quinta, 28 de março de 2024
CORUMBÁ

Rastro de destruição de barragem chegará a 16 km

03 FEV 2019 - 21h02Por REDAÇÃO

O rompimento das barragens de alto potencial situadas no complexo do Urucum, em Corumbá, não carrearia a lama com rejeitos de minério e manganês para a cidade ou para o Rio Paraguai. Ambos estão distantes a, pelo menos, 40 km desses depósitos a céu aberto, que não são fiscalizados com critério pelos órgãos federais e podem afetar uma comunidade tradicional e varrer um ambiente de rica biodiversidade do Pantanal.

No caso de duas barragens que apresentam maior risco pelo impacto que causariam – a Gregório, da Vale, na Morraria Santa Cruz, e a Laís, da Vetorial, no Urucum -, a devastação ambiental seria de grandes proporções, atingindo áreas do bioma, na região do Jacadigo, e córregos de água cristalina do manancial subterrâneo que aflora na morraria. No caminho da lama, vivem hoje pequenos sitiantes, num total de 70 pessoas.

Em ambas as situações, as simulações realizadas pelas mineradoras com ajuda de computadores, em caso de um acidente, indicam que um desastre de proporções gigantescas não está descartado: dependerá do pulso de inundação da região pantaneira. No período de cheia, a lama poderia ser arrastada e atingir baias que se interligam e são berçários da ictioufauna. Mas cair no Rio Paraguai é uma possibilidade remota, descartada.

Lama de rejeitos da Gregório chegaria nesse ponto, rodovia BR-262, segundo estudos

Rota de destruição

A operação das barragens é acompanhada desde 2016 pelo Ministério Público Federal (MPF) e algumas medidas judiciais e recomendações serão determinadas, adiantou a procuradora da República em Corumbá, Maria Olívia Pessoni Junqueira, que presenciou a última vistoria. A ausência do Ibama e da Agência Nacional de Mineração (ANM) nessa inspeção, como responsáveis pela fiscalização, está sendo questionada.

A Barragem Gregório, com capacidade para 9 milhões de metros cúbicos de rejeitos – a Brumadinho era de 12 milhões de metros cúbicos -, está situada no topo de um grande vale, entre tantos que circundam a morraria de vegetação nativa. O desmoronamento de seus 34 metros de altura causaria uma pressão desproporcional, empurrando a lama de rejeitos por 16 km, informa estudos realizados pela Vale, chegando à rodovia BR-262.

Balneário do Menck recebe água do Piraputangas

No caminho, a lama se concentraria no Córrego Piraputangas, um dos principais da região, e atingiria três balneários – Lago Azul, Menk e Iracema -, passando pela portaria da mina a uma altura de 1,80 metros até se concentrar na BR-262, com pouco mais de três centímetros. O Parque Municipal de Piraputangas, cortado por um braço do córrego, também seria atingido. Com 1.930 hectares, abriga 94 espécies entre flora e fauna, com destaque para 39 plantas, 25 mamíferos e 13 répteis.

Moradores aflitos

Na explanação do plano de emergência apresentado ao grupo de trabalho do Imasul, que vistoriou as barragens no dia 30 de janeiro, técnicos da Vale afirmaram que “o pior cenário”, depois da cheia, seria um incidente num fim de semana. No sábado e domingo, os balneários lotam, triplicando o número de pessoas (200) que vivem na região. A lama não atingiria, no entanto, a comunidade do distrito de Maria Coelho, onde funciona uma escola.

Considerando a pulsação de inundação, essa “mancha” ganharia mais força, pela posição dos vales e depressões na planície, e formaria um corredor que se confrontará com a BR-262 (km 736) no trevo com a BR-454 (acesso ao Jacadigo e Forte Coimbra), passando pela Ferrovia Malha Oeste e a fazenda do empresário Alfredo Zamlutti. Região de rica fauna e flora, água abundante e criação de gado.

Técnicos da Vale explicam sistema de controle da barragem
Morraria e Jacadigo, região cortada pela BR-262

Situada mais abaixo da morraria do Urucum, a Barragem Laís também causaria danos irreparáveis por 7 km. A lama atingiria 12 residências (50 pessoas), vales com biodiversidade muito rica, os córregos Urucum e Arigolândia e também chegaria à BR-262, com possibilidade de contaminar uma das baias do Jacadigo, ao sul da rodovia. A barragem está no limite de sua capacidade – 800 mil metros cúbicos – e será elevada a 1,09 milhão de metros cúbicos.

Para quem vive na rota da mancha, os desastres humano e ambiental de grande magnitude causados pelas barragens de Mariana e Brumadinho deixaram os moradores em alerta permanente. Apesar do monitoramento 24h da Gregório, atestada pela Vale, a comunidade tradicional vive em pesadelo com o noticiário. A empresa mantém os moradores em treinamento em caso de emergência, porém eles temem perder tudo.

Barragem Laís, da Vitorial, está no limite e apresenta infiltrações, conforme vistoria realizada no dia 30 de janeiro

Alarme falhou

“A gente dorme de olho aberto, desconfiado desse monstro que fica lá em cima”, diz o presidente da associação de moradores, Jeison Corrêa de Oliveira. Ele afirma que a Vale dá atenção à comunidade, realiza visitas às barragens e faz reuniões de orientação, no entanto, a Vetorial é ausente. “A Vetorial nunca realizou um treinamento com a gente, só faz contaminar nossos córregos, e ninguém toma providências”, acusa Jeison.

Durante a vistoria do Imasul, a Vale apresentou um plano de evacuação dos moradores e funcionários, que inclui todos os procedimentos para situações de emergência e distribuição de cartilhas de orientação sobre as rotas de fugas, todas sinalizadas. No entanto, numa simulação realizada em novembro passado, o sistema de alarme (sirenes) da Barragem de Gregório não foi ouvido em alguns locais a 70 decibéis.

Sistema de dreno da Vetorial: riscos?

A Vetorial parece ser um caso à parte. Além do fato de não dar atenção aos moradores que podem ser atingidos por um acidente das barragens Laís e Monjolinho, está na mira do Ministério Público Federal e dos órgãos estaduais de fiscalização por descumprimento de normas. A vistoria em suas unidades revelou problemas estruturais preocupantes e a falta de um plano de atendimento emergencial aos moradores. A empresa prometeu se ajustar.

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