A noite da virada de ano é, tradicionalmente, um espetáculo de fogos de artifício colorindo o céu de Campo Grande. Apesar da beleza, neste ano, foi disseminado pelas redes sociais o pedido para que não fossem utilizados fogos com barulho nas comemorações, em razão de animais domésticos, idosos, crianças pequenas ou com autismo, que podem se assustar com o som.
Outro aspecto que muitos podem não saber é que os fogos também afastam as araras-canindé (Ara ararauna) da cidade. As aves que são conhecidas da população e vistas com frequência sobrevoando a Capital, tendem a se afastar após a noite de fogos e rojões, conforme o monitoramento do Instituto Arara Azul.
“A gente sempre vê um bando de araras voando, mas, quando fizemos o monitoramento, encontramos somente sete durante todo o dia”, disse Neiva Guedes, presidente do instituto e professora de pós- -graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp.
Conforme a especialista, esse estudo foi feito pelo segundo ano seguido em Campo Grande e observa o comportamento das aves nos dias seguintes ao réveillon. Foi observada uma diminuição de aves na cidade nos dias posteriores aos fogos de artifício. Neste ano, o monitoramento aconteceu na quarta-feira (2).
“A gente acredita que o barulho espante as araras para longe. Elas têm audição maior que a nossa. Elas devem ter sentido o estampido dos fogos muito mais que a gente”, explicou.
Convivência
A pesquisadora ressaltou ainda que as aves devem voltar ao longo do mês. Apesar disso, ela acredita que os fogos não alteram a rotina das aves em seus ninhos. É comum ver araras saindo de seus ninhos neste período e, conforme a especialista, o motivo é que esta época do ano coincide com o fim do período reprodutivo das araras-canindé, que partem dos ninhos depois que os filhotes vão embora.
“Araras são extremamente cuidadosas. Elas não abandonam seus filhotes”, explicou, afastando qualquer possibilidade de casais terem partido pelo susto dos fogos de artifício.
Na Capital, não é difícil encontrar pessoas que convivam com os pássaros em sua região. A servidora pública aposentada Marlene Gamarra de Almeida, 63 anos, vive há cerca de cinco anos com as araras-canindé na região de sua casa, no bairro Santo Antônio. Ela conta que era comum observar a revoada dos pássaros, que já tinham seus próprios hábitos.
“Isso acontecia todas as tardes, quase ao anoitecer. No inverno, elas voavam sempre no início da manhã”, contou.
A aposentada ressalta ainda que não era apenas ela que se encantava com as aves na região. “Quase toda a vizinhança observava a revoada delas”, disse.
As araras-canindé são um dos símbolos já consagrados da Capital. Conforme a presidente do Instituto Arara Azul, Campo Grande abriga cerca de 189 ninhos cadastrados e monitorados. Em 2018, foram registrados mais de 150 nascimentos de araras-canindé. Na atualidade, apenas 21 ninhos continuavam em monitoramento em razão dos filhotes que permaneciam nos recantos.
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