quarta, 24 de abril de 2024
DEBATE

RETOMADA DO TURISMO DEPENDE DA VACINAÇÃO

Brasil precisa reposicionar a imagem no mercado internacional, cobra Bruno Wendling

02 JUN 2021 - 06h04Por AGÊNCIA SENADO

A retomada do turismo ocorrerá somente após a vacinação massiva da população contra a covid-19, exigindo a adoção de novos protocolos de segurança em todo o setor e a redefinição da imagem do Brasil em relação ao mercado externo, visto que o país não atrai nem 1% do fluxo mundial de turistas. 

Essa foi a avaliação dos especialistas que participaram de mais uma rodada do ciclo de debates sobre a retomada do turismo no pós-pandemia, promovido pela Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado (CDR). A discussão teve como tema “O Brasil na retomada do turismo internacional: estratégias para a ampliação de turistas estrangeiros no país".

Presente o presidente do Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo (Fornatur) e diretor-presidente da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur), Bruno Wendling.

Presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) e representante da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Alexandre Sampaio disse que a restrição nas fronteiras limitou o trabalho de captação de turistas internacionais. Ele afirmou que houve 88% de queda nas viagens internacionais e na América do Sul, citando dados da Organização Mundial do Turismo.

“A variável de queda não se consegue controlar mesmo com promoção. É um momento delicado para estimular consumidores de mercados internacionais a visitar o Brasil. Se tivéssemos um processo volumoso de vacinação talvez nós tivéssemos recuperação em julho. Estamos com aumento previsto [de chegada de turistas] só de 22%.”, disse.

De acordo com Sampaio, 20% dos especialistas em turismo sugerem que a recuperação poderia vir a ocorrer apenas em 2022, a partir da adoção de protocolos com países da América do Sul. Segundo ele, o ritmo ainda lento da contenção da covid-19 está gerando uma baixa confiança do consumidor no que se refere a empreender viagens, e a deterioração do ambiente econômico segue como um obstáculo que irá requerer inteligência e inovação para ser ultrapassado.

Ciclo de debates sobre a retomada do turismo, promovido pelo Senado, reuniu especialistas do setor

Para Sampaio, novos protocolos precisam ser implementados, melhor definidos e harmonizados entre diversos países. Ele disse que a biometria será uma solução amplamente aceita, assim como a tecnologia para entrada de dados sem contato, controle de gestos, digitalização de documentos sem toque e comandos de voz, as quais já estão sendo testadas.

“O novo viajante evitará locais superlotados, preferindo o interior e o campo. Além disso, as viagens de carro no modal rodoviário serão percebidas como uma forma mais segura de viajar. Haverá grupos que irão optar por viagens internacionais que não requeiram carteira de vacinação, e a ênfase nas viagens domésticas deverá suplantar as viagens internacionais”, estima.

Também são esperadas melhorias e inovações em quartos, aviões e qualquer espaço público que receba turistas. “Tudo isso impactará diretamente na escolha de um destino, voo ou estada. A higiene se tornará um critério tão importante no processo de tomada de decisão do viajante quanto o preço e a localização. É preciso intensificar o marketing digital, otimizar procedimentos de embarque, investir em capacitação sobre protocolos de segurança e higienização, disponibilizar ferramentas de apoio ao empresariado.”

Reposicionamento

Bruno Wendling declarou que o Brasil precisa reposicionar a sua imagem no mercado internacional, focar na inovação de novas ofertas e desenvolver soluções tecnológicas inéditas.

“De fato, é preciso mudar a imagem que o Brasil vem trabalhando há décadas e não é alterada no mercado internacional. Não vejo isso na composição da imagem do destino Brasil. A gente deve fazer uma ação coordenada. A vacinação precisa ser acelerada e ampliada para que a população tenha segurança em viajar", cobra.

"Mas é preciso reconstruir a imagem do Brasil, definir segmentos-âncora, os mercados prioritários e quais destinos brasileiros que o mercado emissor quer consumir. É preciso a adoção de planejamento estratégico, a definição de estratégias para redefinir produtos. Continuamos vendo os mesmos destinos trabalhados no mercado internacional”, alerta o presidente do Fornatur e e da Fundtur/MS.

Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo de MS: "a vacina precisa ser acelerada"

Turismo responsável

Diretor-presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional de Turismo (Embratur), Carlos Brito disse que, embora o turismo no Brasil tenha sido duramente afetado pela pandemia, assim como em outros países, o prejuízo poderia ter sido maior se o governo não tivesse tomado medidas adequadas. Ele afirmou que o Brasil foi um dos dez primeiros países do mundo a lançar o selo Turismo Responsável, como forma de permitir a realização com segurança de atividades ligadas ao setor,

“Até 85% dos voos domésticos em operação estavam em operação em dezembro passado; fomos afetados pelo início do segundo ciclo da pandemia. A Embratur realizou campanha para incentivar o turismo nacional. O Brasil tem vacinado rapidamente. Esperamos que a população economicamente ativa esteja vacinada até setembro de 2021. Somos o quarto país do mundo que mais ofereceu doses da vacina. À medida que mais brasileiros tenham sido vacinados, as atividades de turismo serão mais viáveis, com a reabertura de fronteiras e o retorno gradual de turistas”, comenta.

Para a retomada do turismo internacional, o presidente da Embratur disse que está prevista a participação do Brasil em feiras a serem realizadas na América Latina, em Londres, em Las Vegas, em Xangai e em Barcelona, embora haja imprevisibilidades em decorrência da pandemia. Estão previstos ainda a ativação de 15 mercados prioritários, eventos internacionais com jornalistas e influenciadores, abertura de unidades da Embratur em cada continente, além de ações de cooperação com a Espanha e a China.

“O motivo de o Brasil não ser tão competitivo é a falta de recurso. A Embratur tem potencial enorme, mas fica limitada a recursos que ela possui para a promoção do Brasil no exterior. A briga lá fora é de cachorro grande. Temos que colocar o Brasil na prateleira que ele merece. O Brasil tem a bola da vez.”

 “Renascimento”

Presidente da União Nacional de Conventions & Visitors Bureaus e Entidades de Destinos (Unedestinos), Toni Sando de Oliveira disse que o setor de turismo viverá seu melhor momento da história, pois, depois de tanto tempo confinadas em suas casas, as pessoas vão querer viajar. Segundo ele, “seremos todos tomados por um forte desejo de explorar e descobrir o mundo”.

“O turismo viverá uma renascença após a pandemia e seremos o setor que mais vai prosperar, porque somos uma indústria toda baseada no contato humano. Entraremos em uma fase histórica, onde isso será valioso e precioso. Nossa hospitalidade dará boas-vindas a todos, com nossa alegria e simpatia, típicas do brasileiro. E o turismo virá com uma só voz: 'Sejam todos bem-vindos ao novo mundo'. Assim que a pandemia acabar, estaremos presentes na vida das pessoas criando momentos inesquecíveis. Por isso é importante trabalharmos em união para fazer a retomada rapidamente, sem voltar para o passado, dando um salto para o futuro”, frisa.

O ano que vem, segundo Toni, será simbólico. “Serão os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922 e haverá o bicentenário da Independência do Brasil. Será preciso viajar, para perto ou longe, sozinho ou em família, para qualquer lugar”, declara, após traçar um paralelo entre a pandemia da covid-19 e o mundo que surgiu após a gripe espanhola, em 1918.

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