O turismo histórico de Mato Grosso do Sul terá brevemente um forte produto, a Rota Retirada da Laguna, um dos episódios mais emblemáticos e sangrentos da Guerra do Paraguai (1864-1870), imortalizado na literatura pela pena de um de seus protagonistas, o tenente Alfredo Taunay, o Visconde de Taunay. A criação de uma rota passando pelos principais locais da fuga dos brasileiros está sendo discutida pelo governo estadual, municípios e o trade.
Já em 2015, a secretaria estadual de Cultura iniciou um levantamento histórico e do potencial turístico do evento da guerra que envolve vários municípios fronteiriços. Durante a realização do Festival de Inverno de Bonito, na semana passada, a proposta avançou com a realização de um seminário específico sobre um roteiro turístico internacional de visitação aos principais pontos onde ocorreu o embate, que completa 150 anos em 2017.
A Rota da Retirada da Laguna seria constituída aproveitando os resquícios históricos das regiões turísticas do Estado, como: Caminhos da Fronteira (Ponta Porã, Pedro Juan Caballero); Bonito-Bodoquena (Bela Vista, Jardim, Nioaque) e Pantanal (Corumbá e Coimbra). As ações de preservação da memória da Guerra da Tríplice Aliança, envolvendo universidades, governo, prefeituras e Exército, contribuem para sua efetivação.
Resgate da história
O diretor-presidente da Fundação de Turismo de MS (Fundtur), Bruno Wendling, explicou que será contratada uma consultoria especializada em rotas e roteiros para percorrer os municípios do Sul do Estado, fazendo um diagnóstico com as comunidades locais para aí se ter um cronograma de ações para a rota poder se tornar realidade. Wendling considera a ideia da rota uma oportunidade não só de negócios, mas de valorização e resgate histórico.
“A implantação dessa rota vai ser fantástica. É parte da nossa história, é mais um produto que agrega valor aos destinos já consolidados e valoriza os destinos históricos e culturais, vai conferir mais competitividade nessa área”, aposta ele.
O secretário estadual de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, esteve presente no seminário e disse que a rota é muito importante para os sul-mato-grossenses, porque confere um sentimento de pertencimento. “Aqui essa importância ultrapassa os limites dos 40 anos de Mato Grosso do Sul e se apropria de um dos acontecimentos mais importantes da história do país”, comentou.
“É importante manter a memória da guerra – acrescentou Nery -, para que ela não se repita de novo. Precisamos abrir as fronteiras, nos aproximar dos nossos irmãos da fronteira, porque eles estão próximos de nós, precisamos respeitar o outro”.
Fronteira, polo turístico
Nesse contexto, o envolvimento do Exército fortalece as ações para viabilizar o projeto. O capitão Krugerson Mattos, pesquisador da guerra, considera Bela Vista e outros municípios “o maior polo turístico histórico da fronteira e os brasileiros precisam conhecer isso”. Ele é um dos idealizadores da encenação do episódio da Retirada da Laguna, que acontece desde 1999 como uma forma de fortalecer a história e homenagear os heróis de guerra brasileiros.
Um dos debatedores durante o seminário, coronel Antônio Ferreira Sobrinho, chefe da Seção de Pesquisas Históricas do Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército, afirmou que o turismo militar pode ser enquadrado como um segmento do turismo cultural, “para apropriação de recursos naturais, de índole histórica e militar, que após um processo de transformação se tornam atrativos turísticos”.
A ideia do coronel Ferreira é que, a partir do livro “A Retirada da Laguna”, de Visconde de Taunay, a rota da Retirada da Laguna possa ser reconstituída para objetivos turísticos. “Os conteúdos militares são possíveis de serem integrados. Isto já está sendo feito em outros países, como em Portugal, por exemplo”.
Teatro a céu aberto
A coordenadora de Comunicação da Estrada Real de Minas Gerais, Daniele Teixeira, trouxe para o seminário a experiência do seu Estado. A Estrada Real possui mais de 1.600 km de extensão, sendo 75% de estrada de terra. Trata-se das três primeiras estradas oficiais do Brasil, ligando Paraty, Rio de Janeiro e o Arraial de Tejuco (Diamantina) à região de Vila Rica (Ouro Preto).
Foram caminhos legais com fiscalização e controle sobre a circulação de pessoas e mercadorias, que surgiram há mais de três séculos, ocasião da descoberta das reservas de ouro e diamantes. O objetivo de Daniele no seminário foi agregar a experiência da Estrada Real para colaborar na constituição da Rota da Retirada da Laguna.
As encenações de teatro a céu aberto da Retirada da Laguna, por iniciativa do Exército e pesquisadores, tem despertado a atenção da população e visitantes de várias cidades envolvidas no episódio, como Nioaque. No último dia 13 de julho, a simulação do trajeto da ofensiva e marcha feito pela tropa brasileira atraiu o público na praça da cidade, onde também esteve presente o governador Reinaldo Azambuja.
Estratégia equivocada
Retratada também em figuras de cera no Museu de História do Pantanal (Muhpan), em Corumbá, a Retirada da Laguna assumiu tamanha proporção e se tornou um dos acontecimentos mais polêmicos e discutidos da guerra por meio do sucesso literário da obra de Taunay, um dos 700 sobreviventes. A ofensiva arquitetada pelo coronel Carlos de Morais Camisão em território paraguaio causou a morte de 2.300 brasileiros.
A estratégia da invasão, em janeiro de 1867, foi desastrosa e equivocada. O fato de atacar o inimigo em seu território já contrariava toda a lógica da guerra, e o resultado não poderia ser outro, o erro foi fatal. Os soldados brasileiros foram acometidos por fortes investidas paraguaias, pela fome, pela defasagem estratégica e de logística e por vários tipos de doenças.
A retirada de Laguna ocorreu entre 8 de maio e 11 de junho de 1867.
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