sábado, 04 de maio de 2024
PATRIMÔNIO

IPHAN ANUNCIA RESTAURO DO FORTE COIMBRA, PRODUTO TURÍSTICO NÃO EXPLORADO

02 ABR 2024 - 16h44Por SILVIO DE ANDRADE/REDAÇÃO

Símbolo da presença portuguesa no Brasil e referência na defesa frente a ataques e invasões estrangeiras no século XIX, o bicentenário Forte de Coimbra ganhou um projeto de restauro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Mato Grosso do Sul. A fortificação, localizada no Pantanal do Nabileque e próximo à fronteira com a Bolívia, em Corumbá (MS), é administrado pelo Exército Brasileiro,

O órgão federal disponibilizou aproximadamente R$ 500 mil para contratação e execução do projeto. A estimativa é que as obras custem em torno de R$ 7 milhões, valor que deve ser captado pelo Governo do Estado e Exército Brasileiro e outras fontes de recurso.

Reunião dos técnicos do Iphan com o Exército

Junto à iniciativa, o governo tem mais uma oportunidade de colocar em prática uma antiga proposta de explorar turisticamente o monumento, cuja história vai além da sua arquitetura e os episódios bélicos que participou: está localizado em meio à natureza, na beira do Rio Paraguai. Transforma-lo em produto turístico sempre esbarrou no desinteresse do Exército por ser área de segurança nacional.

Acesso por estrada

Em 1983, houve o planejamento da implantação do Projeto Parque Histórico-Turístico do Forte de Coimbra, que não avançou. Também houve a tentativa de criar cruzeiros fluviais de Corumbá ao forte, para contemplação e pesca esportiva, porém a distância também foi fator limitante. São exatos 200 km pela Hidrovia do Rio Paraguai que separam a cidade da fortificação.

Alguns barcos-hotéis chegaram a realizar passeios, no entanto o roteiro não vingou. A visita depende de autorização do Exército e até o ano de 2.000 não havia energia elétrica no lugar. A unidade do Exército tem um pequeno hotel de trânsito e na vila de civis é possível se hospedar em pousadas simples construídas de madeira e alugar um barco para pesca.

Fortificação conta com uma vila de civis (esquerda): o Exército chegou a propôs a transferência das famílias para Corumbá

O acesso também foi um fator limitante: hoje se chega ao forte apenas pelo rio e avião. O Governo do Estado está construindo o acesso rodoviário, a partir da BR-262, aproveitando a seca prolongada na região alagável. Para abrir o atrativo ao público, no entanto, depende do Exército, de um roteiro bem planejado, boas acomodações e, principalmente, o interesse do trade turístico.

Patrimônio da Unesco

Os projetos de restauro anunciados pelo Iphan foram elaborados respeitando os valores estéticos e culturais das edificações que compõem o forte. As intervenções buscarão melhores condições de acessibilidade, adequações nos banheiros, restauração do piso e cobertura, ampliação dos quatro espaços expositivos, além de novas pinturas nas paredes internas e externas.

Cerimônia civico-militar da festa da padroeira, Nossa Senhora do Carmo


 
O superintendente do Iphan-MS, João Santos, destaca que o Forte de Coimbra foi uma das poucas fortificações brasileiras que teve atuação em confronto bélico, na Guerra do Paraguai (1864-1870), mas transcende os valores militares. 

“O forte tem em seus arredores uma vila de moradores devotos à figura de Nossa Senhora do Carmo, que é a padroeira do bem, onde a comunidade comemora anualmente sua festa religiosa, uma das mais antigas em território sul mato-grossense”, explicou o superintendente. “O projeto que está posto é o resultado do trabalho dos técnicos do Iphan e Exército, em conjunto com a sociedade civil organizada”, completou.

Para a assessora cultural do Comando Militar do Oeste do Exército Brasileiro, Kauanna Lourdes Vasconcelos, o restauro do bem cultural deixará a fortificação apta a ser qualificada como Patrimônio Mundial da Unesco, título que o Brasil busca há alguns anos. 

"As tratativas ocorreram ao longo de 2019 até 2023, com reuniões e visitas para o alinhamento entre Exército, comunidade e profissionais de engenharia e museologia, para a avaliação dos projetos produzidos", disse. 

Fortificação hoje conta com energia elétrica e internet. Conta om pista de pouso (ao fundo) e hotel de trânsito

A fortificação

Tombado em 1974 e inscrito no Livro do Tombo Histórico; Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, o forte localiza-se no distrito de Coimbra, no município de Corumbá, na fronteira do Brasil com a Bolívia, e está inserido no contexto histórico das conquistas espanholas e portuguesas. Foi fundado em 13 de setembro de 1775 em local errado. O ponto escolhido era o Fecho dos Morro, já próximo de Porto Murtinho.

O erro geográfico valeu ao seu construtor, o capitão Mathias, severa punição pelo então governador da capitania de Mato Grosso, Luíz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Mathias foi destituído do comando da fortificação, perdeu a patente militar, foi proibido de exercer a função pública, além de ser deportado para a África. O local escolhido foi, tempos depois, reconhecido como estratégico.

O singular monumento militar encravado em um dos morros da margem direita do Rio Paraguai surgiu no contexto da fixação de limites entre Portugal e Espanha. Historicamente, também se insere no episódio da Guerra da Tríplice Aliança, quando foi tomado pelas tropas paraguaias e conquistado pelas tropas brasileiras anos depois. A ocupação foi reflexo do abandono da extensa fronteira brasileira.

O Forte de Coimbra é um representante da arquitetura militar portuguesa no século XVIII nos sertões ocidentais brasileiros e testemunho da ocupação do território nacional no período de guerras e indefinições de limites. A fortificação pertence ao Exército Brasileiro e é mantida pela 3ª Companhia de Fronteira, unidade militar da 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira, do Comando Militar do Oeste.

Leia Também

Relatos de viagem

A decoada, o armau e história de pescador no Pantanal do Nabileque

Mais Relatos de Viagem

Megafone

É impossível prever. O clima mudou tanto que os modelos climáticos programados para fazer previsões há dez anos já perderam muito dessa capacidade

Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP

Vídeos

As 10 cidades mais ricas em espécies de aves

Mais Vídeos

Eco Debate

RICARDO HIDA

Tudo que não é relevante, deixa de existir

ARMANDO ARRUDA LACERDA

O Jardim do Guia Lopes, laranjal da fronteira

NELSON ARAÚJO FILHO

Uma história de areias