaços e acessos não sejam importantes, mas a hospitalidade é um fator muito impactante, e que pode ser marcante na visita do turista, seja pelo lado positivo ou negativo. 

Guias de turismo devem prestar atenção em paradas para ir ao banheiro, ou outra necessidade específica do turista com deficiência. Às vezes a pessoa com deficiência tem horários marcados para ir ao banheiro, e um roteiro longo sem paradas pode ser um problema. Por isso, as viagens longas de avião são um desafio para algumas pessoas. Nos voos internacionais as aeronaves até possuem banheiros adaptados, mas nem sempre eles estão funcionando. 

No hotel, os funcionários devem estar preparados para arrumar o quarto do hóspede com deficiência. Eles devem limpar o quarto, mas não devem tirar os pertences do hóspede do lugar. Se for um hóspede cego, ele memoriza onde deixou as coisas, e se a camareira colocar em outro lugar, irá criar uma confusão. Até eu que sou cadeirante costumo deixar minha mala em cima da cama por praticidade, então se tirar ela do lugar, vai me dar trabalho, pois vou ter que colocá-la na cama de novo. Devemos respeitar a organização do hóspede, por mais bagunçada que possa parecer. 

Há muitas coisas mais que eu poderia citar, mas não é através de dicas que você consegue capacitar seu negócio e seus funcionários. A melhor opção é buscar um treinamento voltado especificamente para o atendimento da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida, que são os idosos, grávidas, obesos e pessoas com deficiência temporária. Busque pessoas com experiência, que tenham um histórico satisfatório para esse tipo de trabalho. Dessa forma, além de evitar problemas, você também colocará um diferencial de atendimento, e assim atrair muito mais turistas, hóspedes, passageiros e clientes. 

(*) Paraplégico desde 2001, na busca incansável pela sua liberdade, passou a explorar a acessibilidade e a inclusão no lazer e turismo, que acabou virando sua profissão: tornou-se uma referência internacional no assunto, realizando palestras ao redor do mundo.

(**) Artigo publicado no site do Brasilturis
 

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