sábado, 20 de abril de 2024
POUCA CHUVA

O LONGO CAMINHO DAS ÁGUAS NO PANTANAL INDICA MAIS SECA

04 FEV 2022 - 08h55Por ROSANA SIQUEIRA/REDAÇÃO

Após enfrentar, no ano passado, os efeitos de uma das piores crises hídricas de sua história e mesmo com maior volume de precipitações registradas nos últimos dias, principalmente na região Norte do Estado, o Pantanal ainda deverá ter problemas decorrentes da escassez de chuva que atinge a região nos últimos anos. É o que apontam as informações do SGB-CPRM (Serviço Geológico do Brasil).

Maior planície alagável do planeta, localizada em três países (Brasil, Paraguai e Bolívia), o Pantanal vem enfrentando uma crise hídrica sem precedentes nos últimos anos. Com chuvas mais escassas, o período de estiagem, que geralmente acontece entre maio e setembro, tem se estendido ao longo do ano. Uma das preocupações tem sido quanto à falta de uma grande cheia do Rio Paraguai pode trazer de consequências para o bioma brasileiro.

Na última semana voltou a chover forte no alto Pantanal (Mato Grosso), com o rio apresentando elevação em Cáceres, e também aumentaram as precipitações na região Norte de Mato Grosso do Sul, com influências diretas no afluente Taquari, que desagua na planície (Corumbá). As águas do Taquari, Aquidauana e Miranda, no entanto, vão elevar o nível do Paraguai já em direção a Porto Murtinho, a 1.200 km de Cáceres.

Em Cáceres, o rio chegou a declinar na última semana de janeiro, chegando a 2,56m depois de elevar-se a 3,26m, no dia 14 daquele mês. Com as últimas chuvas, voltou a subir (3,15m). Em Ladário, mantém-se em alta (acima de 1,29m) e deve chegar a 1,50m, no final de fevereiro, segundo o SGB-CPRM. Murtinho está em 2,12m, com previsão de atingir 2,35m, em 20 dias. Nestas duas regiões a navegação comercial voltou a operarc, com restrições de calado.

Tronco das árvores, na margem, registram a altura do Rio Paraguai nas últimas cheias entre Corumbá e Cáceres

Chuvas insuficientes

Marcelo Parente Henriques, pesquisador do SGB-CPRM, que atua no Sistema de Alerta Hidrológico do Rio Paraguai, destaca que o período de chuvas na bacia, iniciado em outubro de 2021, vem apresentando volumes com intensidade e constância maiores quando comparado aos últimos três anos, porém insuficientes para retomar o ciclo de cheia.

“Isto já é um grande diferencial, entretanto, ainda é inoportuno afirmar que será o suficiente para uma recuperação plena do nível do Rio Paraguai, tendo em vista os baixos níveis registrados ao longo dos últimos três anos”.

O pesquisador compara a situação de estiagem nos anos 2021 e 2022. “Verifica-se que para os últimos dias, que não houve uma recuperação dos níveis, demonstrando um ano mais seco. A exceção é o rio Taquari, onde os níveis estão bastante altos, inclusive com a ocorrência de inundação na região, conforme os avisos de alerta (emitidos pela Sala de Situação do Imasul) nos últimos dias”, diz Marcelo Parente.

Nesta semana, o rio Paraguai vem apresentando a tendência de elevação de seu nível em Cáceres (MT), como também em Ladário e em Porto Murtinho, ambas em Mato Grosso do Sul. Porém, é importante ressaltar que esses valores de nível registrados ainda se situam nas proximidades da zona de atenção para mínimas, explica o pesquisador.

“Considerando as precipitações previstas para as próximas semanas, o rio Paraguai deverá continuar apresentando tendência de elevação do seu nível na maioria das estações de sua calha”, estima.

rio mirana seco_jan22Situação hídrica do Rio Miranda entre os municípios de Bonito e Miranda: nível inferior a dois metros, criando "praias" ao longo do leito

Importância das áreas úmidas

Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para o valor ambiental, social, cultural das áreas úmidas, a necessidade de sua proteção e os benefícios que proporcionam às pessoas, foi comemorado no dia 2 de fevereiro o Dia Mundial das Áreas Úmidas. O Pantanal é um dos principais elos desse complexo ecossistema.

As chamadas “áreas úmidas” são ecossistemas na interface entre ambientes terrestres e aquáticos, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais, permanente ou periodicamente inundados ou com solos encharcados. As águas podem ser doces, salgadas ou salobras, com comunidades de plantas e animais adaptados à sua dinâmica hídrica.

De acordo com o gerente de Recursos Hídricos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), Leonardo Sampaio, a grande importância das áreas úmidas é que elas abrigam várias espécies peculiares ou endêmicas destas regiões, ou seja, espécies que só vivem nestes lugares específicos.

“São regiões essenciais para os anfíbios, répteis e para as aves migratórias, que dependem desses locais para reprodução e migração, além de ajudar na redução das mudanças climáticas, pois estes ambientes retiram quantidades significativas de carbono do ar”, salientou Sampaio.

O Brasil possui 27 áreas úmidas com o título Ramsar, ou seja, parte da lista de sítios reconhecidos internacionalmente, após o tratado intergovernamental realizado na cidade iraniana de Ramsar, com o objetivo de promover a cooperação entre países na conservação e no uso racional das zonas úmidas no mundo.

Áreas úmidas são ecossistemas de altíssima relevância ecológica fundamentais para a manutenção dos estoques de água do mundo. São consideradas áreas úmidas toda a extensão de pântanos, charcos e turfas, várzeas, rios, pantanais, estuários, manguezais e até os recifes de coral.

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