Quando visitou Corumbá pela primeira vez, em 1943, o músico ítalo-brasileiro Mário Zan (faleceu em 2006) ficou fascinado com a paisagem que avistou da janela do hotel, em um casarão construído em 1878 no porto-geral, e compôs a antológica Chalana, um dos símbolos musicais do Pantanal e de Mato Grosso do Sul. As belezas naturais, a revoada dos pássaros, na curva do Rio Paraguai, o inspiraram a escrever a letra que também fala do amor perdido na viagem que fez de navio a vapor.
Lá vai uma chalana
Bem longe se vai
Navegando no remanso
Do rio Paraguai
Hoje esse lugar singular atraiu a atenção e a expertise do empresário Luiz Antônio Martins, que decidiu investir em um novo atrativo turístico na Capital do Pantanal explorando o sentimento de Mário Zan e a popularidade da música, que ficou eternizada nas vozes de Almir Sater e Sérgio Reis. Está nascendo do outro lado do rio, de frente para o Casario do Porto, o Recanto da Chalana um empreendimento de day use, pesca, esportes aquáticos e eventos.
"O cenário é fantástico, a partir da perspectiva do rio e da parte histórica da cidade. Na noite, com a cidade iluminada refletindo nas águas, Corumbá parece Paris, só faltou a Torre Eiffel", afirma Luiz Martins, paulista de 67 anos, dos quais 40 anos em Corumbá atuando nos setores de hotelaria, entretenimento e pesca esportiva. "Sem falar do pôr-do-sol na captação de água, bem aqui ao lado do nosso equipamento, um presente de Deus ao Pantanal..."
Oh! Chalana sem querer
Tu aumentas minha dor
Nessas águas tão serenas
Vais levando meu amor
Novo point
A barranca do outro lado do rio foi mal explorada, nesses anos todos; houve invasões por ribeirinhos e, ultimamente antes da pandemia do coronavírus , os corumbaenses apoitavam ali seus barcos nos fins de semana para curtir a paisagem e os bancos de areia que se formaram com a prolongada seca. A área é quase uma ilha, cercada pelo sinuoso rio e uma baia que, segundo estudiosos, será o novo curso do Paraguai daqui a algumas décadas.
O novo empreendimento, além de valorizar um espaço de muito verde e habitat de animais como capivaras, jacarés, cervos, porco do mato e muitos - mas muito mesmo! - pássaros, cria uma nova alternativa de lazer e contemplação da natureza para a população local e em especial aos turistas. A cidade não oferece opções ao visitante, que não conta com serviços de passeios aos pontos turísticos e acaba no porto-geral, área mal conservada pela prefeitura.
Com restrições ambientais, por ser uma APP (Área de Preservação Permanente), o empresário garante o cumprimento de todas as normas para realizar as edificações, cuja estrutura se tornará em novo point da cidade. Ele reaproveitou as antigas construções para criar espaços nobres, cercados pela vegetação nativa. O prédio central, em palafitas, foi transformado em restaurante e bar e em quatro apartamentos, estes na parte superior com sacadas para o rio.
Opera em julho
Ao lado, uma passarela em madeira leva a uma piscina, próximo ao rio, de onde se avista toda a cidade e o centenário porto e seus casarões tombados pelo patrimônio histórico nacional. Na outra extremidade, serão construídas estruturas com churrasqueiras e redário, em volta das grandes árvores com ninhais de pássaros e papagaios, bem como uma área de lazer para as crianças. O espaço terá capacidade diária para 120 pessoas em day use e 100 hóspedes.
Luiz Martins ainda projeta a implantação de uma trilha de 7 km (a área total é de 13 hectares) e a construção de um mirante de 12 metros de altura para contemplar o pôr-do-sol e as belezas em volta, como a cidade e o rio. Uma passarela vai interligar o prédio central a nova edificação, que terá 30 apartamentos. "Vamos trabalhar também a pesca esportiva, com pacotes fechados, oferecendo acomodações de padrão e toda estrutura", informa.
O Recanto da Chalana deverá ser aberto em julho, porém o projeto somente será finalizado em um ano, estima o empresário, cujo grupo opera com uma rede de oito hotéis em Corumbá, Campo Grande, Cuiabá e Piracicaba (SP). O novo produto turístico vai operar com energia solar e sistema de tratamento de esgoto e água. "Vamos ter lazer na natureza, como cavalgadas e caminhadas, e equipamentos para a prática de esportes aquáticos", anuncia.
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