Majestoso como convém e exibindo todo seu talento nos galhos da laranjeira, um sabiá apaixonado clama aos céus por sua amada, em maravilhoso flauteado.
Para o homem do campo este gorjeio além do seu encantamento também possui a virtude de chamar as chuvas de outubro.
Ouço maravilhado e distingo, nas modulações da sua voz, toda a grandeza que existe em sua simples, porém, justificada existência.
É um presente de Deus para um velho pantaneiro que nestes dias tem sofrido com esta severa seca que castiga o nosso Pantanal.
Um bugre pantaneiro me disse certa vez que "apenas a dor nos abre a alma para assuntos de Deus e passarinhos".
Assim, este preocupado fazendeiro do Paiaguás, vendo perecer sua criação pela absoluta escassez de pasto e água e com o espírito ferido por tamanha tragédia, ousa se juntar a essa pungente oração feita por uma das mais belas criaturas da nossa fauna para pedir a Deus que nos livre desta seca.
Aproveito a oportunidade para pedir também que nos guarde de outros traiçoeiros cataclismos que nos flagelam, assim como os vendavais das forças invasoras que tentam, de todas as formas, tomar o paraíso que nos foi dado, assim como nos foi ensinada a maneira de aqui viver e protege-lo!
Sem qualquer sinal de arrogância, Senhor, ouso dizer que soubemos conservar esta maravilhosa obra da Sua criação que é o Pantanal.
O mundo todo admira o resultado desta simbiose extraordinária entre Homem e Natureza mas se nega a capitular diante da mais clara evidência , enganado pelas narrativas do neocapitalismo que, de maneira inequívoca busca retirar deste cenário o homem pantaneiro produtor de riquezas , para promover a inclusão de políticas totalmente contrárias à vocação deste território.
Todas as experiências trazidas a peso de dólares só têm redundado em grotescos fracassos para o nosso bioma...
Entretanto o grande capital, para o qual não existe limites, continua em seu avanço promovendo restrições às atividades centenárias da planície sob o disfarce de preocupação ambiental que só existe em verdade no caro discurso pago aos seus seguidores, em enfadonhas presenças nas redes sociais.
O galante sabiá e este índio velho anseiam que estas preces sejam ouvidas, livrando-nos de todo o mal e que Tupã Cy 'retã seja sempre a terra da mãe de Deus.
Nossas almas então abertas, finalizam: Amém!
* Pantaneiro
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