PIONEIRISMO

'AYTY', HOSPITAL DE ANIMAIS SILVESTRES DA CAPITAL, É UM ALIADO DA NATUREZA

1 ABR 2024 • Por REDAÇÃO • 12h32

O Hospital Veterinário do CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), construído pelo Governo do Estado em Campo Grande, registrou 2.112 atendimentos desde a inauguração, em 14 de setembro de 2023. A maioria dos pacientes são aves, representa 70% da demanda na unidade. Muitas chegam ao local vítimas de tráfico, de acidentes, queimadas e de criações em cativeiro.

Mato Grosso do Sul se torna referência no Brasil e na América Latina com a construção do maior hospital de animais silvestres. O "Ayty" - palavra tupi-guarani que significa ninho, cuidado, aconchego e se pronuncia aitã - modernizou o atendimento aos bichos das mais diversas espécies que vivem no Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, caso seja preciso serem resgatados devido a problemas de saúde por diversos motivos.

Governador Riedel na inauguração do Ayty

Com uma área construída de mais de mil metros quadrados, o hospital localizado no Parque Estadual do Prosa, em Campo Grande, funciona com um corpo clínico composto por sete médicos veterinários e especialistas em zootecnia, patologia, biologia, entre outros. O "Ayty" conta hoje com o total 15 servidores, entre técnicos e tratadores. O investimento da obra foi de R$ 6,1 milhões.

O hospital foi construído em uma área anexa ao CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), criado em 1987 e pioneiro no mundo em procedimentos avançados em próteses para animais.

Papagaios lideram atendimento

Um papagaio que viveu décadas com uma família dentro de casa é um dos bichos que atualmente recebe atendimento prioritário e está em quarentena no hospital. Apesar de muito inquieto, apresenta bom estado clínico. Segue em observação porque as penas apresentam uma coloração diferente do normal. De acordo com a médica veterinária Jordana Toqueto, a alimentação inadequada é uma das principais consequências no caso de animais silvestres criados em cativeiro.


“Eles ficam com deficiências nutricionais que chegam a prejudicar o funcionamento de órgãos, principalmente o fígado. Um papagaio pode viver 80 anos, mas com isso a expectativa de vida pode diminuir. Outro problema é que a maioria das pessoas deixa em gaiolas pequenas, isso acaba lesionando asas, penas”, conta.

Os papagaios lideram a lista dos pacientes mais atendidos na unidade. Seguidos de maritacas, gambás, araras, periquitos, rolinhas, jandaias, jabutis, tucanos, bem-te-vis, jiboias, pardais, pombas, corujas, curiangos, urutaus, curicacas, gaviões, urubus, tamanduás, pombas e capivaras.

Um dos primeiros pacientes do hospital foi um lobinho filhote e órfão, atropelado na estrada, trazido de Três Lagoas para o CRAS por policiais militares ambientais um dia após a inauguração da unidade. Sem condições de ser reintegrado à natureza, ele mora no centro e voltou a ser internado porque machucou uma das patas. 

Emoção na volta à natureza

Coordenadora do CRAS, a médica veterinária Aline Duarte comemora os avanços com o funcionamento do hospital garantindo uma assistência mais rápida, direcionada e diagnósticos mais assertivos. 

“Antes precisávamos recorrer a outros lugares para fazer exames como raio X, por exemplo. Tínhamos que procurar universidades ou outros parceiros, esperar disponibilidade, agora temos o nosso, isso já agiliza. Conseguimos concentrar todo o atendimento em um só lugar. Isso já foi um ponto crucial para definir o que fazer quando o animal chega aqui”, explica.

Em média o centro de reabilitação recebe 2.500 animais silvestres por ano. Em 2023 o número saltou para 3.228, 60% se recuperaram. A maioria da demanda é resultado de capturas da Polícia Militar Ambiental (PMA), seguida da entrega por voluntários e apreensões.


“Os domesticados, por exemplo, já têm características humanas. Muitos chegam com múltiplas fraturas, incluindo vítimas de atropelamento e até arara com lesão de cerol que perdeu a asa. A maioria dos animais que a gente recebe está nessas condições. Então não vai fechar a conta pela situação que o animal já chega aqui”, diz Aline Duarte.

Ainda de acordo com ela, quando os animais chegam filhotes existe um cuidado na reabilitação para não ficarem dóceis, acostumados com a presença humana. Todo este trabalho é para tentar que ao menos uma parte dos pacientes recuperados tenha condições de voltar à natureza.

“Quando a gente chega na parte de soltura desses animais conseguimos ter a gratificação do nosso trabalho. Saber que a gente consegue recuperar ao menos alguns e devolver à natureza. Quando a gente abre uma caixa e esse animal sai voando, sai correndo… É por isso que a gente trabalha. Para pode ver esse momento acontecendo. É o que nos motiva, nos emociona”, conta a coordenadora.