sexta, 17 de maio de 2024
PANTANAL

Dinheiro do BID não ataca a 'ferida' do Taquari

18 SET 2023 - 20h29Por SILVIO DE ANDRADE

Os milhões de dólares anunciados pelo Governo do Estado para o Pantanal, via Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mais uma vez contemplam apenas a região do Planalto (Norte do Estado), área adjacente ao bioma, deixando de interferir no ponto crônico, o assoreamento do Rio Taquari na planície. Os recursos (US$ 200 milhões) serão diluídos, em sua maioria, na área degradada pela monocultura, enquanto o baixo Taquari continuará sem intervenção e agonizando.

O consórcio que agrega nove municípios do Norte já recebeu milhares de recursos financeiros nas últimas décadas para ações que não resultaram efeitos na planície pantaneira, onde o assoreamento do Rio Taquari inundou mais de 1,5 milhão de hectares de pastagem e vegetação nativa, considerado um dos maiores desastres ambientais do país, além do impacto social e econômico. O rio chegou a secar na grande estiagem e volta a ser navegável em alguns trechos por milagre da natureza, tirando o colono pantaneiro do isolamento.

Desta vez, pelo menos, foi anunciado um (pequeno) percentual do recurso para cada município do bioma, porém não para a causa ambiental. Corumbá, por exemplo, vai receber dinheiro para construir um aterro sanitário (R$ 25 milhões), na entrada da cidade (próximo ao Clube do Laço), e três escolas e dois postos de saúde dentro do Pantanal (nas sub-regiões da Nhecolândia, Paiaguás e Nabileque), benefícios estes aguardados há décadas. Os projetos estão sendo elaborados pela prefeitura local, com a participação do Sindicato Rural.

Com o assoreamento, o rio perdeu seu leito e as águas invadiram os campos na "boca" do caronal. Foto: Sílvio de Andrade

Cartas marcadas

Para os pantaneiros, o BID Pantanal é mais um programa de cartas marcadas, concebido sem nenhuma discussão técnica envolvendo a comunidade afetada, direcionado apenas às ações de recuperação do solo, as quais não tiveram resultados concretos nos últimos anos, apesar da generosa soma de dinheiro liberada para aplicar “nas áreas degradadas e supressão das voçorocas (no planalto)”. O que há são denúncias de intervenções que agravaram os danos ao leito do Taquari em mais de 100 km.

Esse mesmo pantaneiro perdeu as esperanças em relação a volta do Taquari ao seu leito, depois de 40 anos de lutas no enfrentamento a ambientalistas, ministério público e omissão dos governantes para dragar o rio. O BID Pantanal colocou uma pá de cal na questão. As interferências políticas desprezam os projetos chancelados pela Embrapa Pantanal, quem representa a comunidade local na discussão do Taquari não tem nenhuma autoridade no assunto e o Pantanal não é prioridade para essa gente.

Leia Também

Relatos de viagem

A decoada, o armau e história de pescador no Pantanal do Nabileque

Mais Relatos de Viagem

Megafone

O meio ambientalismo nunca preocupou-se com o meio ambiente. Suas ações são histéricas ou fanáticas em defender interesses inconfessos

Armando Arruda Lacerda, pantaneiro

Vídeos

As 10 cidades mais ricas em espécies de aves

Mais Vídeos

Eco Debate

PAULO DE GODOY

Os desafios da sustentabilidade da jornada de dados para IA

ARMANDO ARRUDA LACERDA

Pantaneiros informam: respeitar não é idolatrar animais

FREDERICO BUSSINGER

Água, chuvas, enchentes: Lições aprendidas e a aprender