terça, 23 de abril de 2024
AMOLAR EXPERIENCE - II

APRENDIZADO COM A NATUREZA NAS TRILHAS DA ACURIZAL

28 JUL 2022 - 11h50Por DÉBORA BORDIN/FUNDTUR MS

Após a carinhosa recepção em Corumbá, do belo passeio pelo Porto Geral regado à poesia de Manoel de Barros, canções em viola de cocho, de um belíssimo pôr-do-sol, da euforia da festa do Banho de São João no dia anterior, do amanhecer na expectativa da chegada à Serra do Amolar e das visitas pelo caminho, a equipe desembarca na Reserva Acurizal depois de uma manhã inteira navegando pelo Rio Paraguai.
 
Acomodações impecáveis e um almoço delicioso preparado pelas queridas Joana (Jojô) e Cláudia foram só o começo dessa etapa do Amolar Experience, que ainda traria muitas surpresas. O programa de turismo do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) recebeu jornalistas, influenciadores e profissionais do turismo em junho deste ano para apresentação e validação de roteiro. A ação teve parceria da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (FundturMS), SebraeMS e Operadora Pure Brasil.

Pôr-do-sol na Acurizal. Foto: Débora Bordin

 
Reconhecimento da área
 
A tarde começa com uma pausa após o almoço para a famosa ‘siesta’, hábito comum nas culturas espanhola e italiana e apreciado também lá pelas bandas pantaneiras. Ao final do dia, uma breve trilha nos arredores da Acurizal para que todos se acostumassem com alguns habitantes da região, mas que são muito importantes na cadeia alimentar: os mosquitos.
 
Como são muito presentes no começo da manhã e no fim da tarde, a dica para manter os mosquitos afastados o máximo possível é usar roupas claras, mangas longas, calças, sapatos fechados, chapéu, lenço, repelente e muita parceria para ajudar o amigo ao lado quando ele vira alvo. Mas, passado o ‘susto’ dos pequenos insetos voadores, o dia termina com mais um pôr-do-sol maravilhoso (daqueles que tingem o céu de todas as cores quentes da paleta) e com um jantar delicioso da Jojô (falaremos dela em breve).

Pegada da onça-pintada, na Trilha Sul. Foto: Débora Bordin


 
O terceiro dia de viagem começa com café da manhã reforçado e roupas adequadas para enfrentar o sol e os mosquitos. Dessa vez o destino é a Trilha Sul, onde logo no início vimos pegadas fresquinhas de uma onça-pintada. A vontade de avistá-la era grande, assim como o medo de dar de cara com ela pelo caminho. Então, seguimos atentos.

 
Na subida da trilha e no primeiro mirante do morro já começamos a ver, dessa vez de cima, a imensidão do Pantanal. No segundo mirante tivemos a certeza dela e o cansaço da subida nem era mais sentido. Nosso guia, o Adriano, fazia cada momento ser especial e impressionante, até mesmo quando olhávamos admirados para ‘a imensidão’ e ele chamava nossa atenção também para o buraquinho feito na terra pela formiga-leão, que na verdade é uma vespa. Ela cria uma armadilha para se alimentar de outros insetos quando ainda é uma larva. Segundo ele, observar a sagacidade do bichinho era ‘curiosidade e brincadeira da infância pantaneira’.

Trilha Sul da Acurizal: vivência incrível. Foto: Débora Bordin

 
Após a pausa para a contemplação, para as fotos, filmagens e muitas reflexões, descemos o morro e ainda conhecemos um pequeno rio de águas que ficam transparentes, quase azuis, em grande parte do tempo. Pena que não estavam assim no nosso tempo.
 
De volta à Acurizal, pausa para o almoço, para um banho de piscina merecido (sim, tem piscina no meio da Serra do Amolar), algumas fotos e postagens nas redes sociais (sim, tem internet no meio da Serra do Amolar). E mais para o meio da tarde a nossa parada era na comunidade tradicional pantaneira Barra do São Lourenço, onde conheceríamos o trabalho das mulheres do projeto Renascer.
 
Turismo de base comunitária
 
Fomos recebidos pela ribeirinha, descendente da etnia Guató, catadora de iscas e agora artesã, Leonidas Aires de Souza. Dona ‘Eliana’, como gosta de ser chamada, nos mostrou as bolsas, chapéus, jogos de cozinha e outros artesanatos feitos com as fibras do camalote (aguapé), muito carinho e muita vontade de preservar a arte pantaneira passada entre gerações.

Apresentação do Projeto Renascer, na comunidade do São Lourenço. Foto: Débora Bordin

 
Já Leonora Aires de Souza, vice-presidente da Associação de Mulheres Artesãs da Comunidade Tradicional da Barra do São Lourenço - Renascer, conta que o projeto mudou muita coisa na vida de cerca de 15 mulheres da região. “Agora temos mais tempo dentro de casa, para cuidar da família e das nossas coisas. Antes a gente saía às 5h da manhã e voltava só aí pelas 3 horas da tarde com os baldes de caranguejo, que nos machucavam as mãos com suas garras”.
 
De maneira simples, ela explicou que “a Catarina Guató, nossa irmã mais velha, aprendeu a fazer esses artesanatos com a sogra dela, a Josefina, mãe do cacique Severo da aldeia Dourada. Aí ela passou para a gente e nós passamos os ensinamentos para nossos filhos, para não deixar morrer. Por isso o projeto chama Renascer”.

Leonora Aires, artesã guató. Foto: Felipe Mortara

 
As mãos calejadas dessas mulheres, machucadas pelos caranguejos, agora são menos maltratadas com a ajuda de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) fornecidos pelo Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul (MPT-MS), e bem utilizadas para tecer os artesanatos que complementam a renda e encantam turistas que visitam a comunidade.
 
Voltamos à Acurizal, cada um com seu artesanato na sacola, e a noite chega com mais um momento especial. Começamos a entender o tamanho do trabalho do Instituto Homem Pantaneiro com uma breve apresentação do médico-veterinário Geovani Tonolli, mais conhecido como Capixaba, e que é o gestor de Áreas Protegidas do IHP.
 
Ele nos falou que o Instituto coordena vários programas importantes como a “Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, Cabeceiras do Pantanal, Felinos Pantaneiros, Brigada Alto Pantanal, Memorial do Homem Pantaneiro, além do Amolar Experience, que fizemos parte.
 
Foi um dia de muita informação, que antecedia outro de muitas emoções. Acompanhe o próximo episódio em “Pantanal é o lar do maior felino das Américas”.

A seguir: “Amolar Experience: O Pantanal é lar do maior felino das Américas”
 

 

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