A natureza é insubstituível e seu verdadeiro significado é a preservação das espécies. A omissão humana, no entanto, causa danos irreparáveis ao meio ambiente, como a destruição pelo fogo do ninho de tuiuiú que existia há mais de 40 anos na copa de um ipê roxo, ao lado da BR-262, no Pantanal de Corumbá.
O mesmo Homo sapiens, porém, tenta corrigir sua interferência no ecossistema e agora cria um ninho artificial para a ave símbolo do bioma.
A iniciativa é uma tentativa de resgatar o equilíbrio ambiental do local e manter o atrativo turístico então natural. Quem não se sentiu seduzido por aquele “troféu”, trafegando pela estrada, e fez seu registro fotográfico ou, simplesmente, contemplou um presente da mãe natureza?
O mesmo fogo que destruiu 29% do Pantanal também apagou da memória o ninho que resistiu a vários impactos, inclusive a instalação de um canteiro de obras no seu entorno.
Esse ninho era observado desde a década de 1980, quando o traçado da rodovia por pouco não o atingiu.
Localizado entre o Buraco da Piranha e a ponte sobre o Rio Paraguai, num raio de 50 km, comprovou o que dizem os cientistas: os tuiuiús são fiéis ao local de nidificação. Por décadas, se reproduziram no mesmo local, com os filhotes se tornando um atrativo entre os meses de setembro e novembro. No ano passado, nasceram quatro deles, uma benção!
Estrutura de concreto
Agora, depois da sua destruição, ocorrida em setembro (início da reprodução da espécie), especialistas em natureza tiveram a feliz ideia de criar uma alternativa para substituir a estrutura criada sobre trançados de gravetos.
Como o tronco da árvore foi comprometida, o biólogo Walfrido Tomas, da Embrapa Pantanal, sugeriu à Fundação de Meio Ambiente de Corumbá o projeto alternativo, que foi aprovado com a construção de uma torre, ao lado.
Com a parceria da empresa Energisa, a estrutura de concreto com 12 metros de altura vai dar suporte ao ninho artificial metálico, que ganhou material inicial (gravetos) para induzir o casal de tuiuiús a reconstruí-lo e adotá-lo.
Tomas se inspirou nos ninhos artificiais na Europa, onde são comuns, e no projeto das araras azuis conduzido pela bióloga Neiva Guedes. “Não há experiência prévia com essa espécie, então vamos aguardar”, diz ele.
Por enquanto, o novo ninho ainda é uma incógnita: os pesquisadores monitoram a área e não constataram nenhum avistamento de aves. Talvez porque a área de entorno foi descaracterizada pela seca, reduzindo a capacidade de alimentação.
Fogo criminoso?
O sucesso da iniciativa, contudo, não se limitará a aceitação do novo ninho. A falta de alimentação no local, destruída pelo fogo ou aniquilada pela seca, é a grande questão, segundo especialistas em fauna.
As lagoas no entorno secaram, portanto, não há comida (peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos, que fazem parte da dieta do tuiuiú). “O ninho era estratégico e oferecia um raio de visão maior em relação aos predadores”, atesta o biólogo Thomaz Liparelli.
Resta esperar e torcer para que o ninho artificial não se torne apenas um projeto a mais incorporado ao relatório de sustentabilidade da empresa privada parceira, ou apenas em monumento vivo. A chegada das chuvas pode dar uma resposta, recompondo e repovoamento as lagoas que margeiam a rodovia
Ainda se discute se o fogo que destruiu o ipê não foi criminoso, pois concentrou -se ao redor da árvore. E mais: por que a prefeitura de Corumbá não monitorou o ninho durante os incêndios para preservar um patrimônio natural criado por lei municipal em 2011?
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