sábado, 04 de maio de 2024

Especialistas em confusão abominam solução

15 NOV 2023 - 16h56Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

O manual moderno quando nos deparamos com uma situação inusitada ou incompreensível, é sempre chamar ou consultar um especialista.

Infelizmente tais especialistas exóticos trazem seus próprios dogmas, uma explicação importada que poderia até fazer sentido na origem, mas num Pantanal que uma hora é mar de água, noutra um deserto ressequido, soa exatamente como é: verdadeira blasfêmia.

Apreciando a arte dos tijolos de adobe quando da reconstrução do Casarão da Cotia, aprendi a lição imemorial do velho Pantanal poconeano: "O mesmo sol que amolece a cera, endurece o barro".

Desde qualquer ponto do "centro" do Paiaguás MS, olhando-se à noite, em direção Norte, no rumo do Parque Estadual Encontro das Águas ou do Parna Pantanal MT, vemos a escuridão avermelhando numa apocalíptica aurora boreal de incêndios, nas tais "Áreas Protegidas".

Temos uma situação que não foi criada pelos pantaneiros, que, sem terem o dom da profecia, vêm há anos expondo que a criação de Reservas e Parques Ecológicos sem previsão de medidas mitigadoras para o acúmulo de material vegetal combustível, criariam devastadores e seguidos incêndios.

Interessante que essa crença empírica já foi referendada por eminentes cientistas como Arnildo Pott e Geraldo Damasceno, agora vimos que o   Corredor do Fogo do Chaco, substituiu o Corredor Azul no Tramo Norte do   Rio Paraguai e seus afluentes, acompanhando o combustível acumulado.

A IUCN ou União Internacional para Conservação da Natureza, cansada de subsidiar a florescente indústria do fogo, há anos tenta substituir esse modelo tipo SNUC, Sistema Nacional de Unidades de Conservação pela modernas OMECs ou Outros Modelos Espaciais de Conservação, muito próxima do que seria o modelo de sustentabilidade empírica da pecuária tradicional do Pantanal.

The United Nation Environment Programme ou UNEP, Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, também tenta desesperadamente deter a destruição dessa imensa turfeira em formação, que são as regiões mais úmidas do Pantanal, o maior sorvedouro do tal do Carbono do mundo.

Nada parece capaz de deter os corretores da exacerbação da destruição, e lágrimas em cenas de animais queimados, podem contribuir para diminuir   o remorso, terceirizando e até quarteirizando a culpa, com a complacência ancorada semanticamente em fatos inexistentes, como a substituição de vegetais invasores impalatáveis a herbívoros, tida e havida no ativismo jurídicialesco como desmatamento ilegal, mas, ao mesmo tempo, pasmem! Previsto em Leis!

Nesta altura dos acontecimentos, com a noite avermelhando-se em dragão de fogo, os pantaneiros cansaram-se desta guerra cultural assimétrica, onde as cartilhas dos principais organismos Internacionais tampouco conseguem sensibilizar o   entendimento, até aqui vitorioso dos interesses financeiros de espoliadores e expropriadores ambientais.

Como não estamos numa Guerra Santa com a especialista climatológica da WWF e tampouco com outros relatórios de Institutos e Instituições regionais, cultores dessa auto indulgência com suas próprias ações, não queremos vencer ou derrotá-los, somente que aceitem a imposição da realidade óbvia e urgente de autocrítica dos próprios atos.

Que tal proclamarmos o Pantanal como vencedor dessa disputa quase religiosa em torno de blasfêmias e indulgências, e buscarmos construir, à vera, uma ponte pantaneira em torno da secular e testada forma de sustentabilidade econômica e ambiental?

 Que as lágrimas ocasionadas pela fumaceira e chuva de cinzas do carbono emitidas pelos Incêndios, sejam verdadeiras e não raivosa irritação ocular, buscando culpados.

Abstraindo-se a vaidade   da intolerância presunçosa, é necessário buscar compreender os fundamentos da cultura do Pantanal, de   convivência harmoniosa com os quatro elementos fundamentais ar, terra, fogo e água, e ainda, os bichos e gentes, capins e árvores, areias, barros e pedras, ciclos extremos de águas, secas e eventos climáticos...

Infelizmente, os resíduos do carbono emitido pelos Incêndios nas turfas das Reservas Ambientais do Pantanal, sob a forma de fuligem e cinzas, cairão como uma Chuva Negra no Centro Sul da América do Sul, lembrando a todos que a natureza não age, só reage aos que a tratam com tamanha estupidez

(*) Pantaneiro

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