Antigo leito do Rio Paraguai, que há séculos criou uma volta de mais de 150 km para passar em frente aos portos de Corumbá e Ladário, em Mato Grosso do Sul, e descer ao Sul, o Rio Paraguai-Mirim nasce de uma “boca” (km 1652 da hidrovia) na região da Serra do Amolar e desagua em frente ao Rabicho (km 1495), unidade da Marinha situada na encosta de um morro, abaixo a alguns quilômetros das duas cidades pantaneiras.
Na Guerra do Paraguai, foi por este canal hoje obstruído pela vegetação, que corre paralelamente ao Paraguai, e com a ajuda de indígenas da região, que as tropas brasileiras vindas de Cuiabá, comandadas por Antônio Maria Coelho, chegaram a Corumbá. O acesso por ele foi preponderante para a histórica retomada da vila, que ficou três anos ocupada pelos paraguaios na Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), no dia 13 de junho de 1867.
Segundo historiadores, o Paraguai-Mirim foi estratégico do ponto de vista militar para o sucesso da expedição. Descendo o Paraguai em navios, parte da tropa concentrou-se na encosta da Serra dos Dourados, onde hoje fica a sede da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) do mesmo nome, e dali, em canoas, desceu o Paraguai-Mirim, pegando os paraguaios pela retaguarda, a Leste de Corumbá.
Rio complicado
Hoje, sobrevoando o afluente, da foz (Rabicho) a sua “boca”, numa extensão de 40 km em linha reta, percebe-se que o rio se espalhou, perdeu suas margens e confunde os melhores navegadores do Pantanal. Famoso pela piscosidade de suas águas, aparece e desaparece naquela imensidão. Como dizem os piloteiros de barcos de pesca, “está brincando de esconde-esconde”.
Do alto, se tem a nítida noção do fenômeno: o canal por onde o rio corre foi “engolido” pela inundação permanente daquele trecho da planície, somando-se ainda as águas espalhadas pelo Rio Taquari com a mudança do seu leito mais a Oeste. Ele é navegável pelo seu leito natural por alguns quilômetros, em ambos os extremos, mas logo perde seu curso ou foi obstruído pela vegetação flutuante.
“O Paraguai-Mirim sempre foi um rio complicado pela grande concentração de baceiro (formação de gramíneas e camalote), quando a planície secava, interrompendo sua navegabilidade. Agora que perdeu seu pulso, está fechado em vários pontos e não se tem mais noção do que é rio e alagados”, explica o pantaneiro Armando Lacerda, que tem uma pousada, o Porto São Pedro, próxima à margem esquerda do Paraguai aonde ele nasce.
Aventura
Há algum tempo, o pescador e editor da Revista Aruanã, Toninho Lopes, vivenciou esta realidade do Paraguai-Mirim ao tentar cruza-lo de um lado a outro. Atraído pela excelente piscosidade – o pacu, piaussu e o dourados são as espécies mais encontradas -, a qualidade de sua água, propicia a mergulhos, e ambiente para deleite e contemplação, Lopes armou a pescaria para contar aos seus leitores, mas a viagem foi interrompida.
“Seguimos tranquilamente, quando, de repente, o rio fechou. Moitas e moitas de camalotes trancavam totalmente o leito do rio”, conta ele em sua reportagem. “Os piloteiros colocavam os remos em cima do camalote, pisavam neles para maior sustentação e empurravam o barco pelo meio das moitas. Quando venciam mais ou menos dez metros, uma corda que unia os dois barcos era puxada por nós para alcança-los na distância percorrida.”
Lopes e sua equipe localizaram cinco pontos de rio trancados e desistiu do que chamou de aventura. “O calor era insuportável e tudo ficava ainda mais difícil por estarmos fazendo força. Para os futuros aventureiros, recomendamos que se informem antes sobre as condições do rio Paraguai Mirim, pois se ele estiver fechado a melhor opção é mesmo adiar a viagem, evitando assim grandes problemas”, alerta em sua reportagem.
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