quarta, 24 de abril de 2024
CORUMBÁ

Maior carnaval de MS quer reconquistar a cidade e o turista

27 JAN 2020 - 10h06Por SÍLVIO DE ANDRADE

A queda de público e a pouca animação nas arquibancadas, no ano passado, acendeu o alerta no maior carnaval de rua de Mato Grosso do Sul. As escolas de samba se distanciaram de suas comunidades e a programação dos desfiles de blocos sujos, a cargo da prefeitura de Corumbá, tem sido marcada por atrasos e intervalos que criam um “vazio” sustentado por som mecânico. A irreverência não pode ser traduzida como desrespeito ao cidadão.

A proposta de valorizar os antigos carnavais, na última noite, também não motiva o corumbaense e os poucos turistas que ainda estão na cidade. O desfile dos cordões, do corso (desfile de carros antigos), alas das pastoras e blocos de palhaços e dos marinheiros nos remete ao carnaval romanesco, porém falta um algo mais. Este ano, a programação anunciada pela prefeitura prevê um show nacional, ainda não definido, após o desfile cultural.

O afastamento da população local dos desfiles ficou latente em 2019, quando observou-se uma certa apatia nas arquibancadas - onde a rivalidade entre as escolas de samba se manifestava com o público cantando seus sambas-enredos. O evento vem se tornando cansativo e monótono quando a descida do Bloco Cibalena, que atrai mais 30 mil foliões, atrasa três horas. E, nesse intervalo, o som do palco principal toca ritmos sertanejos...

Intervalos longos na programação, a espera dos blocos sujos, faz publico invadir a pista dos desfiles

Criando um clima

O desinteresse momentâneo do corumbaense, amante do samba, e as falhas na programação oficial, no entanto, se opõe à evolução das escolas de samba - dos barracões à passarela. E são estas entidades que buscam sacudir a cidade para restaurar a alegria do povo, promovendo aos domingos o “Esquenta Corumbá”, no porto-geral. O pré-carnaval é uma iniciativa da Liesco (Liga Independente das Escolas de Samba), com o apoio da prefeitura.

Público mal acomodado: investir em sambódromo

 “É preciso fomentar a participação da cidade, que se distanciou”, afirma o presidente da Liesco, carnavalesco Zezinho Martinez. Ele cobra das escolas de samba um maior envolvimento de suas comunidades e considera o “Esquenta” um recomeço. “Eventos motivadores como esse serão essenciais para o sucesso do carnaval, trazendo a alegria ao povo, em especial a classe baixa, que faz o carnaval e está desmotivada por várias razões, uma delas a falta de grana.”

A Liesco decidiu realizar dois ensaios técnicos – antes era apenas num -, onde a organização do carnaval afere o sistema digitalizado de som e as escolas de samba marcam o compasso de seus desfiles. O evento, realizado na Avenida General Rondon – circuito do carnaval de rua – será usado como um chamariz, conclamando o corumbaense para entrar no clima. A prefeitura também está promovendo roda de samba no porto-geral, aos sábados.

Vila Mamona na passarela com seus passistas e super bateria: escola já empolgou mais as arquibancadas

“Estas ações serão fundamentais para melhorar o humor do povo, que está reclamando da crise financeira e precisa ser motivado para voltar ao samba e fazer parte do espetáculo, que é o nosso desfile das escolas de samba”, aponta Martinez, há dez anos à frente da Liesco. “A alegria do corumbaense pelo carnaval é quando ele pega a fantasia de sua escola de coração e a melhora pregando mais um paetê. Precisamos dessa alegria para elevar o nosso desfile.”

Sem apoio privado

Zezinho Martinez: é hora de sacudir o povão

O carnaval de rua de Corumbá, considerado o mais animado do interior do Brasil, é sustentado quase que 100% pelo poder público. Este ano, a prefeitura local liberou R$ 660 mil para as nove escolas de samba, dinheiro usado na confecção de fantasias e carros alegóricos, e mais R$ 240 para os blocos e cordões. O Governo do Estado garantiu mais R$ 400 mil. O investimento total chega a R$ 3,5 milhões, incluindo infraestrutura e shows nacionais

“Continuamos esperando o apoio do empresariado, que só usufrui do nosso carnaval e do investimento público, com a lotação da rede hoteleira e movimento da economia da cidade”, cobra Zezinho Martinez, da Liesco. “Temos grandes empresas, inclusive nacionais, que poderiam adotar as escolas de samba. Isso seria extremamente positivo, elevaria nosso nível técnico e o espetáculo, atraindo mais turistas. Todos ganhariam, com certeza.”

Carnaval corumbaense atrai turistas e movimenta a economia local, mas ainda depende do poder público

O carnaval na cidade começou no dia 25 de janeiro. O desfile das escolas de samba será realizado nos dias 23 (domingo) e 24 (segunda-feira) de fevereiro. No primeiro dia, saem na avenida, pela ordem, Unidos da Major Gama, Nova Corumbá, Acadêmicos do Pantanal e Unidos da Vila Mamona: no segundo dia, Imperatriz Corumbaense, Marquês de Sapucaí, A Pesada (campeã em 2019), Estação Primeira do Pantanal e Império do Morro.

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