quinta, 25 de abril de 2024
DIÁRIO DE BORDO v

Enfim, Ushuaia, El Fin Del Mundo! Agora, mais 3.100 km até Buenos Aires

28 JAN 2019 - 16h35Por DORI E ADRIANA PERES

O casal de motociclistas Dorianey (Dori) e Adriana Peres, 49 e 48 anos, em viagem pelo Paraguai, Argentina e Chile desde o dia 5 de janeiro, estão retornando a Campo Grande depois de chegarem ao extremo Sul argentino, fronteira com o Chile, na Patagônia.

O objetivo da viagem era Ushuaia, cidade turística visitada por milhares de brasileiros. Eles passaram por Ushuaia no dia 22 e estão a caminho de Buenos Aires, distante 3.100 km. Depois, cruzarão as fronteiras Argentina-Uruguai e Argentina-Paraguai-Rio Grande do Sul-Paraná, entrando em Mato Grosso do Sul.

Serão 28 dias pilotando uma Big Trail (BMW), R 1200 GS Adventure, por 12 mil km. Dori e Adriana amam a estrada e há cinco anos se aventuram por lugares extremos, acumulando experiências e, principalmente, vivendo a vida de uma forma espetacular, entre emoções, desafios, paisagens paradisíacas, frio abaixo de zero...

Mais uma etapa a ser vencida

No dia 20, eles cumpriram e etapa mais difícil: enfrentar o trecho da Patagônia para chegar a Ushuaia, depois de passar por Punta Arenas, entrando novamente no Chile. Arenas é um dos principais hubs de locomoção para os turistas que decidem visitar a Patagônia, especialmente o Parque Nacional de Torres del Paine.

Capital da região de Magalhães, Punta Arenas disputa o título de cidade mais austral do mundo: enquanto os chilenos juram de pés juntos que são eles que ficam no município mais meridional do planeta, os argentinos contestam e dizem que Ushuaia é a verdadeira detentora desse posto.

“E fica então a pergunta, vale a pena? Essa resposta fluirá da alma do motociclista como um grito de liberdade: SIM!!!”, relata Dori no seu diário que transcrevemos abaixo. O caminho para Buenos Aires, pela Rodovia Panamericana (Ruta 3), são mais 3.100 km, o que dará um total de 10.150 km rodados.

City tour por Ushuaia

A viagem para a capital argentina reservou muitos imprevistos, como a chegada de ventos a 70 km/h, obrigando uma parada providencial na aduana de San Sebastian. (Sílvio Andrade)

Acompanhem o diário de bordo:

Enfim, Ushuaia!

Ao chegar ao portal de entrada da cidade algo de muito especial acontece. Inexplicável mesmo. Tento assim acertar sentimentos, mas as palavras saem erradas... não! não tem como expressar tamanha conquista.

Foram 6.943km até aqui. Muito esforço, chuvas intensas, calor sufocante, frio congelante, sol soberano nos céus patagônico; ventos tão fortes que nos amedrontavam; animais diversos (guanacos, coelhos, cordeiros... muitos), estradas de rípio (temido pelos motociclistas), desgaste físico intenso...

E fica então a pergunta, vale a pena? Essa resposta fluirá da alma do motociclista como um grito de liberdade: SIM!!!

Paisagem estonteante ao longo da Ruta Ushuaia-Buenos Aires. Foto: Bruna Cazzolato Ribeiro/O Viajante

É mágico a sensação de conquistar o Ushuaia. El Fin del Mundo!!!

Sendo assim, já que as palavras se tornam tímidas, quero agradecer a Deus por nos ter concedido a realização de tamanho feito; a minha fiel garupa, minha esposa Adriana, por ter suportado todas as adversidades por causa de um sonho, que se tornou realidade; aos amigos que nos acompanharam em cada diário de bordo.

Creio que vocês não fazem ideia do quão importante foram... não estávamos sozinhos, tínhamos vocês a cada nova amizade feita nas carreteiras patagônicas, que talvez jamais nos encontremos novamente...
Agora... e agora?!?! Bem, descansar da primeira parte da batalha, e depois tomar o rumo de casa.

Um dia de passeios 

Passado a euforia da chegada, era dia de passeio, afinal, já que estamos no Fin del Mundo, vamos aproveitar.

Trajeto de Ushuaia a Buenos Aires, pela Panamericana

E já tem vários passeio e regiões a serem exploradas, em especial no inverno com a estação da neve. Em nosso caso, que era chegar ao Ushuaia, e com apenas um dia para passeio, resolvemos fazer a visita em mar para ver os pinguins e afins (aves, leões marinhos, etc), além da bela vista que se tem da cidade. E assim o fizemos.

O frio foi incansável, como se é de esperar para região que se considera a mais a austral.

Coisa curiosa da região é que se vê muitas homenagens ao período da guerra das Malvinas. A Guerra das Malvinas foi um conflito militar entre Argentina e Reino Unido, ocorrido entre 2 de abril e 14 de junho de 1982. Em 2 de abril de 1982, as forças armadas da Argentina invadiram as Ilhas Malvinas (Ilhas Falklands para os britânicos), situadas a 464 km da costa argentina. Como toda guerra... todos perdem. 
Abraços...

Ventania de assustar

Era chegada a hora de partir. Certo de que muito não tínhamos visto. Mas, dizem que a partida deve ser sempre a vontade de voltar e concluir o inacabado. Nos despedimos da hospedagem, uma vez que foi nossa primeira experiência com a modalidade em residência B&B - Bed and Breackfast, que foi muita boa, e dá uma atmosfera menos formal e mais familiar. Os donos eram um casal de jovens, simpáticos e atenciosos. O quarto e o banheiro excelentes, sendo esse último muito frio.

Assim, saímos cedo, no dia 22, em direção a Río Gallegos, 660km à frente. Nos despedimos das ruas cheias e geladas de Ushuaia.

Vamos para casa. Já estamos com saudade do calor e das crianças.

Leão marinho, atrativo nos lagos de Ushuaia

Mas, como era de se esperar, Ushuaia é Ushuaia... Em Rio Grande começam os fortes ventos... Eu disse fortes mesmos! De assustar! Rajadas laterais, mudando de lado a toda hora, frontal formando uma pressão que parecia negativa (impressão apenas para tentar descrever).

Difícil a pilotagem nessas condições. Estava muito pior que a nossa chegada. Tivemos que parar, por volta das 11h30, na aduana argentina, em San Sebastian, e ali ficamos, sem ter como ir, e nem voltar. Ventos de até 70km/h. E agora??? Seguir, esperar, parar, dormir...

Todas perguntas, sem resposta direta. Então, esperamos... sem tempo, só esperamos. Decidimos seguir por volta das 18h30. Coragem, pois o aplicativo mostrava que o vento diminuiria para a casa dos 37km/h, a partir das 19h30. Coragem... E minha garupa firme e forte deu a ordem: "Vamos com Deus". Haja coração.

Na passagem do Estreito de Magalhães, outra surpresa... Os ventos paralisaram por tempo indeterminado a navegação das balsas... imagina! frio, noite, vento, fila... Mas, na terceira balsa, com um pedido de quase choro, o capitão da embarcação nos deixou entrar. Uffffa!!!

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