quinta, 25 de abril de 2024
NOVELA

Obras de artesã kadiwéu compõe cenário de 'Pantanal'

23 MAR 2022 - 10h51Por PRIMEIRA PÁGINA

Uma obra da artista plástica sul-mato-grossense e índia kadiweu Buga Peralta, 54 anos, deve aparecer com frequência na televisão de milhares de telespectadores brasileiros. Isso porque ela vai embelezar a fazenda do personagem José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira) no remake da novela Pantanal, que estreia dia 28.

Feita sob medida para a produção, a obra representa uma comitiva tradicional pantaneira e foi produzida em resina. “Foi a produtora de arte que entrou em contato comigo, não teve indicação de ninguém. Ela estava realizando pesquisas, achou meu trabalho e entrou em contato comigo”, relembra Buga Peralta.

A produção da novela divulgou pequenos detalhes do cenário e lá está a comitiva de Buga, que mora em Bonito, distante a 283km de Campo Grande. “Fiz uma comitiva pantaneira em resina, como se os peões estivessem atravessando uma baia. Eu já fazia trabalho, mas essa peça foi feita especialmente para a novela. Inclusive, eu entreguei pessoalmente”, conta.

Arte terena

Buga é só elogios para a equipe da Rede Globo e a produtora de arte, Mirica Vianna. “Uma pessoa maravilhosa, de uma generosidade imensa”.

Além da peça da artista plástica, a produção também incluiu cerâmicas terenas no cenário. Elas estão presentes na cozinha de José Leôncio e mostram a delicadeza da arte feita por indígenas de Mato Grosso do Sul.

“Uma coisa importante que temos que falar é que o Papinha [Rogério Gomes, diretor geral] nos pediu para que trouxéssemos a realidade do Pantanal para dentro do estúdio”, explica Mirica Vianna.

Longa história

Buga Peralta nasceu como Celair Ramos Peralta, na Aldeia Tomázia, da etnia kadiwéu, mas vive em Bonito há anos. Foi no município turístico de Mato Grosso do Sul que recebeu o apelido e começou a carreira na arte.

“Meu último trabalho mesmo, de carteira assinada foi no Aquário Natural. Trabalhei por quatro anos, até 1999. O turismo é muito gostoso, mas deixa a gente longe da casa. Meus filhos ficaram adolescentes, minha mãe estava de idade, e eu sempre na contramão, trabalhando sábado, domingo, feriado”, explica.

 

Um dia, Buga decidiu que não seria mais empregada de ninguém. “Busquei tentar fazer alguma coisa que eu pudesse trabalhar em casa e comecei. Primeiro eu costurava, mas sempre fui apaixonada por argila”, relembra.

Da paixão por argila surgiram as primeiras obras, ainda feitas no fogão a lenha. Logo o reconhecimento veio, com direito a exposição em museu. O carro-chefe de Buga sempre foi a representação do homem pantaneiro, que atravessa a planície alagável guiando os bois.

Volta por cima

“As comitivas surgiram em 2014. Teve um congresso mundial de turismo sustentável em Bonito e eu fiz a primeira. Os bois estavam ainda meio desengonçados, mas foi um sucesso. O dono de uma fazenda adorou e comprou. Eu fiz outra para o Sesc Camillo Boni, uma para o Instituto do Homem Pantaneiro e para vários pecuaristas”, esclarece.

Buga precisou realizar uma pausa na carreira quando fez um tratamento contra um câncer – hoje curado. “A comitiva, eu parei um pouco de produzir durante um tempo. Em 2017 minha mãe faleceu, eu tive um câncer, com o tratamento meu corpo debilitou um pouco, tive uma inflamação no ombro. Eu não estava conseguindo trabalhar. Agora estou voltando”.

E em grande estilo!

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