As mudanças climáticas que vem ocorrendo, com baixas temperaturas no outono e escassez de água no período chuvoso, refletem de forma acentuada no Pantanal, onde a seca prolongada há pelo menos dois anos provoca intensos incêndios florestais e alterações no ecossistema. A fauna foi impactada pelo fogo, que destruiu 4,3 milhões de hectares em 2020, e a flora se recompõe, paulatinamente, brotando o verde onde era apenas cinzas.
Em regiões onde os incêndios foram devastadores, como numa extensa faixa entre Corumbá e Miranda, a floração antecipada dos ipês amarelos revela as interferências ambientais e a capacidade de regeneração do Pantanal. Com a seca e as frentes frias entre abril e maio a árvore símbolo da maior área alagável do mundo perdeu sua folhagem, acelerando a floração, que geralmente ocorre a partir de agosto. O ipê roxo é o primeiro a colorir esse paraíso ecológico.
“A falta de chuvas e a queda na temperatura adiantaram a florada do ipê amarelo, cujo processo começa com o roxo, em junho. Quando chove muito, ocasionando enchentes, essa floração da espécie não chega a ser muito expressiva”, explica a bióloga Suzana Salis, da Embrapa Pantanal. Este ano, segundo o pesquisador Arnildo Pott, a floração pode não ser maciça porque não houve período seco definido, ao menos em Campo Grande.
Evento atrai turistas
O fenômeno, no entanto, está aberto para visitação na região pantaneira. O amarelo predomina nas margens da BR-262, entre Miranda e Corumbá, com predominância também na borda da Serra da Bodoquena e nos campos. O tom roxo, ao contrário, ainda é pouco observado e em início de floração. Beleza nativa e rara, é passível de contemplação. Os turistas não se contêm e param nos acostamentos das estradas para fotografar os adornos da natureza...
“Com a chegada do período da estiagem a floração dos ipês prenuncia se teremos inverno rigoroso ou ameno. A intensidade de sua floração dará o tom desse prenúncio! Como se vê a natureza é sabia!”, afirma o biólogo Romildo Gonçalves, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). “A floração dessa espécie vegetal é um dos primeiros indicativos naturais para demonstrar a intensidade da difusão nas intempéries nos ecossistemas locais e regionais naturais ou antropizados.”
Além de decorar o ambiente pantaneiro com sua beleza exuberante, os ipês também garantem o alimento a muitos animais, os quais se concentram debaixo dos pés forrados de flores – uma cena comum que atrai turistas às pousadas e hotéis-fazendas, cujos pacotes, muitas vezes, são vendidos antecipadamente. Com até 35 metros de altura, as árvores se destacam entre as 1.800 espécies de plantas existentes no bioma. Na língua tupi-guarani, ipê significa “árvore de casca grossa”.
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