Símbolo da presença portuguesa no Brasil e referência na defesa frente a ataques e invasões estrangeiras no século XIX, o bicentenário Forte de Coimbra ganhou um projeto de restauro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Mato Grosso do Sul. A fortificação, localizada no Pantanal do Nabileque e próximo à fronteira com a Bolívia, em Corumbá (MS), é administrado pelo Exército Brasileiro,
O órgão federal disponibilizou aproximadamente R$ 500 mil para contratação e execução do projeto. A estimativa é que as obras custem em torno de R$ 7 milhões, valor que deve ser captado pelo Governo do Estado e Exército Brasileiro e outras fontes de recurso.
Junto à iniciativa, o governo tem mais uma oportunidade de colocar em prática uma antiga proposta de explorar turisticamente o monumento, cuja história vai além da sua arquitetura e os episódios bélicos que participou: está localizado em meio à natureza, na beira do Rio Paraguai. Transforma-lo em produto turístico sempre esbarrou no desinteresse do Exército por ser área de segurança nacional.
Acesso por estrada
Em 1983, houve o planejamento da implantação do Projeto Parque Histórico-Turístico do Forte de Coimbra, que não avançou. Também houve a tentativa de criar cruzeiros fluviais de Corumbá ao forte, para contemplação e pesca esportiva, porém a distância também foi fator limitante. São exatos 200 km pela Hidrovia do Rio Paraguai que separam a cidade da fortificação.
Alguns barcos-hotéis chegaram a realizar passeios, no entanto o roteiro não vingou. A visita depende de autorização do Exército e até o ano de 2.000 não havia energia elétrica no lugar. A unidade do Exército tem um pequeno hotel de trânsito e na vila de civis é possível se hospedar em pousadas simples construídas de madeira e alugar um barco para pesca.
O acesso também foi um fator limitante: hoje se chega ao forte apenas pelo rio e avião. O Governo do Estado está construindo o acesso rodoviário, a partir da BR-262, aproveitando a seca prolongada na região alagável. Para abrir o atrativo ao público, no entanto, depende do Exército, de um roteiro bem planejado, boas acomodações e, principalmente, o interesse do trade turístico.
Patrimônio da Unesco
Os projetos de restauro anunciados pelo Iphan foram elaborados respeitando os valores estéticos e culturais das edificações que compõem o forte. As intervenções buscarão melhores condições de acessibilidade, adequações nos banheiros, restauração do piso e cobertura, ampliação dos quatro espaços expositivos, além de novas pinturas nas paredes internas e externas.
O superintendente do Iphan-MS, João Santos, destaca que o Forte de Coimbra foi uma das poucas fortificações brasileiras que teve atuação em confronto bélico, na Guerra do Paraguai (1864-1870), mas transcende os valores militares.
“O forte tem em seus arredores uma vila de moradores devotos à figura de Nossa Senhora do Carmo, que é a padroeira do bem, onde a comunidade comemora anualmente sua festa religiosa, uma das mais antigas em território sul mato-grossense”, explicou o superintendente. “O projeto que está posto é o resultado do trabalho dos técnicos do Iphan e Exército, em conjunto com a sociedade civil organizada”, completou.
Para a assessora cultural do Comando Militar do Oeste do Exército Brasileiro, Kauanna Lourdes Vasconcelos, o restauro do bem cultural deixará a fortificação apta a ser qualificada como Patrimônio Mundial da Unesco, título que o Brasil busca há alguns anos.
"As tratativas ocorreram ao longo de 2019 até 2023, com reuniões e visitas para o alinhamento entre Exército, comunidade e profissionais de engenharia e museologia, para a avaliação dos projetos produzidos", disse.
A fortificação
Tombado em 1974 e inscrito no Livro do Tombo Histórico; Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, o forte localiza-se no distrito de Coimbra, no município de Corumbá, na fronteira do Brasil com a Bolívia, e está inserido no contexto histórico das conquistas espanholas e portuguesas. Foi fundado em 13 de setembro de 1775 em local errado. O ponto escolhido era o Fecho dos Morro, já próximo de Porto Murtinho.
O erro geográfico valeu ao seu construtor, o capitão Mathias, severa punição pelo então governador da capitania de Mato Grosso, Luíz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Mathias foi destituído do comando da fortificação, perdeu a patente militar, foi proibido de exercer a função pública, além de ser deportado para a África. O local escolhido foi, tempos depois, reconhecido como estratégico.
O singular monumento militar encravado em um dos morros da margem direita do Rio Paraguai surgiu no contexto da fixação de limites entre Portugal e Espanha. Historicamente, também se insere no episódio da Guerra da Tríplice Aliança, quando foi tomado pelas tropas paraguaias e conquistado pelas tropas brasileiras anos depois. A ocupação foi reflexo do abandono da extensa fronteira brasileira.
O Forte de Coimbra é um representante da arquitetura militar portuguesa no século XVIII nos sertões ocidentais brasileiros e testemunho da ocupação do território nacional no período de guerras e indefinições de limites. A fortificação pertence ao Exército Brasileiro e é mantida pela 3ª Companhia de Fronteira, unidade militar da 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira, do Comando Militar do Oeste.
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