sexta, 19 de abril de 2024
PANTANAL

Sema e especialistas orientam não alimentar animais

06 OUT 2021 - 21h36Por REDAÇÃO

Para manter o equilíbrio do bioma pantaneiro, minimizar riscos de doenças aos animais e evitar a criação de hábitos negativos para a sobrevivência da fauna, a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema) orienta a não suplementação alimentar de animais no Pantanal neste momento.

Equipe técnica do órgão que monitora o bioma e os pesquisadores consultados avaliam que, com a redução de mais de 93% nos focos de incêndio no Pantanal Mato-grossense (comparado ao ano passado), a vegetação ainda consegue suprir as necessidades básicas dos animais como refúgios e alimentação, ao contrário do que afirmam organizações ambientais.

"Mesmo submetidas a um estresse hídrico histórico, as áreas não atingidas pelo fogo em 2021 apresentam condições de oferecer alimento natural e refúgio à fauna silvestre, conseguem receber os indivíduos que fugiram das áreas de incêndios e suprir suas necessidades alimentares", aponta a nota técnica.

Matéria publicada pela BBC News Brasil, ouvindo ativistas ambientais, no entanto, alardeia a questão do fogo e da seca extrema associada à falta de alimentos para a fauna, com a seguinte manchete: “Animais do Pantanal aprendem a ‘mendigar comida’ para sobreviver na seca”.

Na mesma reportagem, inclusive, opinião da bióloga e zoóloga Daniella França, da organização pantaneira Chalana Esperança, diverge das Ongs, dentre elas a Fundação Ecotrópica: os relatos ainda precisam ser analisados caso a caso e devidamente estudados para estabelecer uma relação causal.

“O que podemos fazer, por enquanto, é nos basear em situações que já tenham ocorrido no passado e, é claro, tentar ajudar com a dessedentação (combate à sede) e alimentação em locais estratégicos, como fizemos no ano passado, mas sempre aprendendo com os erros”, diz ela.

Cervo-do-Pantanal é um dos animais monitorados pelos técnicos da Sema de Mato Grosso

Do ponto de vista técnico, Daniella explica, isso passa por evitar ao máximo dar alimentos errados para alguns tipos de animais (por exemplo, alimentos que possam expor os bichos a bactérias às quais não estão acostumados) ou deixar a comida muito perto da rodovia Transpantaneira (onde os animais correm o risco de serem atropelados). Portanto, diz ela, a oferta de comida tem de passar pelo crivo de especialistas no ecossistema pantaneiro.

Impacto negativo à fauna

O parecer oficial da Sema-MT é assinado por especialistas da Coordenadoria de Fauna e Recursos Pesqueiros, Embrapa Pantanal, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Conforme a nota técnica, as observações em campo mostram que a fauna silvestre avistada mantém um escore corporal esperado para o período, não apresentando sinais visíveis ou significativos de desidratação e desnutrição que justifique a necessidade de interferência emergencial como a suplementação alimentar, dessedentação e translocamento dos animais silvestres, com exceção de casos específicos que foram identificados. 

A Sema alerta que qualquer ação ou interferência sem a devida avaliação técnica poderá impactar negativamente a fauna e o ambiente. A atenção deve estar voltada principalmente àquelas espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada, o cervo-do-pantanal, a ariranha e a arara-azul.

Voluntários e Ongs chegaram a criar campanhas de doação de comida para os animais: ilhas de alimentos se espalharam pela região

"Apesar de estarmos passando pela estiagem, que diminui a disponibilidade de água, a seca ainda é um evento que ocorre na estação climática prevista em situação normal do pantanal que é regulado por pulso de cheia anual, com períodos secos e chuvosos", cita o documento. 

Segundo a nota técnica, o Pantanal oferece alimentação natural e, exceto casos pontuais, não é indicada em hipótese alguma a suplementação alimentar aos animais silvestres. Entre os riscos, a transmissão de doenças, a habituação, a ceva, e alterações de comportamento social intra e inter específico, que prejudicam a habilidade da fauna silvestre na busca e captura do seu alimento natural.

“Qualquer interferência não deve estar associada a interesses humanos, que não seja o de preservar e conservar a fauna silvestre, nem movidos pela emoção, evitando prejudicar o sistema como um todo”.

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