O tour pelas fazendas de cacau no Sul da Bahia proporciona ao turista conhecer a produção e matéria-prima do chocolate, além de experimentar várias opções da iguaria. A riqueza do cacau para a história da Bahia ultrapassou o caráter econômico e deixou marcas profundas na cultura e gastronomia das cidades do sul do estado.
Matéria-prima do chocolate e de outros produtos como cachaças, vinagre e artesanato, o cacau rendeu para seus produtores uma vida luxuosa até o declínio da cultura, no final da década de 80. Hoje, Ilhéus - expoente do cultivo do fruto no estado - e as cidades vizinhas atraem turistas interessados em conhecer as fazendas produtoras do cacau e viver um pouco da experiência que a rota do chocolate proporciona.
A economia cacaueira foi abalada em 1989, quando a praga vassoura-de-bruxa foi implantada propositalmente nas plantações e fez com que o produto se tornasse impróprio para o comércio. O fato foi considerado uma das maiores tragédias da região, trazendo desemprego e falência de muitos coronéis. Se antes o Brasil produzia quase 400 mil toneladas por ano, hoje a previsão é que esse número chegue a 274 mil, o que coloca o país na quinta posição dos maiores produtores. A produção brasileira é feita nos estados da Bahia, Pará, Espírito Santo, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, que concentram cerca de 60 mil agricultores do cacau.
Mas os fazendeiros estão aprendendo a lidar com a crise e buscam novas alternativas de fomento à economia e sustentabilidade.
O turismo nas fazendas de cacau tem sido uma das fontes mais rentáveis para os agricultores e oferece ao chocólatra a oportunidade de conhecer o processo de produção do fruto, além de experimentar o suco de cacau e, claro, comer chocolates 100% produzidos na região. Então prepare-se para esse roteiro saboroso!
Fazenda Yrerê
Com 200 anos, a Yrerê abriu suas portas para o turismo e há 11 recebe visitantes de várias partes do mundo, além de seguir na produção do fruto. O proprietário do local, Gerson Marques, conta que as visitas de quase 4,5 mil turistas recebidos por ano são mais rentáveis que os 40 mil pés de cacau plantados.
“Após a vassoura-de-bruxa sentimos que o nosso trabalho ficou desvalorizado e o turismo trouxe de volta a autoestima dos produtores, pois as pessoas vêm para as fazendas e elogiam a iniciativa do recomeço e da preservação da mata”, explica Gerson Marques. A fazenda também produz seu próprio chocolate, feito na Ceplac. O visitante pode degustar os doces e provar outras delícias no passeio de duas horas guiado pelos próprios trabalhadores da fazenda.
Fazenda Provisão
Há nove anos recebendo turistas, a Provisão tem 750 hectares e oferece um tour na plantação de cacau com informações da época, guiado por nativos da região. Com origem portuguesa, a fazenda chega a receber 500 turistas por mês que conhecem, entre outros atrativos, a Casa Sede, uma espécie de “casa-grande”, e a capelinha da fazenda.
A história do local também é narrada pela gastronomia das receitas clássicas passadas de mãe para filho, como a moqueca de cação e o feijão de leite, que entram no cardápio do visitante. O local oferece, ainda, seis leitos para quem deseja ficar hospedado.
Andrea Novaes, uma das proprietárias da Provisão, explica que o chocolate é o responsável pelo interesse das pessoas em conhecer o cacau.
“Minha mãe foi uma visionária e começou a abrir portas para quem tinha curiosidade em conhecer as belezas naturais da fazenda. Mas hoje, com a retomada da cultura do cacau, os turistas vêm porque querem conhecer a matéria-prima do chocolate. Tem sido um ano muito produtivo no turismo da Provisão”, explica a proprietária.
Além das fazendas, a rota do chocolate tem ganhado mais visibilidade por meio da 9ª edição do Festival do Chocolate e Cacau, que foi realizada em julho deste ano, levou 60 mil visitantes à Ilhéus e injetou R$10 milhões na economia.
Para estimular o roteiro, o governo baiano também estuda criar um projeto de implantação da Estrada do Chocolate em Ilhéus, com passeios por fazendas de cacau e locais produtores de chocolate, sítios históricos, cachoeiras e áreas de preservação ambiental.
História e ciência
Maias e astecas já valorizavam o cacau, que era utilizado como moeda. Ao longo do tempo, o fruto ganhou visibilidade em outras regiões do planeta e o chocolate aumentou ainda mais seu consumo, principalmente em países da América do Norte e Europa.
De olho na melhoria da produção de chocolate com mais qualidade no território nacional, Ilhéus recebeu, em março, o Parque Científico e Tecnológico do Sul da Bahia (PCTSul) e o Centro de Inovação do Cacau (CIC), que consistem em estudar e desenvolver estratégias no auxílio aos agricultores para uma melhor produção.
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