sexta, 26 de abril de 2024

Morre seu Taíca, um dos pioneiros do turismo em Bonito

05 NOV 2021 - 12h46Por BOSCO MARTINS

Morreu nesta última quinta-feira (4/11), aos 84 anos, seu Taica, um dos pioneiros do turismo como negócio em Bonito. A causa da morte não foi divulgada, mas o empresário vinha tratando as sequelas de um pós-covid 19 que o havia deixado debilitado. A informação de sua morte, foi confirmada pelo neto Rafael, que cuidou do avô até o seu final e rapidamente divulgada por amigos nas redes sociais.

Na década de 90, seu Taica investiu no seu próprio empreendimento, e criou uma das agências pioneiras no turismo de Bonito, onde ele vendia seu próprio passeio. Bonitense da gema, seu nome de batismo era Osterno Prado de Souza. Ele se divertia me contando a origem do nome que vinha do Latim e o significado seria "Santo da igreja Católica".

Osterno também segundo seu Taíca significava sua marca no mundo! "Sempre alerta, agilidade, recursividade, sintonizado com o mundo e espírito aventureiro". Segundo ele, o nome caracteriza a sua personalidade. De empresário de turismo a baileiro, de agente dos concursos de miss Bonito a escriturário, de promoter das boas festas de antigamente a ex-vereador...quem não conhecia o seu Taíca em Bonito? Na cidade e nas redes sociais a repercussão de sua morte foi imediata.

O guia de turismo Clêndisso Rodrigues se despediu do amigo dele e do pai: "Vá em paz guerreiro velho. Osterno Prado de Souza o Taíca. Amigo de longa data do meu pai, pelos bailes da velha Bonito-MS. Caraí Jorge tá por aí também". O topógrafo Sérgio Rosa da Silva escreveu em seu adeus: "sempre que o encontrava falávamos um pouquinho e ele sempre teve um tapa forte nos nossos ombros. Meus sentimentos aos familiares, Deus o tomou pra Ele." Márcia Martinez, funcionária pública e pedagoga declarou: "Que triste, faz parte da história de Bonito."

Outro amigo Jorge F de Carvalho postou: "Triste....quando cheguei em Bonito em 1982, já no primeiro dia fui na Viva Maria Dancing Show, a discoteca do nosso saudoso Taíca....bons tempos....Bonito aos poucos vai perdendo sua identidade, com a perda de tanta gente que aí viveu nos tempos áureos. Uma pena.... que Deus o acolha!!" Jonnhy Xavier Monteiro Braga também deixou seu último adeus: " Descanse em paz meu amigo... viva Maria está guardada em nossa memória junto com você e dona Naides."

Pra quem como nós o conheceu sabe: o seu Taica foi de tudo um pouco ou de um pouco, Tudo! Um verdadeiro e legítimo personagem da história Bonitense. Merecedor de todas as honras e homenagem do seu povo e sua gente. Quando chegamos em Bonito há três décadas, eu e minha esposa Márcia, compramos a casa do saudoso Quirino Areco, na Pilad Rebuáh entrada da cidade. Fica antes da praça da liberdade, e vizinha da residência de número 2111, onde morava o Taica e dona Naides e onde surgiu uma das primeiras agências de Bonito: a "Taica Tour."

Ali os primeiros turistas eram recepcionados pelo Taíca. Um homenzarrão, de pele morena e cabelos escuros e com a história do lugar na ponta da língua. A empatia foi imediata e a troca de idéias eram constantes. "As cachoeiras do Taíca" era o seu melhor produto onde o turista levava de graça as "histórias de Sinhozinho," cujo cemitério e igreja ficam no caminho e ao lado de suas "famosas cachoeiras" no rio Mimoso. A parceria durou desde aqueles dias de outrora e hoje quando recebemos a notícia de sua partida, depois de um ano marcado por perdas, sentimos aquela dor que marcam os amigos queridos na despedida derradeira.

Bonito perdeu um homem bom, um idealista. De uma gente, cada vez mais singular, difícil de se encontrar! É muito triste lidar com a morte! Fomos vizinhos e amigos e o carinho que sentimos por ele é enorme. Nunca iremos esquecer de como sua companhia era agradável, sempre uma pessoa disposta a colaborar e muito bondosa.

Da última vez que o vimos já andava meio baleado, se queixando da partida repentina de sua amada Naides e de sua filha Vanja, mais duas vidas, das 600 mil levadas pela Covid 19. Deixo ao meu bom amigo e vizinho, esse trecho do poema do Manoel de Barros e que tem um pouco da cara e lembrança de seu Taíca. Apaixonado por sua terra e águas do seu lugar que tão bem soube divulgar e conservar eu o homenageio com Menino do Mato.

" Penso com humildade que fui convidado para o banquete dessas águas. Porque sou de bugre. Porque sou de brejo. Acho agora que estas águas que bem conhecem a inocência de seus pássaros e de suas árvores. Que elas pertencem também de nossas origens. Louvo, portanto, esta fonte de todos os seres e de todas as plantas. Vez que todos somos devedores destas águas. Louvo ainda as vozes dos habitantes deste lugar que trazem para nós, na umidez de suas palavras, a boa inocência de nossas origens."

Descanse em paz, grande guerreiro! Bonito sentirá a sua ausência e de dona Naides!

(*) Jornalista, escritor, poeta, empresário e cidadão bonitense

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