Desde o início da Modernidade, acreditávamos que tínhamos domínio sobre a natureza. Exploramos recursos naturais à exaustão, consumimos desenfreadamente. A humanidade - reles mortais aos líderes globais – sequer levou a sério os sinais de esgotamento da natureza. Cientistas, ativistas e pessoas mais atentos, por décadas foram apelidados de “ecochatos”. Em pouco mais de um século, conseguimos a façanha de ficarmos “obsoletos” em menos de uma semana – mas aprendemos pouco, quase nada sobre como sermos simbióticos com a natureza. Avançamos muito tecnologicamente, perdemos de vista o essencial: poluímos o ar que respiramos, a água que bebemos, os oceanos, diminuímos a biodiversidade, levamos à extinção, ou perdemos de vista mais de 500 espécies de animais do Planeta. As mudanças climáticas se apresentam como o “grito” de um planeta em exaustão.
Agora, o jogo virou. Estamos numa década em que nos tornamos vulneráveis, testemunhando enchentes, estiagens prolongadas e tornados com cada vez mais frequência, demonstrando um desequilíbrio climático que reflete nossa desconexão com as leis que regem a natureza. O pretenso domínio sobre a natureza, estabeleceu uma relação de controle como recurso e matéria – quando deveríamos pensar como vida que pulsa junto de nós, dentro de nós. Essa ciência não implica em subjugá-la, mas numa simbiose entre nós e a natureza que nos permitisse a construção de saberes diversos.
É muita prepotência de nossa parte acreditar que podemos existir no planeta às custas da exaustão dos recursos naturais. É uma insanidade acreditar que esses recursos seriam infinitos. Muitos até são renováveis, porém, isso não significa que o processo de renovação ocorra na mesma velocidade do nosso consumo.
Não importa se você acredita em mudanças climáticas, em crises climáticas, conspirações, eras glaciais, apocalipse, narrativas, o que quer que seja. Uma coisa é fato: as precipitações climáticas estarão cada vez mais frequentes, intensas e instáveis. O planeta vem aquecendo a proporções mais elevadas em função da acelerada atividade produtiva, industrial e humana.
A partir de agora, precisaremos pensar e agir focados na Resiliência e Regeneração. Daqui para frente, governos, empresas, terceiro setor, sociedade civil e cada um de nós precisará agir nesses dois movimentos, de modo a estabelecermos condições para o presente e futuro.
Resiliência:
Para enfrentar os desafios pós-eventos climáticos: gestão de crises, reconstrução de casas, comunidades, cidades;
Para recomeçar de maneira adequada, integrada com os imperativos humanos e da natureza;
Para repensar as cidades, os espaços de modo a avaliar os desafios e estabelecer políticas públicas e investimentos que reúnam condições para monitorar e se preparar para mitigação dos efeitos provocados por eventos climáticos intensos;
Para reestruturar negócios de modo a se antecipar à materialidade dupla, ou seja, os negócios afetam as dimensões ambientais, e serão cada vez mais afetados pelos efeitos da natureza;
Para cada um de nós, que precisará estar mais atento aos desafios climáticos, sobre o próprio cotidiano e sobre a própria vida. Hoje, centenas de famílias no Rio Grande do Sul estão fazendo migração climática: são pessoas que não se sentem mais seguras voltando para onde viviam há décadas. Elas se juntam as 32 milhões de pessoas que já migraram no mundo em um ano.
A Resiliência deverá estar na gestão pública, privada e no cotidiano das pessoas, nas dimensões físicas, comportamentais e materiais.
Regeneração:
O segundo movimento a ser dado pela humanidade, é o de regenerar a natureza e a nós mesmos, enquanto viventes do Planeta Terra. Isso inclui:
Agir de um modo consideravelmente mais sustentável;
Consumir itens que realmente precisamos – não pelo que desejamos - de maneira responsável e cuidadosa com o planeta e com as pessoas. Para se ter ideia, temos roupas em lixões capazes de vestir 6 vezes a população mundial.
Empresas portadoras do futuro serão aquelas que investem em novos materiais menos poluentes, que fabricam produtos que não geram lixo, apostam na transição para energias limpas e ecoeficientes;
Economias Regenerativas, novos negócios capazes de regenerar a vida do planeta - rios, oceanos, solo, fauna e flora.
Em síntese, enquanto humanidade em sociedade, precisamos pensar concretamente sobre como mitigar os efeitos do que já está acontecendo, como podemos monitorar novos eventos para nos anteciparmos e sermos mais resilientes.
E ainda há tempo, para buscarmos a regeneração da vida: nossa e do planeta – somos um – em unidade, estabelecendo uma interação de simbiose e colaboração mútua.
*Doutora em Administração e referência para ESG. Fundadora da Plataforma Nobis focada em projetos regenerativos socioambientais.
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