terça, 10 de setembro de 2024
CAMPO GRANDE

TERRA DE OPORTUNIDADES, EFERVESCÊNCIA CULTURAL E QUALIDADE DE VIDA

24 AGO 2024 - 18h09Por EDMIR CONCEIÇÃO/Agência 24h

Beirando 1 milhão de habitantes, segundo recontagem do IBGE, Campo Grande completou 125 anos de emancipação do município em 26 de agosto. Segue preservando seus traços históricos e faz questão de cultuar tradições trazidas pelos imigrantes. Da mistura de raças e costumes nasceu a identidade da cidade, que também ganhou o nome de Morena devido ao solo avermelhado e ao clima tropical.

Com paisagens deslumbrantes, praças, parques e pontos turísticos que mantêm viva a cultura e a sua história, a Cidade Morena, como foi apelidada, tem muito a oferecer e contribuir com a qualidade de vida de seus moradores e exemplos de sustentabilidade aos visitantes. 

Sobre a sua história permanece a curiosidade sobre a origem do nome. São duas versões: a primeira está relacionada à existência de um vasto campo na região sudoeste da vila. Já a segunda, diz que José Antônio falava para os visitantes que “o campo é grande”, referindo-se ao tamanho do território.

A cultura é muito diversa, rica e efervescente, por reunir elementos de diversas tradições e costumes, trazidos pelos povos portugueses, africanos, paraguaios, libaneses, japoneses, sem contar a cultura regional dos vários estados brasileiros e a herança indígena. Na capital são quatro aldeias – Água Bonita, Noroeste-Kaiowá, Inápolis e Marçal de Souza – urbanizadas, mas conectadas como extensões das etnias que vivem em seus territórios de origem.


A troca das reservas naturais pela vida na cidade não foi opção, mas sim necessidade. De qualquer modo, os indígenas preservam todas as tradições e assim permitem que a mestiçagem de costumes mantenha a diversidade que caracteriza a identidade cultural de Campo Grande.

Não é por menos que uma das curiosidades de Campo Grande são as diversas colônias de imigrantes que se espalham pela cidade, como a expressiva colônia japonesa originária da ilha de Okinawa Kenjin. Teria sido fundada nos anos 1920, porém existem indícios que mostram que antes dessa época já existiam colônias desses imigrantes. atraídos por oportunidades ou em fuga da guerra...

Sustentabilidade

A possibilidade de contemplar animais na natureza e vislumbrar no horizonte imponentes torres indicando o progresso faz de Campo Grande uma das melhores cidades para se viver. Principalmente porque o progresso se busca não mais sem medir impactos, mas de forma harmônica, dentro de um novo conceito de desenvolvimento – a sustentabilidade.

De dois anos para cá Campo Grande afirmou em sua característica, também, a consciência ambiental, incorporando práticas sustentáveis e assim justificando seu aspecto cênico moldado pelos parques e monumentos que valorizam os recursos naturais.

Parque das Nações Indígenas. Foto: Mário Hada

Um exemplo de grande visibilidade é o Parque das Nações Indígenas, onde está instalado o Bioparque Pantanal, emoldurado como espaço da ciência e do conhecimento dos ecossistemas naturais e que precisam, de todas as formas, ser preservados às gerações futuras.  O maior aquário de água doce do mundo é, sem dúvida, o principal monumento de Campo Grande capaz de contribuir para a consciência ambiental, atraindo, por isso, grande número de visitantes, inclusive turistas de outras partes do planeta.

O Bioparque Pantanal foi mencionado pela Revista Time como um dos 50 melhores lugares para se visitar, justamente pela grandiosidade como elemento ecológico, comportando 230 espécies de peixes (80% originários do Pantanal). O maior dos tanques, o Neotrópico, representa uma floresta inundada da Amazônia, com troncos de grandes árvores, cipós e plantas submersas. Alguns reservatórios abrigam espécies da África, Américas, Ásia, Europa e Oceania. Isso possibilita aos visitantes conhecerem a representação de diferentes ecossistemas do mundo, como a floresta boreal asiática.

Gestos tão simples como o passeio na Avenida Afonso Pena e a roda de tereré, repetidos por gerações, se tornaram tão emblemáticos que o local, além de palco político e de manifestações populares, virou cenário das expressões artísticas. E a cultura, tão miscigenada, se assentou também na revitalização do rico patrimônio histórico, valorização da culinária, do artesanato e da produção intelectual, através da música, dos monumentos retratando a fauna dos Cerrados e do Pantanal e das artes plásticas com traços da bovinocultura.

O início

Primeiros dados sobre as origens de Campo Grande datam de 1867. Mas somente em 1872, vindo do Triângulo Mineiro, atraído pelas notícias de terras férteis, José Antônio Pereira aportou na região, montando um rancho com folhas de buriti à margem do córrego Prosa, onde se junta ao Segredo – hoje o Horto Florestal.

Casa onde morou José Antônio Pereira, fundador de Campo Grande, hoje Museu da História da cidade. Foto: Edmir Conceição

Aqui ele encontrou José Nepomuceno, que já possuía um rancho à beira da trilha, por onde boiadeiros passavam para ir até o município de Nioaque (ao Sudoeste) e Camapuã (ao Norte). 
No Instituto Histórico e Geográfico em Campo Grande há novas informações que indicam, segundo o historiador Hildebrando Campestrini, que os primeiros bandeirantes chegaram na região no século XVIII. Para a surpresa de muitos deles, já havia gente por aqui. 

“Desde caçadores, pré-históricos até índios habitaram por aqui”, diz o arqueólogo, Gilson Martins. 

Durante dois anos, o arqueólogo fez escavações na área do Parque das Nações Indígenas, descobrindo no local um dos maiores sítios arqueológicos de Campo Grande.

“Os índios também não tinham uma coexistência pacífica entre eles. Eram grupos e sistemas culturais bem distintos na língua, na mitologia, nos hábitos e também no espaço. Cada um tinha o seu território e o defendia como qualquer povo faz”, conta o arqueólogo sobre a área onde, coincidentemente, está instalado o Museu Dom Bosco – da História Natural, também conhecido como Museu do Índio. 

Campos de Vacaria

 “Uma légua a mais e entramos em um campo grande. Esta extensa campina constitui o vastíssimo chapadão de mais de 50 léguas de extensão.” Esta é a descrição de Campo Grande em 1867, feita pelo tenente Alfred Taunay – o Visconde de Taunay.

“Ele foi por cima de um morro comprido até onde, mais ou menos, fica a Universidade Católica Dom Bosco hoje. O caminho natural era passando aqui por esse terreno onde hoje fica o Colégio Militar”, conta o coronel e professor Francisco José Mineiro Júnior. 

Bioparque Pantanal. Foto: Reprodução Internet

Ninguém imaginava que a história tão distante poderia ter passado tão perto.  “É bom mostrar para os alunos que a história está no dia a dia. A importância dela não está em decorar um monte de datas e nomes, mas perceber o quanto esses nomes e fatos que aconteceram há 100, 200 ou 1 mil anos influenciaram no dia a dia”, ensina o professor. 

A história vista de perto parece ter deixado novas marcas. O padroeiro de Campo Grande é Santo Antônio até hoje. Fé trazida por José Antônio Pereira. 

Desbravamento

Toda cidade tem sua história ligada a um princípio, um porto ou uma estação de estrada de ferro.

Com Campo Grande foi diferente; nasceu em pleno sertão, por iniciativa do espírito arrojado e do pioneirismo de José Antônio Pereira.

A origem do nome Arraial de Santo Antonio vem de uma promessa feita por José Antônio a Santo Antônio de Pádua em razão de uma epidemia em Santana do Paranaíba (Bolsão), a caminho de campos de Vacaria. A promessa foi cumprida em 1877.

Após esse ano novas caravanas foram chegando ao povoado. A primeira escola foi aberta em 1889 pelo mestre José Rodrigues Benfica.

José Antônio Pereira nasceu em 19 de março de 1825, na cidade de Barbacena (antigo arraial de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo). Ainda jovem mudou-se para São João de Del Rei, onde se casou com Maria Carolina de Oliveira.

A existência de extensas áreas de terra devolutas ao sul da Província de Mato Grosso atraiu interesse de José Antônio Pereira. Em 4 de março de 1872 empreendeu sua primeira viagem vindo por fim a se estabelecer definitivamente pelos campos grandes de Vacaria. 


Emancipação

26 de agosto de 1899 seria um dia de festa na Vila de Santo Antônio de Campo Grande. Na igreja do protetor, o dois sinos dariam um som festivo. Aglomerações, foguetórios, churrascos, folguedos, entrariam pela noite ao som de catiras e polcas paraguaias. Afinal depois de antigas e insistentes reivindicações, o governo estadual assinava a resolução de emancipação da vila, criando o município de Campo Grande. 

Essa festa, entretanto, não aconteceu. Por uma razão muito simples: ninguém sabia.
Na época, não existia rádio, telefone estava longe. O telégrafo era um projeto que Rondon no começo do século faria a aventura de implantar. O correio já existia no papel, criado para a vila pela administração geral de Cuiabá, cinco anos antes da emancipação. Mas ninguém ficou sabendo… Pela falta de correio.

Após esse dia, Campo Grande iniciava a trajetória de pujança, atraindo cada vez maiores levas de habitantes de São Paulo, Paraná, Nordeste e região Sul.

A independência político-administrativa de Campo Grande veio em 26 de agosto de 1899, tendo como seu primeiro prefeito Francisco Mestre. Com a criação da comarca, em 1910, a cidade ganhou seu primeiro juiz – Arlindo de Andrade Gomes e o primeiro promotor de Justiça = Tobias de Santana. 

As ideias modernizadoras dos primeiros administradores influenciaram várias áreas, da pecuária ao urbanismo, e foi traçada a zona urbana com avenidas e ruas amplas e arborizadas.

A antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) teve, finalmente, papel indutor do desbravamento, com a ligação Leste-Oeste em 1914, integrando as bacias dos rios Paraná e Paraguai aos países vizinhos, fazendo de Campo Grande o grande centro de convergência. Com a criação do Estado em 11 de outubro de 1977, Campo Grande se torna Capital.

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