quinta, 02 de maio de 2024
SERRA DA BODOQUENA

COM TURISMO DE EXPERIÊNCIA, POUSADA MORRARIA ENVOLVE A COMUNIDADE

Lugar tem influências dos biomas Serra da Bodoquena, Mata Atlântica, Pantanal e Cerrado

30 AGO 2023 - 11h18Por SILVIO DE ANDRADE

Em Morraria do Sul, distrito distante 30 km de Bodoquena situado nos limites da Serra da Bodoquena com o Pantanal, uma pousada está fazendo a diferença ao promover um turismo de experiência integrado com as questões socioculturais e ambientais, a pequena produção agrícola e a rica história da comunidade formada, em sua maioria, por índios kadiwéu. A região tem atrativos como cachoeiras, trilhas, cavalgadas e o pôr do sol no mirante.

Idealizada por duas mulheres guerreiras com uma vida dedicada às causas ambientais e comunitárias – Ione Garcia Altieri, cacerense (MT), e Izabel Brunsizian (Bel), paulista -, a Pousada Morraria é mais do que um ambiente aconchegante e acolhedor. É um espaço rústico de muita energia e de sossego que transmite uma paz interior vibrante – onde os moradores encontram apoio em suas demandas básicas não atendidas pelo poder público.

Acomodações e decoração em estilo rústico tornam a pousada aconhegante e o visitante se sente em casa

“Temos que considerar a sustentabilidade local como um todo, desde a questão ambiental, o turismo responsável e a sobrevivência de pessoas em um lugar sem investimentos em infraestrutura e programas de desenvolvimento humano”, afirma Ione Garcia. 

As duas empresárias eram adolescentes quando se tornaram ativistas na área socioambiental, com atuação no litoral de São Sebastião, Ilha Bela e Ubatuba, em São Paulo, onde ganharam experiências no entendimento da lógica das comunidades e hoje transferem toda a bagagem adquirida em favor da Morraria do Sul, povoado fundado em 1970.

Observar o pôr do sol no mirante, onde se avista as terras dos índios kadiwéu e o Pantanal, é um dos atrativos locais

Pacotes terceirizados

Ione e Bel chegaram ao distrito há 26 anos, um período de decadência do distrito, e implantaram um projeto social pelo Instituto Ânima -entidade socioambiental e cultural que descendeu da SOS Mata Atlântica -, pelo qual atuaram no litoral paulista, e envolveram cerca de 134 crianças e jovens com atividades de teatro, esporte, artes, literatura e eventos, sem nenhum apoio governamental. Um dos assistidos foi o índio kadiwéu João da Silva Firmo, 31, hoje condutor de visitantes do parque e professor, com graduação em antropologia.

“Não fui criado na aldeia e vivia em conflitos, havia muitos preconceitos e eu queria ser branco. O projeto social me abriu as portas, deu uma direção. Sou um sobrevivente dessa turbulência e hoje busco o resgate do nosso passado em um lugar que foi enredo da guerra travada na década de 70/80 entre kadiwéus e fazendeiros”, conta ele. “Hoje é um lugar pacato, onde vivem cerca de 100 pessoas, com um grande potencial turístico”, completa.

Bel e Ione fazem a diferença no povoado, apoiando as causas socioambientais e agora fomentando o turismo de experiência

O indígena é um dos parceiros da pousada. O empreendimento não trabalha com roteiros, os quais são terceirizados. O turista reserva sua hospedagem e faz opções entre trilhas e aquatrekking pelo cânion do Rio salobra, no Parque Nacional da Serra da Bodoquena, guiado por João Firmo, ou aventurar-se por cachoeiras e trilhas no Poltrona Oito, o primeiro bus experiencie de Mato Grosso do Sul em implantação. A visita ao mirante para observar o pôr do sol, próximo da vila, é livre.

Um novo destino desponta

Quando chegaram a Morraria do Sul, Ione e Bel compraram o prédio da antiga rodoviária e algum tempo depois a morada passou a dar pouso para pesquisadores, professores e técnicos de universidades e órgãos ambientais que ali chegavam para estudar a região. Em 2021, elas decidiram montar a pousada por acreditarem no potencial ecoturístico de um lugar que mistura natureza exuberante, a rica cultura Kadiwéu e histórias e lendas do povoado.

Projeto Poltrona Oito proporciona hospedagem no ônibus e na antiga sede da fazenda: luau, céu estrelado, trilhas e cachoeiras
Pousada: muita madeira reciclada e objetos antigos

“Estamos lutando para fazer da Morraria um novo destino, mas com olhar no território, um turismo de vivência com a natureza, as tradições locais, a vida no campo, valorizando a produção local, seja o artesanato ou a agricultura familiar. Não queremos ser apenas um local de hospedagem a mais”, explica Bel. 


Na semana passada, a pousada recebeu um grupo de 27 professores e pesquisadores de universidades de todos os estados, coordenado por Paulo Boggiani (USP) e Patrícia Mescolotti (UFMS), numa preparatória para um simpósio de geologia realizado em Corumbá, e o envolvimento da comunidade ficou bem explicito.A pousada adquiriu toda a produção de ovos e outros insumos locais, como mandioca e queijo, para a alimentação dos visitantes. Contou também com a parceria da Poltrona Oito para hospedagem e com sua equipe para café e refeições. Na ocasião, o sanfoneiro Moacir Pedroso, da etnia kadiweu, foi convidado pela pousada para apresentar o chamamé para o grupo, mostrando um pouco da cultura local.

“O que a pousada oferece ao turista são as acomodações, num total de 18 leitos. Temos uma cozinha completa à disposição do cliente, porém, se ele ou o grupo hospedado querem café da manhã e refeições, nós contratamos uma pessoa da comunidade para cuidar da cozinha”, detalha Ione. “O nosso trabalho voluntário como integrantes da OSC continua no apoio às causas sociais e ambientais do lugar. Somos uma pousada parceira dessas causas, e isso é nosso diferencial!”

Rota Pantanal Bonito:
Bonito Convention
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Mais informações:
Pousada da Morraria
Poltrona Oito
Parque Nacional da Serra da Bodoquena
 

 

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