SABERES

O fazer da viola de cocho chega às escolas com mestre cururueiro

24 MAR 2023 • Por REDAÇÃO • 19h08
Mestre Sebastião, com seus ensinamentos, busca preservar uma cultura centenária ligada à religião e à dança no Pantanal - Fotos: Daniel Reino

Alunos de quatro escolas públicas de Campo Grande participaram da oficina que ensinou a confecção da tradicional viola de cocho pantaneira. Tudo repassado e acompanhando de perto pelo mestre cururueiro Sebastião de Souza Brandão, da cidade de Ladário.

Na sala de aula, o som predominante era o da animação e do chiar das lixas nas pequenas violas-de-cocho confeccionadas pelos alunos. Depois do objeto bem polido chegou a hora da personalização, com canetinhas que foram distribuídas aos alunos, que fizeram os mais variados desenhos, considerado o próprio gosto ou emoção do momento. Depois foi a vez das cordas e de brinde o sorriso de dever cumprido inevitável do mestre Sebastião.

“Eu vou fazer 90 anos, agora tenho meu neto que me ajuda na produção das violas. É preciso deixar alguém para cuidar disso tudo, não deixar a tradição morrer. E cada violinha dessas feita é um pouco da tradição que fica em cada aluno”, afirmou o cururueiro.

Mestre cururueiro Sebastião e os alunos: iniciativa contribui para preservar um instrumento único da cultura pantaneira

A viola de cocho é um instrumento musical singular quanto à forma e sonoridade, produzido exclusivamente de forma artesanal, com a utilização de matérias-primas existentes na região Centro-Oeste. Sua produção é realizada por mestres cururueiros, tanto para uso próprio como para atender à demanda do mercado local, constituída por cururueiros e mestres da dança do siriri, típica do Pantanal. O seu modo de fazer foi registrado no Livro dos Saberes, em 2005.

Na EM Professor Vanderlei Rosa de Oliveira, no Bairro Novos Estados, em Campo Grande, a oficina foi realizada durante dois dias e deixou alunos e professores encantados. "Nossos alunos da oficina de violão participaram da confecção da viola. E foi maravilhoso. O seu Sebastião é muito detalhista, colocou cordas em todas as mini violas feitas pelos alunos", disse a diretora Lucinele Fernandes de Oliveira. 

Referência cultural

Além de artesão habilidoso, o mestre é responsável pela difusão dos conhecimentos sobre o patrimônio cultural de Mato Grosso do Sul, ligados à tradição da viola de cocho. As oficinas em escolas da Capital dão oportunidade aos alunos da rede pública de vivência prática das manifestações culturais tradicionais que compõem a identidade cultural do Estado.

Para os alunos e professores da escola, a experiência única aproximou gerações e foi de muito aprendizado. "Eu gostei da oficina aprendi a fazer o instrumento e usei a criatividade", disse a aluna do 6º ano Milena de Souza. 

"Foi uma experiência maravilhosa pra gente ter contato com o folclore. Os alunos aproveitaram todo o conhecimento e aprenderam como são os movimentos folclóricos em Corumbá. É motivo de muito orgulho, inclusive a construção de um instrumento que é próximo ao violão. E os alunos ainda conseguiram tirar um som junto com o seu Sebastião", disse a professora de música da escola, Ketlen Ane.

A oficina foi oferecida gratuitamente pela FCMS (Fundação de Cultura de MS) em quatro escolas públicas de diferentes regiões da Capital. Além da EM Professor Vanderlei Rosa de Oliveira, aconteceu também na EM Professora Oliva Enciso, no Tiradentes, e na EE Amando de Oliveira, na Vila Piratininga, e na EM Professora Lenita de Sena Nachif, no Jardim Centro Oeste.

O projeto oferece aos alunos de escolas públicas da Capital a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre o artesanato de referência cultural e o patrimônio cultural de MS, além de fomentar a cultura regional e inspirar novos artesãos. A oficina faz parte das ações desenvolvidas pela FCMS durante a Semana do Artesão.