sexta, 26 de abril de 2024
PATRIMÔNIO

CATEDRAL MAIS ANTIGA DE MS REABRE APÓS RESTAURAÇÃO

Igreja é um dos símbolos religiosos e patrimônio histórico da Capital do Pantanal

27 MAR 2022 - 19h45Por REDAÇÃO

Interdição por seis anos, as portas da Catedral de Nossa Senhora da Candelária, em Corumbá, foram reabertas após obras de restauração de todo o histórico prédio. A cerimônia religiosa reuniu autoridades civis, eclesiásticas, militares e foi presidida pelo bispo diocesano João Aparecido Begamasco. Localizada em frente à Praça da República, centro da cidade, é uma das igrejas mais antigas de Mato Grosso do Sul, inaugurada em 1885.

A matriz foi construída por Frei Mariano de Bagnaia no século 19 e, desde 2017, é Patrimônio Histórico e Cultural de Corumbá. Em 2021 foi tombada pelo governador Reinaldo Azambuja como Patrimônio Histórico Material de Mato Grosso do Sul. Mais de R$ 2,2 milhões – recursos dos governos federal e estadual e do município - foram investidos na restauração completa. As intervenções buscaram valorizar a estética original e incluem pintura, piso, elétrica, hidráulica e recuperação interna da torre e dos sinos.

Cerimônia religiosa de abertura. Foto: Renê Márcio Carneiro

Cerimônia emociona

O templo foi erguido com elementos da arquitetura eclética pelo polêmico pregador imperial Frei Mariano de Bagnaia, onde se deu a heroica retomada de Corumbá durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), quando a cidade foi ocupada por tropas paraguaias por três anos. Em seu altar, destaca-se um brasão da coroa portuguesa, o que indica as influências europeias no bem, e guarda também uma imagem de Nossa Senhora da Candelária, padroeira da cidade.

O ritual católico de reinauguração contou com a participação do arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, e iniciou-se com uma procissão levando a imagem da santa da Igreja Nossa Senhora da Caacupê de volta à catedral. Na praça da República, onde uma quermesse foi preparada pela diocese, o cortejo foi muito aplaudido pela população que já aguardava o início da missa.

Imagem de Nossa Senhora da Candelária retorna ao tempo, com participação de populares e militares. Foto: Clóvis Neto

A abertura do portão emocionou os fiéis. Durante a solenidade, dois momentos também foram ovacionados pelos presentes: a entrada da imagem da santa e o acendimento de todas as luzes da Igreja, feita já na fase final do rito litúrgico. Com a matriz toda iluminada, expondo seus adornos e imagens revitalizados, a população pode contemplar toda a beleza histórica de um dos templos mais antigos e famosos do Estado.

Praga do Frei Mariano

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária abriga diversas relíquias religiosas e curiosidades. As paredes medem de 60 centímetros a dois metros e meio de espessura, uma das quais guarda uma curiosidade: próximo ao altar principal, do lado esquerdo, está o túmulo de Dom Vicente Maria Priante, fundador da congregação das “Irmãs de Jesus Adolescentes”, sepultado em 1894.

Frei Mariano: abandonou a cidade e suicidou-se em São Paulo

Logo na entrada do templo, uma pia armazena água benta, fruto de doação à paróquia por uma tradicional família corumbaense, há mais de 100 anos. Na parte interna local santo, há um confessionário datado de 1874, onde Frei Mariano ouvia os fiéis. Entre as relíquias está um conjunto de quatro sinos de ferro fundido, instalados na época da fundação na torre da catedral.

Primeira missa após a reabertura do templo. Foto: Renê Márcio Carneiro

Neste mesmo local destaca-se um relógio, que entrou para o folclore popular após episódio lendário. O objeto teria sido o pivô do desapontamento de Frei Mariano com o povo corumbaense, gerando uma lenda ainda hoje no imaginário popular. Conta-se que o pároco, herói da guerra, durante a qual foi torturado, decidiu abandonar a cidade, rogando sobre ela uma praga: Corumbá entraria em decadência enquanto suas sandálias, jogadas em local não sabido, fossem encontradas.

Atração turística

Desde a interdição de seu prédio, em 2016, quando grande parte da estrutura de gesso do teto caiu, iniciou-se um longo processo de restauração. Em 2017, o templo foi protegido por meio do tombamento provisório através de pareceres técnicos favoráveis e aprovados pelo Conselho Estadual de Cultura.

Com o tombamento definitivo, a catedral, por meio de convênio do Governo do Estado com a Prefeitura de Corumbá, recebeu da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) o aporte financeiro de R$ 288.245,31 para complementar a ambientação do local com a sonorização e climatização, contribuindo assim com a reabertura das celebrações eucarísticas.

Símbolo religioso e histórico, igreja deverá ser aberta à visitação. Foto: Clóvis Neto

Coordenador da força-tarefa responsável pela conclusão dos serviços da Igreja, o vice-prefeito e engenheiro Dirceu Migueis Pinto, destacou o empenho da prefeitura e a parceria fundamental do Governo do Estado para a conclusão do projeto. “Foi uma união muito grande da administração municipal que, juntamente com o Governo do Estado e a Diocese de Corumbá, conseguiu avançar”, destaca.

O padre e pároco da catedral Júlio César Monaco, por sua vez, lembrou que a Igreja deve se tornar mais um atrativo turístico da região. “A Matriz de Nossa Senhora da Candelária é um patrimônio de Corumbá e do Mato Grosso do Sul. É uma obra de arte e por isso já estamos dialogando com a Fundação da Cultura para a ocupação, não só religiosa, desse espaço”, afirmou o pároco.

Já o titular da secretaria estadual de Cidadania e Cultura, João César Mattogrosso, ressalta o compromisso da gestão estadual com o setor cultural. “Estamos muito felizes com a entrega da matriz, que é um marco para a história de Corumbá e que com certeza será um grande atrativo turístico e cultural do município. A gestão estadual deixa um legado de investimentos para cultura sem precedentes”, enfatiza.

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