quarta, 01 de maio de 2024

A oração de um sabiá

30 OUT 2021 - 18h45Por MANOEL MARTINS ALMEIDA

Majestoso como convém e exibindo todo seu talento nos galhos da laranjeira, um sabiá apaixonado clama aos céus por sua amada, em maravilhoso flauteado.

 Para o homem do campo este gorjeio além do seu encantamento também possui a virtude de chamar as chuvas de outubro.

Ouço maravilhado e distingo, nas modulações da sua voz, toda a grandeza que existe em sua simples, porém, justificada existência.

 É um presente de Deus para um velho pantaneiro que nestes dias tem sofrido com esta severa seca que castiga o nosso Pantanal.

Um bugre pantaneiro me disse certa vez que "apenas a dor nos abre a alma para assuntos de Deus e passarinhos".

Assim, este preocupado fazendeiro do Paiaguás, vendo perecer sua criação pela absoluta escassez de pasto e água e com o espírito ferido por tamanha tragédia, ousa se juntar a essa pungente oração feita por uma das mais belas criaturas da nossa fauna para pedir a Deus que nos livre desta seca.

 Aproveito a oportunidade para pedir também que nos guarde de outros traiçoeiros  cataclismos que nos flagelam, assim como os vendavais  das forças invasoras que tentam, de todas as formas,  tomar o paraíso  que nos foi dado, assim como nos foi  ensinada a maneira de aqui viver e protege-lo!

Sem qualquer sinal de arrogância, Senhor, ouso dizer que soubemos conservar esta maravilhosa obra da Sua criação que é o Pantanal.

O mundo todo admira o resultado desta simbiose extraordinária entre Homem e Natureza mas se nega a capitular diante da mais clara evidência , enganado pelas narrativas do neocapitalismo que, de maneira inequívoca   busca retirar deste cenário o  homem pantaneiro produtor de riquezas , para promover a inclusão de políticas totalmente contrárias à vocação deste território.

Todas as experiências trazidas a peso de dólares só têm redundado em grotescos fracassos para o nosso bioma...

Entretanto o grande capital, para o qual não existe limites, continua em seu avanço promovendo restrições às atividades centenárias da planície sob o disfarce de preocupação ambiental que só existe em verdade no caro discurso pago aos seus seguidores, em enfadonhas presenças nas redes sociais.

O galante sabiá e este índio velho anseiam que estas preces sejam ouvidas, livrando-nos de todo o mal e que Tupã Cy 'retã seja sempre a terra da mãe de Deus.

Nossas almas então abertas, finalizam:  Amém!

* Pantaneiro

 

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