A preservação da fauna silvestre nas estradas de Mato Grosso do Sul uniu o Governo do Estado, prefeituras e Ongs (Organizações não governamentais) em um grande projeto de gestão ambiental, que começa a ser executado com a instalação de passagens superiores (ou aéreas) na MS-382 e na vicinal Rodovia do Turismo, ambas em Bonito. A meta é mitigar os acidentes envolvendo animais atropelados ao atravessarem as vias.
Não é de agora que as organizações ambientalistas cobram medidas de proteção à fauna, principalmente nas rodovias federais, onde o fluxo de veículos é mais intenso. Na BR-262, que atravessa o Pantanal entre Aquidauana e Corumbá, há registro de grande mortandade de animais de toda espécie – de onça-pintada a aves e repteis -, e, recentemente, o Ministério dos Transporte instalou cercas nas margens da rodovia em trechos críticos.
Ao assumir a secretaria estadual de Infraestrutura (Seinfra), Eduardo Riedel encampou iniciativas dentro do governo e propostas do terceiro setor e reformulou o projeto Estrada Viva, que envolve também a Universidade Estadual (UEMS). Ongs que atuam na região da Serra da Bodoquena elegeram Bonito como referência de projeto semelhante, o “Bonito Não Atropela”, e governo e as entidades convergem para o mesmo propósito - e de forma integrada.
Salvar animais e pessoas
Hoje, os projetos executivos de implantação ou pavimentação de rodovias estaduais contemplam medidas de controle do tráfego e prevenção e redução de atropelamentos de animais, recorrente também em vias sem infraestrutura. Está sendo elaborado o Manual de Orientações Técnicas, que contará com diretrizes para subsidiar os novos projetos da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), órgão responsável pela malha rodoviária.
Iniciativas como o Estrada Viva, segundo Riedel, implantam a ecologia de estrada para salvar vidas, animais e humanos. “Internalizamos como premissa nos projetos da Agesul o Estrada Viva, com todos os elementos necessários para mitigar, de fato, os acidentes nas estradas que envolvem animais. O objetivo é adotar uma política de empreendimentos viários sustentáveis, com proteção da nossa fauna e segurança de pessoas", explica o secretário.
As passagens superiores instaladas em Bonito – a na MS-382 é próxima ao Parque Nacional da Serra da Bodoquena – já estavam previstas nos estudos para implantação asfáltica nas duas vias. A MS-345 – a famosa Estrada do 21 -, entre Anastácio e Bonito, começa a ser pavimentada e também obedecerá a todos os parâmetros de sustentabilidade. As mesmas medidas de mitigação estão sendo aplicadas na restauração da MS-382, entre Guia Lopes e Bonito.
“Mais do que duas passagens, estamos falando da união de esforços para a mudança do atual cenário das nossas rodovias. Nossa meta precípua é protegermos a vida e a nossa fauna”, reforça Maria Fernanda Balestieri, da Seinfra, incumbida da gestão do projeto. “Recebemos determinação do secretário (Riedel) para que a engenharia ande junto com a questão ambiental na construção de estradas”, detalha Pedro Celso, diretor de Meio Ambiente da Agesul.
Bonito como referência
As organizações não governamentais que atual na região da Serra da Bodoquena querem ampliar as medidas de mitigação nas estradas estaduais com o projeto “Bonito Não Atropela”, começando pela Capital do Ecoturismo. A instalação das duas passagens superiores no município não foi por acaso e outros onze pontos críticos estão sendo definidos, apesar de o município não ser o lugar de maior índice de mortes de animais nas estradas.
“A gente enxergou que Bonito, por ter essa bandeira de município modelo do ecoturismo e usa dessa questão natural do ecossistema a seu benefício, seria o lugar ideal para criar um projeto que reverberasse e fosse um espelho para o Estado e quem sabe para o Brasil”, detalha Forlane, da Ampara Silvestre, uma das instituições idealizadoras do projeto. “Bonito precisa dessa biodiversidade, usa dela e tem um clamor popular, as pessoas querem essa mudança.”
Maurício e a bióloga Fernanda Abra, da ViaFauna, participaram da avaliação técnica nas visitas às rodovias estaduais de Bonito realizada pela Agesul. As medidas de mitigação incluem desde instalação de cercas para direcionar o animal até um local seguro para travessia a passagens de fauna subterrâneas ou aéreas, mantendo-se o fluxo entre as populações que foram cortadas pelas rodovias e, ao mesmo tempo, faz com que o animal não cruze pela estrada.
As medidas mais visíveis a curto prazo para os moradores e visitantes, será a instalação de telas de proteção nas duas margens da MS-178, na entrada de Bonito. “Essa região do Formoso e Formosinho é um corredor muito importante de fauna, então essa tela, que vai na beira da rodovia, vai guiar o animal a passar por debaixo da ponte e não por cima da estrada. Estamos acertando com Estado a instalação até o final deste ano”, afirma Fernanda Abra.
O projeto ‘Bonito não Atropela’ nasceu de uma necessidade da comunidade local por medidas de mitigação, tendo como apoio um abaixo assinado do grupo Unidos da Serra da Bodoquena com cerca de sete mil assinaturas. É composto por organizações locais, como a Fundação Neotrópica do Brasil, Unidos da Serra da Bodoquena, Instituto Raquel Machado, Via Fauna, Ampara Silvestre, Instituto de Conservação de Animais Silvestres e a Rede Pró UC, com a partiipação ainda da prefeitura local.
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