sábado, 20 de abril de 2024
DOURADOS

OS ENCANTOS DA IGREJINHA DE PEDRA, TESOURO ARQUITETÔNICO

Homenagem aos pioneiros torna-se ponto turístico e ganha amplitude por cicloturistas em redes sociais

29 AGO 2021 - 06h49Por NOEMIR FELIPETTO

Uma pequena igrejinha de pedra em meio a uma lavoura de grãos tornou-se um dos pontos atrativos de Dourados, no interior de Mato Grosso do Sul. Com estilo arquitetônico espanhol, homenageia famílias que deixaram o Rio Grande do Sul, para desbravar terras então mato-grossenses.

E lá se vão mais de 120 anos da chegada destes pioneiros, dentre eles os de sobrenome Mattos, que se deslocaram da longínqua São Luiz Gonzaga, localizada na Região das Missões, próxima da fronteira com Argentina. Aliás, a igrejinha foi edificada para homenagear esta família, que hoje é uma das maiores e mais representativas de Dourados e toda região fronteiriça de MS.

Com a pandemia da Covid-19, andar bike (bicicleta em inglês) virou uma opção de lazer e atividade física. E um dos principais roteiros dos cicloturistas é visitar a igrejinha. Distante pouco mais de 20 quilômetros da cidade (nas proximidades do campus da Universidade Federal da Grande Dourados e aeroporto), nos finais de semana chegam em grupos, fotografam e postam fotos em redes sociais. E como um ciclista que se preza, além de pedalar gosta de boas fotos. E os flashes vão para as redes sociais.

Matando a curiosidade

Aline Robles, bancária e que reside em Dourados há três anos, é praticante do cicloturismo. Ela conta que viu amigos publicar fotos, como a colega de trabalho Lívia Marin. Esta disse que a igrejinha era um local de relaxamento emocional, aliviando o estresse do dia a dia. Encantada, foi até lá. “Uma sensação incrível, um lugar deslumbrante”, disse Aline, que também postou em suas redes sociais fotos da visita.

Para a assistente social Patrícia Vieitas, o lugar é magnífico. Carioca, mas morando em Dourados desde 2011, visitou pela primeira vez em uma ensolarada tarde de domingo. Saiu de lá encantada com o que chamou de “tesouro arquitetônico”.

Outro atraído foi o servidor público Franz Mendes, apaixonado por fotografia, mostrou através de suas lentes a exuberância antes pouco divulgada. Conta que via amigos sempre postando fotos, então por se considerar um curioso nato, resolveu ir também. “Não perdi a oportunidade, fotografei sob vários ângulos”.

A também servidora pública Ana Fuchs é outra que constantemente vai a igrejinha. Descendente de pioneiros, diz que vivencia momentos de reflexão, “em busca de experiências especiais que se tornam sustentação para minha fé”, conta.

A Saga dos Mattos

Fernanda Becker, também professora disse que passou a pedalar a pouco tempo e costuma ir aos finais de tarde e relata vivenciar uma sensação de paz e harmonia.

A turismóloga e professora Alaíde Brum de Mattos resume que a caravana partiu nos idos de 1900, objetivando uma vida melhor. Neta de Amandio Mattos, conta que junto com o avô outras dezenas de pessoas viajaram por meses. Foram mais de mil quilômetros em carroças e carros de boi, sob a liderança de José de Mattos Pereira.

“Infelizmente muitos não resistiram a viagem, mas os que conseguiram chegar marcaram seus nomes na história, e realizaram o sonho de reencontrar paz e prosperidade nas novas terras”, relata a turismóloga. Na caravana também vieram ex-escravos e agregados da família Mattos.

O porquê da construção

A Fazenda Antolin Cuê, depois dos Mattos, foi de propriedade de Celso Muller do Amaral, que posteriormente vendeu a Mardônio Alencar. Este edifica a igrejinha ao lado do cemitério, em 1990. Alaíde disse que Mardônio mostrou-se arrojado ao identificar o cemitério como célula viva do patrimônio histórico de Dourados, em homenagem aos Mattos. “Sem dúvida foi reconhecido o papel da nossa família no contexto histórico da região.”

No cemitério estão sepultados, além de Amândio, Bento, Francisco, Clarinda, Piragibe, Jobe, José Augusto e Doralina, todos de sobrenome Mattos, além de outros. Depois de o lugar ficar mais conhecido, Américo Brum de Mattos, neto de Amândio e irmão de Alaíde, por conta própria, resolveu fazer melhorias no local, tornando o espaço mais aprazível.

Já existe um movimento que busca tornar o local patrimônio histórico e cultural. O jornalista João Carlos Torraca, também descendente dos Mattos, disse que Dourados conta com inúmeros pontos para visitação ainda desconhecidos ou pouco explorados, e diz que seria importante o poder público, por meio dos órgãos competentes, catalogar esses pontos e buscar meios para a preservação e conservação.

“A história de Dourados é vasta e riquíssima e temos não só o dever, mas a obrigação de preservá-la para as futuras gerações”, opina Torraca.

*Advogado e jornalista e adepto do cicloturismo

 

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