sábado, 20 de abril de 2024
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Como a pandemia fortaleceu o nomadismo digital

07 JUL 2021 - 14h27Por REDAÇÃO

O que é nomadismo digital? Imagine ter a possibilidade de trabalhar viajando. Nomadismo digital não é uma profissão, é uma condição de trabalho. Se você é freelancer ou trabalha para uma empresa em que pode realizar seu trabalho de forma remota, é bem possível que você possa viver como nômade também. A diferença da condição nômade digital para nômade é que o nômade digital consegue realizar seu trabalho online. Portanto, viaja enquanto continua trabalhando.

Sobre o tema a blogueira Mari Campos (jornalista e especialista em turismo e lifestyle de luxo) escreveu recentemente, em sua Sala Vip, no jornal O Estado de S. Paulo. Para ela, a pandemia do coronavírus reacendeu o nomadismo digital, e tem gente dizendo que tem agora “um negócio ligado à moradia e não mais um negócio ligado a turismo”. Ser nômade digital não significa não ter medo das mudanças, mas sim, saber que elas fazem parte da vida e que devemos saber lidar com elas.

Seu relato:

“A gente já sabe que a pandemia da Covid-19 mudou nossas vidas, nosso trabalho e até nosso jeito de viajar para sempre. E uma das transformações mais visíveis no setor turístico durante o período foi estreitar de maneira impensável até o começo de 2020 as fronteiras entre trabalho e lazer. A pandemia fortaleceu, sem dúvidas, o chamado “nomadismo digital“.

O super marketeiro CEO do Airbnb, Brian Chesky, disse recentemente que a pandemia gerou “as mudanças mais profundas no turismo desde a invenção da aviação comercial”.  Para essa plataforma de aluguéis de temporada o estreitamento das fronteiras entre trabalho e lazer foi tão significativo em seu negócio que Chesky já se apressou em dizer em entrevistas por aí que agora tem “um negócio ligado à moradia e não mais um negócio ligado a turismo“.

Afinal, depois de um par de meses quase sem negócios, foi graças à disseminação do home office durante a pandemia que Chesky viu sua plataforma ganhar vida novamente. Foi graças a gente do mundo inteiro que passou a alugar imóveis de temporada por períodos longos para trabalhar remotamente de outro endereço que ele conseguiu reerguer o Airbnb de maneira muito melhor do que esperava (seu valor de mercado superou os US$ 100 bilhões).

Como a pandemia fortaleceu o nomadismo digital

Viajantes misturando trabalho e lazer hoje já criaram um mercado com potencial de 44 bilhões de novas reservas hoteleiras por ano. Dados da Pnad Covid, divulgados pelo IBGE, apontaram que em novembro de 2020 havia 7,3 milhões de brasileiros trabalhando remotamente. Internacionalmente, as estimativas são que o número de pessoas trabalhando remotamente chegue a 1 bilhão até 2035.

Para muitos de nós, os limites entre viajar, trabalhar e morar estão realmente se misturando demais desde o ano passado. Como jornalista freelancer, faz 17 anos que o home office e o trabalho remoto fazem parte da minha vida. Hoje, esses limites são praticamente inexistentes pra mim – e têm sido assim para cada vez mais gente durante a pandemia.

A expressão “nômades digitais” sempre me pareceu odiosa porque vendia geralmente uma ideia atrelada de que pra ser feliz era necessário obrigatoriamente “viver viajando” – o que sabemos ser uma baita falácia. Mas agora ela volta a ser intensamente usada, no Brasil e no exterior – felizmente com outro sentido. Afinal, o home office trazido pela pandemia para muita gente está longe de acabar: diversas empresas já anunciaram que não pretendem voltar ao trabalho 100% presencial no pós-pandemia (muitas inclusive já se desfizeram recentemente de escritórios e sedes administrativas).

Por isso mesmo, as estadias prolongadas, seja em hotéis ou em imóveis alugados, vieram com tudo durante a pandemia. Muita gente que está trabalhando em home office (e tem condições financeiras para tal, é claro) descobriu que trabalhar isolada e remotamente a partir de hotéis e imóveis de temporada pode dar um belo refresco às pressões psicológicas trazidas pela pandemia.

A tendência de estadias de longa duração remodelou não apenas os negócios do Airbnb como de boa parte da hotelaria nacional e internacional. Diversas propriedades têm sobrevivido também, graças ao trabalho remoto, com hóspedes que estão se hospedando por períodos cada vez mais longos – e mantendo as taxas de ocupação mais elevadas inclusive durante a semana.

Mari Campos

A indústria turística vem se adaptando aos nômades digitais

Desde o começo da pandemia, tenho passado a maior parte do tempo em home office na minha própria casa. Mas tive ótimas experiências também viajando no meu próprio carro e trabalhando remotamente a partir de algumas pousadas, hotéis e imóveis de aluguel de temporada, como venho mostrando em detalhes no meu instagram @maricampos. Contei aqui na coluna recentemente também minha experiência do gênero na bela Casa Turquesa em Paraty.

hotelaria teve que se adaptar rapidamente à demanda desse novo perfil de turista a partir do ano passado. Mas até mesmo hotéis e pousadas que tinham zero vocação para “turismo de negócios” vêm sendo bastante bem-sucedidos após criar cantos confortáveis e eficientes de trabalho nos quartos e contratar serviços de internet de alta performance. E criaram também novos serviços e atividades internas, é claro, já que esse tipo de hóspede passa muito mais tempo na acomodação.

A mudança tem sido tão significativa que até mesmo diversos operadores de turismo também têm se dedicado muito mais a esse novo segmento/nicho que não para de crescer. A maioria deles aumentou consideravelmente seus portfólios de produtos, propriedades e serviços com infraestrutura adequada para receber quem quer trabalhar remotamente com qualidade, sem abrir mão dos momentos de lazer e do necessário e incontornável distanciamento social. E a demanda pelo hotel office (ou anywhere office) segue crescente.

Se você está em home office durante a pandemia e ainda não trabalhou remotamente a partir de uma pousada, hotel ou imóvel de temporada, acredite: esse dia chegará em breve.”

*Mari Campos adora viajar sozinha e conta suas aventuras também no maricampos.com.
Acompanhe suas andanças pelo instagram @maricampos e pelo facebook.com/MariCamposBlog

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