quinta, 28 de março de 2024
ESTE ANO

Mais de 2 milhões de tartarugas devem nascer na costa brasileira

17 JUL 2019 - 07h12Por SUZANA CAMARGO/Conexão Planeta

Com tantas más notícias acontecendo na área ambiental do país, quando nós, no Conexão Planeta, nos deparamos com alguma novidade boa, adoramos celebrá-la e divulgá-la com entusiasmo no site.

É o caso do balanço parcial da temporada de reprodução das tartarugas marinhas 2018-2019, realizado e divulgado pelo Projeto Tamar/Fundação Pró-Tamar.

Até agora, são mais de 2 milhões de novas tartaruguinhas geradas por cerca de 24.201 ninhos ao longo da costa brasileira.

Segundo o levantamento do Tamar, o litoral do estado de Sergipe lidera o número de desovas com 10.486 ninhos, seguido pela Bahia com 8.442, Espírito Santo com 2.661 e Rio Grande do Norte, que contabilizava 828 ninhos até meados de junho. Há ainda os ninhos das tartarugas protegidas nas ilhas oceânicas de Fernando de Noronha-PE (169 ninhos) e Trindade-ES (1.615 ninhos).

Equipe do Tamar fazendo monitoramento na época da desova. Fotos: Projeto Tamar

As principais ameaças

Apesar da boa notícia e dos números promissores, os biólogos ressaltam que a sobrevivência das tartarugas ainda enfrenta muitos riscos. Entre as principais ameaças estão o uso de redes de pesca e anzóis*, nas quais muitas delas ficam presas e acabam perdendo a vida, a degradação das áreas de desova e à fotopoluição (presença prejudicial da iluminação artificial no local dos ninhos).

“Nesta temporada registramos cerca de 700 tartarugas-oliva mortas em Sergipe e no litoral norte da Bahia, na sua maioria animais adultos. Essa mortalidade é causada principalmente por causa da captura incidental pela pesca de arrasto de camarão na região”, diz a oceanógrafa Neca Marcovaldi, fundadora do Projeto Tamar e coordenadora nacional de conservação e pesquisa.
Além disso, vale lembrar de outro inimigo invisível para as tartarugas: o lixo plástico. Ao confundí-lo com água-viva, elas acabam morrendo sufocadas.

Há ainda as mudanças climáticas, que tem alterado a temperatura da água do mar e pesquisas recentes demonstraram que oceanos mais quentes estão provocando somente o nascimento de tartarugas fêmeas.

Luta pela preservação

No Brasil, há quase 40 anos o Projeto Tamar trabalha pela proteção e conservação das tartarugas marinhas. E é justamente no período da desova em que as equipes têm maior trabalho.

Diariamente elas fazem o monitoramento dos ninhos. “Graças ao trabalho de sensibilização, educação ambiental e de inclusão social junto às comunidades locais e turistas, hoje, 99% dos ninhos permanecem em seu local original”, comemora Neca.

Ao nascerem, logo após a eclosão do ovo, os filhotes de tartarugas marinhas rumam imediatamente para a água. Em alto-mar, alimentam-se de algas (principalmente sargaços) e matéria orgânica flutuante. Durante os próximos anos de sua vida, estes animais migram pelo oceano.

Neste período, as tartarugas passam anos até serem vistas novamente, quando trocam o mar aberto pela área costeira. Esse período, chamado de “anos perdidos”, ainda é um mistério no ciclo de vida delas, explicam os biólogos do Projeto Tamar.

O tempo para alcançar a maturidade varia de espécie para espécie. A grande maioria delas só se torna adulta entre os 20 e 30 anos. Mas a tartaruga oliva, por exemplo, só precisa de 11 a 16 anos.

O acasalamento ocorre em águas profundas ou costeiras, normalmente próximas às áreas de desova. A fêmea pode ser fecundada por vários machos, menores (em tamanho) que elas.

Um dos fatos mais interessantes na vida desses animais é que eles voltam às mesmas praias onde nasceram anos atrás para se reproduzir.

O anoitecer, quando a areia não está tão quente, é o horário escolhido pelas tartarugas marinhas para a desova. Com as nadadeiras, elas constróem as chamadas “camas” e posteriormente, o buraco para os ovos. Os ninhos têm em média 120 ovos.

O período de incubação é de 45 a 60 dias, dependendo do calor do sol. Frequentemente, os ovos eclodem à noite, o que faz com os filhotes tenham mais chance de chegar seguros à água. Entre seus principais predadores estão siris, aves marinhas, polvos e principalmente, peixes.

Outro ponto curioso da reprodução das tartarugas é como o sexo do filhote é definido. É a temperatura da areia que vai estabelecer se nascerá um filhotinho ou uma filhotinha. Temperaturas altas (acima de 30 ºC) produzem mais fêmeas e mais baixas (abaixo de 29 ºC) machos.

Tartarugas marinhas são animais que podem viver mais de 100 anos. No mundo todo, até hoje, são conhecidas sete espécies. Cinco delas são encontradas na costa brasileira: cabeçuda ou mestiça, verde ou aruanã, de pente ou legítima (a mais ameaçada), couro ou gigante (a maior de todas as espécies) e oliva.

*Em novembro de 2018 entrou uma lei em vigor, aprovada pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, que determina a substituição do anzol “J” pelo “G” nos espinhéis. Os primeiros são mais letais para as tartarugas marinhas, já os circulares, tipo “G” (gancho), feitos de metal e sem argola, tem ponta curva, virada em direção à haste, desta maneira, a chance da tartaruga se soltar é maior, além de não ter o céu da boca perfurado.

(*) Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

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