quinta, 18 de abril de 2024
FIM DA SECA?

A VIDA SE RENOVA NO PANTANAL, MAS NÃO SE ESPERA UMA GRANDE CHEIA

26 MAR 2023 - 20h25Por SILVIO DE ANDRADE

Depois de quatro anos (2019 a 2022) de seca no Pantanal, com período crítico de queimadas, impactos incalculáveis na fauna e flora e consequências também na qualidade da água dos rios, a intensidade das chuvas neste primeiro semestre do ano na bacia do Rio Paraguai mudou o cenário do bioma, não apenas na vegetação, recuperando-se das cinzas. A vida se renova na terra e na água e o Pantanal entra em processo (ainda lento) de recuperação.

Com mudanças no comportamento das águas – “neste ano, as bacias hidrográficas do Sul do Pantanal estão recebendo mais chuvas do que as do Norte, o contrário do que normalmente ocorre”, observa o pesquisador Agostinho Catella, da Embrapa Pantanal -, o Rio Paraguai atingiu 5,94 metros em Porto Murtinho, no extremo sudoeste, na primeira semana de março. Neste mês, entre 2020 e 2022, a média na mesma régua foi inferior a 3,30 metros. 

Os pantaneiros da planície comemoram a chegada das águas, postando nas redes sociais imagens de suas camionetes e o gado cruzando grandes alagados, enquanto o principal rio da bacia continua em elevação nas cabeceiras. Em Cáceres (MT), superou 5,36 metros, maior nível desde 2018 (4,96m). Essa água chegará em junho a Ladário, cidade vizinha a Corumbá, onde o Paraguai ainda está baixo (2,39m) para a média histórica (em 2018, atingiu 4,10m, no período).

Rio (Paraguai) sobe, os camalotes se desprendem nas margens e iniciam um passeio, fechando os pequenos cursos d'água

A Marinha lançou alerta de segurança em Cáceres, onde a força da correnteza e o acúmulo de camalotes colocam em risco as pequenas embarcações, em especial as canoinhas (construções de madeira) utilizadas pelos ribeirinhos. Na região, o rio transborda e alaga áreas há muitos anos não atingidas pelas águas. Uma frente fria anunciada para os próximos dias deve interromper o período chuvoso e normalizar o nível do rio, que tende a começar a baixar.

Em Murtinho, o Rio Paraguai está em declínio, mas deve ocorrer um repique com as águas do Aquidauana, Miranda e Taquari até chegar o que desce de Cáceres e dos tributários (Cuiabá, São Lourenço, Piquiri). O solo seco, devido a estiagem prolongada, também absorve parte dessa água que se espraia pelos campos. O Rio Taquari ressurgiu e dividiu suas águas entre o Paiaguás e a Nhecolândia, além de garantir a navegação e sobrevida aos colonos.

Mais água, mais peixe

O ressurgimento das baías e corixos e campos inundados beneficia toda a cadeia alimentar do ecossistema, do homem aos microrganismos. A fauna, em especial as aves, ressurgiu, para deleite dos turistas e alivio dos ambientalistas, os quais fizeram estimativas subestimadas do desastre causado pelo fogo. A pesca, em especial, terá um ano de boa produção, embora não comparada às grandes cheias (quando o nível do Rio Paraguai supera os 5m em Ladário). 

Pesca: turismo se beneficia com o novo ambiente

“As condições ambientais (do Pantanal) em 2023 devem concorrer positivamente para a produção natural de peixes e para a pesca”, segundo Catella, especialista em ictiofauna pantaneira. O fim da piracema (fevereiro) coincidiu com a subida das águas e favorece a manutenção do estoque pesqueiro. Os peixes grandes e os jovens recém nascidos e os ovos rodam rio abaixo e adentram os campos inundados, onde encontram alimento e abrigo.

“Na vazante, com o refluxo das águas, os adultos retornam para os rios e reiniciam um novo ciclo. Muitos peixes de espécies pequenas, que não fazem piracema, permanecem nos alagados durante a estiagem. A grande quantidade de peixes retidas nesses ambientes alimenta as aves que se reproduzem durante a vazante no Pantanal”, explica Catella. “Além de sua função ecológica, os peixes são de grande importância social e econômica para a pesca.”

Embora os anos de pandemia do coronavírus e de seca tenham sido críticos para o setor turístico pesqueiro, a diminuição da atividade, tanto amadora como profissional, foi positiva para a ictiofauna, que já se encontrava sob o estresse de anos de pouca chuva na região, avalia o pesquisador da Embrapa. Com a abundância de água, segundo ele, “os peixes conseguem manter grandes populações, o que garante a piscosidade dos rios do Pantanal”.

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