sábado, 04 de maio de 2024

A natureza e a construção da humanidade

26 DEZ 2023 - 13h06Por FERNANDA KING

Como sempre, o novo mundo traz desafios aos quais temos que nos adaptar constantemente. Mais do que sobrevivência, a questão é o aprendizado contínuo. A geração Alpha surgiu junto com o iPad, a maior revolução dos tablets, e com as notícias do Google do primeiro carro autônomo da história. E se hoje é comum entendermos que a partir da geração Alpha todo ser humano é um nativo digital, conectados tecnológicos, também é consenso que as crianças, principalmente as menores, enfrentam hoje um déficit de natureza que pode comprometer seu desenvolvimento.
 
Para esses pequenos futuros cidadãos, a creche pode ser um espaço valioso para compensar esse déficit e oferecer o contato com áreas verdes e meio ambiente. A Fundação Maria Cecília Vidigal aponta que, segundo estudos científicos, vivenciar a natureza estimula a criatividade, a socialização e a saúde, promovendo desenvolvimento cognitivo e emocional.
 
Estudo da organização Natural Learning Initiative, que promove o uso de diferentes espaços para a criação de áreas verdes, mostra que o contato direto com a natureza impacta diretamente o comportamento. De acordo com a pesquisa, 68% dos diretores de centros de ensino entrevistados no levantamento relataram mudanças positivas no comportamento das crianças após elas praticarem atividades ao ar livre e 40% deles indicaram que os pequenos se envolveram particularmente com áreas de cultivo de plantas comestíveis.
 
Especialmente para crianças que moram em grandes centros, o contato com a natureza é fundamental. Saber que os alimentos vêm da terra, que comemos o que cultivamos, que as plantas têm cores, formas e cheiros diferentes, entre outras informações, é essencial desde a primeira infância. Mesmo quem mora em apartamentos pode usar a criatividade para ter sua própria área verde, cultivando plantas e uma pequena horta que ainda pode fornecer ingredientes para a cozinha do dia a dia.
 
Com a ajuda das crianças, pais e responsáveis podem criar um espaço único, plantar sementes, regar, cultivar, explorar formas, cores e cheiros, colher, cozinhar e comer. Todo esse processo vai contribuir grandemente para o desenvolvimento dos pequenos e ainda fortalecer a conexão familiar. Além disso, é possível criar atividades lúdicas envolvendo elementos da natureza, como folhas, galhos e outros recursos que promovam esse contato. Contar utilizando gravetos, usar flores para brincar de fazer comidinha ou criar jogos com pedras são exemplos disso.
 
Os benefícios do contato com a natureza e das atividades ao ar livre são muitos. A Natural Learning Initiative aponta que eles contribuem para aumentar a cooperação e reduzir a obesidade, uma vez que as crianças que vivenciam áreas de lazer com diversos ambientes naturais são mais fisicamente ativas, mais conscientes da nutrição, mais civilizadas entre si e mais criativas. O levantamento também indica que as atividades na natureza melhoram a saúde. Podem até reduzir taxas de miopia em crianças e adolescentes e o risco de asma e outras alergias, através do maior conhecimento com a biodiversidade e com todos os tipos de organismos vivos, inclusive animais, insetos e bactérias.
 
Aspectos socioemocionais também ganham com a maior interação e integração da criança com a natureza. Áreas verdes, aponta o documento, melhoram as relações sociais, a convivência, a autodisciplina, o autocontrole, reduzem o estresse, aumentam a capacidade criativa, contribuem para a solução de problemas, para o desenvolvimento intelectual, de habilidades cognitivas e aprimoram o desempenho acadêmico. E há ainda o ganho da sustentabilidade. Pequenos que vivem a natureza aprendem a respeitá-la e passam a adotar atitudes de preservação ambiental.
 
Por isso, vamos plantar, cultivar e educar. E frequentar parques sempre que possível. Ficar sob o sol, sentar na grama, andar descalço e observar os pássaros, entre outras coisas simples fundamentais, fazem muito bem e ajudam a construir memórias especiais. Todo ser humano precisa disso em qualquer idade.

 
(*) Pedagoga com pós graduação em Desenvolvimento Infantil, tendo formação especializada em educação infantil em Reggio Emília (Itália) e na Argentina é diretora e fundadora da Petit Kids. Apesar de ter começado sua carreira como publicitária, profissão que trouxe essa carioca para São Paulo, a maternidade a fez mudar de profissão. Abriu sua própria escola em fevereiro de 2015 com o propósito de educar sua filha de forma mais humanizada. Daí passou a estudar a nova área, se tornando além de mantenedora escolar, uma diretora engajada na busca de uma forma de educar afetiva e acolhedora.

Leia Também

Relatos de viagem

A decoada, o armau e história de pescador no Pantanal do Nabileque

Mais Relatos de Viagem

Megafone

É impossível prever. O clima mudou tanto que os modelos climáticos programados para fazer previsões há dez anos já perderam muito dessa capacidade

Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP

Vídeos

As 10 cidades mais ricas em espécies de aves

Mais Vídeos