Considerado um dos principais feitos das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai (1864-1870), a retomada da cidade de Corumbá, que ficou sob o poder do país vizinho durante o conflito por dois anos e seis meses, foi celebrada na manhã desta sexta-feira, 13, na Praça da Independência. Feriado na cidade, o evento reuniu autoridades civis e militares e não teve a participação da população.
O episódio completa 158 anos e foi precedido de uma estratégia do Exército de surpreender os paraguaios pelas costas, em posição oposta ao Rio Paraguai, com a tropa expedicionária, vinda de Cuiabá, partindo para o confronto com deslocamento da morraria do Urucum, distante 20 km da então vila. A retomada, no dia 13 de junho de 1867, foi comandada pelo tenente-coronel cuiabano Antônio Maria Coelho.
“A retomada de Corumbá não foi apenas uma vitória militar, foi uma manifestação da alma pantaneira, que se recusou a ser subjugada, que lutou com destemor e que com fé e coragem reconquistou sua liberdade e sua identidade”, disse o prefeito corumbaense Gabriel Alves de Oliveira, em seu pronunciamento – o único da cerimônia cívico-militar, que, iniciada às 8h, durou apenas 18 minutos.
Resiliência do povo
Para o prefeito, a reconquista do território – Corumbá foi o único núcleo populacional ocupado pelos paraguaios durante a guerra, motivado principalmente pelo abandono da conflitante fronteira pelo império -, significa muito mais do que uma simples efeméride.
“Este dia é o marco indelével da bravura, da resiliência e do amor incondicional que o povo corumbaense tem por sua terra. Ao rememorarmos os eventos de 13 de junho de 1867, não apenas olhamos para o passado, mas reafirmamos os valores que moldaram e continuam a moldar o caráter de nossa gente”, disse.
Com a presença de alguns populares e um grupo de estudantes, o ato contou com a participação da tropa da 17ºBatalhão Brigada de Infantaria do Exército. Além do prefeito da cidade, a vice-prefeita Bia Cavassa, secretários, presidente da Câmara de Vereadores, Ubiratan Canhete (Bira), estiveram presentes o contra-almirante Alexandre Amendoeira Nunes, comandante do 6º Distrito Naval; o general de brigada José Fernandes Carneiro, comandante da 18ª Brigada de Infantaria do Pantanal do Exército.
Versões da retomada
Os livros didáticos, os arquivos do Exército e alguns historiadores exaltam o heroísmo do tenente-coronel Antônio Maria Coelho e seus comandados em retomar a vila devastada pelos paraguaios, que saquearam fazendas e prenderam, torturaram e mataram brasileiros que residiam no local. Com uma tropa formada por 400 ou 1.000 homens, 20 canoas e garapés Coelho partiu de Cuiabá em 15 de maio de 1867, enfrentando pântanos e águas raras do Pantanal.
Os brasileiros chegaram à região de Corumbá somente na noite do dia 11 de junho, concentrando-se ao Sul da vila, rumando dois dias depois em direção à vila caminhando pelas margens do Rio Paraguai. A principal batalha, que assegurou a retomada do núcleo, foi travada no local onde hoje fica a Praça da República, em frente a matriz de Nossa Senhora da Candelária, construída em 1885 por um dos reféns dos paraguaios, o polêmico frei Mariano de Bagnaia.
Nos relatos de historiadores paraguaios, a derrota nesse confronto teria relação com uma jovem brasileira, Mariquinha, amante do comandante da guarnição (400 homens e três navios) que ocupou a vila, o tenente-coronel Hermógenes Cabral. Mariquinha teria colaborado com o Exército de Mato Grosso detalhando a rotina dos paraguaios, os quais, pela não reação dos brasileiros e pelo ócio naquele lugar ermo, se dedicavam à lavoura e foram surpreendidos por Maria Coelho e sua tropa.
O comandante militar brasileiro é lembrado em Corumbá com um mausoléu construído em 1918 em sua homenagem, não na Praça da República, mas no Jardim da Independência, em cujo monumento encontram-se seus restos mortais. Ao encerrar a carreira como marechal, Antônio Maria Coelho fixou residência em Corumbá, onde faleceu em 1894.
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