Porto São Miguel

29 JUL 2022 • Por MANOEL MARTINS DE ALMEIDA • 10h49

Não gostava de peixe de couro. Peixe para ela só pacu, nem seria qualquer pacu, havia de ser pacu gamela.

Sua fazenda tinha a sede localizada na beira do rio. Fazendeira por vocação, após atender seus inúmeros afazeres, pegava sua tralha de pesca e ia fazer aquilo que talvez mais gostasse: pescar pacu de barranca, no Rio Taquari. 

É verdade que detinha a melhor técnica e conhecia os melhores pontos de pesca. Era como dizia: “Vou pegar uns cinco ou seis pacus para o almoço da peonada”. É claro, "garganteava" como dizia o poconeano, seu esposo, o engenheiro agrônomo, roceiro e criador dedicado, que, muitas vezes, chegava faminto das longas campeadas e se orgulhava dos feitos de sua mulher. 

Nas férias escolares, ficavam rodeados de netos. A todos ensinou a amar o Pantanal. Era uma vida e tanto! Muito trabalho, mas também muita alegria e esperança no futuro.

A vida os obrigou a deixar o paraíso.

Hoje, o rio engoliu sua casa. O Taquari não tem pacu gamela. A grande fartura taquarizana foi soterrada pela riqueza do planalto e pela omissão do poder público. 

Sem sua gente, sua economia e sua antiga paisagem, jazem destroçados o Rio Taquari e sua história.
 

(*) Produtor rural no Pantanal do Paiaguás, Corumbá MS