Desde que vim morar em Campo Grande (MS), há mais de 14 anos, sempre quis conhecer a Chapada dos Guimarães, no estado vizinho. Em minha cabeça ecoavam desde a adolescência os versos da canção ‘Na Chapada’, de Tetê Espíndola, onde ela espichava “Chapada dos Guimarãããessss”. Isso lá nas longínquas terras gaúchas, de onde o Mato Grosso parecia ficar do outro lado do mundo e quando eu nunca poderia imaginar que um dia viveria aqui. Mesmo com essa vontade, o tempo foi passando e a Chapada continuava mera desconhecida.
Quando decidi mudar do Estado, pensei que não poderia ir embora sem efetivamente visitar essa parte tão importante, conhecida e bonita da região que foi meu lar durante mais de uma década. Seria imperdoável, uma vez que morei apenas três anos em Manaus e foi tempo suficiente para conhecer as grandes atrações da Amazônia. E também não me perdoava porque as maravilhas da natureza exercem seus encantos sobre mim.
O rasante pelas terras mato-grossenses tinha ainda outro apelo: uma amiga de adolescência – quase uma mãe – mudou-se pra lá há mais de duas décadas e nunca mais a tinha visto. Era juntar os dois motivos, pegar a mala – uma bem pequena, mais pra mochila, porque o roteiro é de aventura – e botar o pé na estrada.
Tangará da Serra - O destino inicial da viagem foi Tangará da Serra, morada da minha amiga e local que há muito me saltava aos olhos por conta de suas muitas cachoeiras. Depois de matar as saudades dos amigos e ser recebida com delícias como um café da manhã que só um sítio pode oferecer, fui conhecer a cachoeira do Salto das Nuvens, a mais famosa das muitas que o município tem. Um bom começo, num ponto turístico que não é de passagem, mas sim um local para se ficar o dia inteiro desfrutando daquele espetáculo da natureza.
Distante pouco mais de 20 quilômetros do centro da cidade, a cachoeira é abundante, extensa e linda. E é de longe a queda d’água com mais infraestrutura que já conheci; mais até que as Cataratas do Iguaçu – tanto no lado brasileiro quanto no lado argentino - e que qualquer outra das muitas que conheço, entre elas as de Presidente Figueiredo, no Amazonas, cidade identificada como a terra das cachoeiras.
As águas abundantes do Salto formam um lago com uma área extensa de baixa profundidade, coisa de 30 a 40 centímetros. Perfeito para se instalar uma cadeira e passar o dia curtindo a energia daquele lugar. Bom pra garotada também. Para atender ao turista, o local tem uma infraestrutura de bar e restaurante coberto muito bem montada, com vista para a queda d’água, sendo que parte desta estrutura fica dentro do lago. Ao lado do restaurante é possível tomar um banho gelado e revigorante em um fiapo da cachoeira onde a pressão permite manter-se embaixo da queda. E se o visitante quiser, pode se hospedar por ali, porque também tem serviço de hotelaria.
Nobres - O destino seguinte não foi planejado na saída de Campo Grande, mas atendia outra grande vontade que tinha. Na companhia do casal de amigos, fomos conhecer Nobres, o ponto turístico que concorre com Bonito por conta de suas águas de um cristalino impressionante. Do mesmo modo que no mundialmente reconhecido ponto turístico sul-mato-grossense, as águas de Nobres – que na verdade tem seus atrativos no distrito de Bom Jardim – têm essa qualidade por conta da presença abundante de calcário no solo.
Ainda que o slogan dos folders seja provocativo (Nobres não é Bonito. Nobres é lindo), não me atrevo a entrar na rivalidade entre mato-grossenses e sul-mato-grossenses, mas arrisco dizer que as belezas se equivalem. As águas e nascentes de Nobres são tão impressionantes como as de Bonito, o que é possível perceber em pontos turísticos como o Balneário Estivado, nossa primeira passagem, ou no Aquário encantado, onde é possível mergulhar e flutuar com cardumes de piraputangas e dourados. Ali, debaixo d’água, deixando o corpo flutuar na correnteza do rio, encontrei um modo do tempo parar. E parece que ele para mesmo naquela água azul e transparente, com nascentes borbulhantes de águas que brotam das rochas. Impressionantemente lindo!
Depois do mergulho, um almoço regional com feijão tropeiro, farofa de banana, peixe frito e outros pratos regionais. Uma delícia. E o melhor de tudo: os preços são acessíveis. Mas, apesar da organização dos pontos turísticos, o distrito de Bom Jardim, distante cerca de 40 quilômetros de Nobres, ainda carece de infraestrutura para atender aos visitantes, à exemplo de lanchonetes. Depois de trocar uma ideia com os guias do local – e confirmar que Salto das Nuvens é uma das cachoeiras conhecidas com mais infraestrutura – e de nos certificar que não poderíamos visitar naquele dia a cachoeira Serra Azul, nossa pretensão inicial, seguimos viagem para a Chapada.
Lago Manso - No caminho, uma parada no Lago Manso, uma represa do Rio Manso, para conhecer de passagem a infraestrutura que rodeia este outro ponto turístico badalado de MT. As margens do lago são tomadas por edificações que exploram a paisagem linda e as águas calmas, propícias para os esportes aquáticos. Dali, seguimos rumo à cidade de Chapada, que com seu perfil turístico, de lojinhas de artesanato e vida tranquila, oferece uma boa estrutura para os visitantes.
Chapada dos Guimarães - E foi de dentro da cidade mesmo, do mirante Morro dos Ventos, que numa manhã ensolarada realizei meu sonho de ter aquela vista magnífica retratada nos versos da Tetê Espíndola. Lá estava ela: de cima do paredão eu finalmente contemplava aquela imensidão de verde a se perder no horizonte. Coisa linda!!! Queria mais era ficar ali o dia inteiro admirando aquela paisagem. Uma energia imanente e uma vista magnífica que, desse mirante, pode ser contemplada em vários ângulos, o que faz a visita ser ainda mais marcante.
Por mim eu ficaria ali o dia inteiro, mas a região oferece muito mais e nosso tempo estava contado. Então deixamos o Morro dos Ventos e seguimos para a Cachoeira do Marimbondo, distante cerca de 5 quilômetros do centro da cidade e acessível a partir de uma trilha e descida íngreme. Ali também eu ficaria o dia inteiro se me permitisse o tempo. Que delícia de lugar! Uma queda generosa, formando um lago represado por pedras, rodeado por mata nativa, convidando para um banho. Mas o roteiro tinha mais.
Não poderíamos passar pela Chapada sem conhecer a famosa Véu da Noiva, cachoeira que visitamos já no caminho de volta para Cuiabá. Interditada há alguns anos depois de um acidente que vitimou uma pessoa, a queda d’água só pode ser vista de frente, quase de cima já que ela fica em nível bem abaixo do mirante. Mas é lindíssima a cachoeira, desfiando suas águas por um imenso vale formado a partir da queda. Ali também é impossível dar uma olhada rápida. A paisagem pede contemplação.
E com ela me despedi de Mato Grosso, encerrando um tour rápido mas inesquecível, deixando aquela vontade gostosa de querer voltar. O Estado é grandioso e tem locais de beleza e singularidade ímpar, ainda pouco conhecidos e desfrutados pelos brasileiros.
* Jornalista
Quer contar sua experiência de viagem? Neste espaço você compartilha histórias, aventuras e emoções de viajantes que encontram nos destinos desconhecidos, ou redescobertos, um pouco de si. Envie o relato (com fotos) para redaçã[email protected]
Leia Também
Gabi viveu o deserto e o céu mais estrelado do mundo