“Até 2030, Mato Grosso do Sul será um Estado Carbono Neutro”

17 DEZ 2021 • Por NATALIE MALULEI/AMANDA MAIA/NATÁLIA MORAES • 13h37
Ricardo Senna, secretário-adjunto da Semagro e membro do Conselho Deliberativo do Sebrae/MS

O Governo do Estado pretende fazer com que Mato Grosso do Sul seja certificado internacionalmente como um território “Carbono Neutro” a partir de 2030 e, para isso, elaborou um planejamento que envolve o poder público, os setores econômicos e a sociedade como um todo. Uma das expectativas com a medida é trazer oportunidades de mercado para os pequenos negócios, principalmente os ligados à sustentabilidade.

Para apresentar as potencialidades e desafios desta meta, o quadro Entrevista do Mês da Agência Sebrae de Notícias conversou em dezembro com o secretário-adjunto da secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Ricardo Senna, que também é membro do Conselho Deliberativo do Sebrae/MS.

“Criamos aqui na Secretaria um núcleo de acompanhamento e alteramos o organograma, de todas essas ações com o comitê científico, não dá para fazermos um programa ousado como esse sem o apoio da academia, sem o apoio conhecimento científico. Então, essas são as ações que ao longo desses próximos anos, nos ajudarão a garantir que a gente consiga cumprir essa meta até 2030”, detalha o secretário-adjunto.

Ricardo Senna, de Corumbá (MS), é economista formado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde tem dourado em Educação. Possui MBA em Gestão Empresarial Estratégica em Agribusiness, pela Fundação Getúlio Vargas, e mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Confira:

Por que tornar MS um estado Carbono Neutro a partir de 2030?

Ricardo Senna: Todas as ações hoje que falam de sustentabilidade, necessariamente colocam um alerta para toda a sociedade, não só do Mato Grosso do Sul, como a sociedade de todo o mundo, sobre as necessidades de redução de emissão de gases de efeito estufa. Existe todo um acompanhamento dos painéis internacionais de mudança climática, mostrando que há um aquecimento global e isso traz consequências. Estamos tentando no Mato Grosso do Sul se comprometer com os acordos internacionais especialmente aquele derivado do acordo de Paris, onde os Estados e as nações se comprometeram com a redução das emissões de gases de efeito estufa.

No Mato Grosso do Sul, optamos por colocar essa meta até 2030, porque temos uma série de programas que temos implementado com essa “pegada” de sustentabilidade. Nosso Plano Estadual de Florestas, por exemplo, é um deles. As florestas, além de fazer uma integração com lavoura, com pastagem, “sequestram” bastante carbono e criam um encadeamento produtivo voltado a móveis, madeira, e é um vetor de bioeconomia importante para todos nós.

Também temos os programas de Pecuária Sustentável, Pecuária Orgânica, cujos protocolos respeitam aspectos relacionados à sustentabilidade. Nós temos os decretos, que incentivamos o uso de energias renováveis. Todo esse conjunto nos permite de forma bastante pragmática e segura, afirmar que o Mato Grosso do Sul, pode, portanto, se tornar um Estado Carbono Neutro até 2030.

São nove anos até lá. Como que serão feitas essas ações? O que prevê o Plano Estadual “MS Carbono Neutro”?

A primeira medida é que recentemente o governador Reinaldo Azambuja e o secretário Jaime Verruck assinaram um decreto, onde instituímos formalmente o programa de mudanças climáticas, que é o Programa Carbono Neutro, como uma política de Estado, não somente como uma política de Governo. Ou seja, independentemente do Governo que o Mato Grosso do Sul tenha, toda essa política e todo esse compromisso com a redução das emissões de gases de efeito estufa, deverão ser cumpridos com a sociedade.

Outra coisa, é exatamente sensibilizar a sociedade, que é o que nós estamos fazendo, apresentando esse programa, buscando parceiros, e em breve nós vamos fazer os planos de adesão com os setores produtivos, com prefeituras, permitindo que não somente o Governo do Estado possa fazer essa adesão, mas que nós tenhamos um efeito em cadeia, para toda a sociedade e todos possamos institucional e individualmente nos comprometer com a redução de gases de efeito estufa.

Criamos aqui na Secretaria um núcleo de acompanhamento e alteramos o organograma, de todas essas ações com o comitê científico, não dá para fazermos um programa ousado como esse sem o apoio da academia, sem o apoio conhecimento científico. Então, essas são as ações que ao longo desses próximos anos, nos ajudarão a garantir que a gente consiga cumprir essa meta até 2030.

O Sebrae pode ser aliado nesse processo? Há ganhos para os empreendedores com a implementação deste plano, quais?

O Sebrae já vem trabalhando conosco há muito tempo, inclusive colocando oportunidades, por exemplo, na cadeia de resíduos sólidos, que hoje já começamos a falar de Economia Circular. Então, os pequenos negócios são extremamente importantes e o Sebrae como atua com os pequenos negócios, pode nos ajudar a principalmente, a mostrar as oportunidades que os negócios verdes, os negócios sustentáveis derivados dessa política podem se apresentar para o empreendedor.

Para nós, é importante manter essa relação, e sabemos da importância que o Sebrae tem, porque afinal de contas no Mato Grosso do Sul, do total de empresas, 98% são pequenos negócios. Então, não adianta pensarmos em uma política sem inserir os pequenos negócios, sem apresentar para eles o que é e quais são as vantagens de se tornar um Estado Carbono Neutro e de se trabalhar de forma sustentável.

Isso será não somente um ganho, mas uma oportunidade que surge também para os pequenos negócios cativarem o consumidor, que hoje em dia, ele está um pouco mais exigente, porque ele não pensa apenas só na qualidade do produto, ele está pensado na cadeia produtiva, em como que foi produzido, questões relacionadas à sustentabilidade, à responsabilidade social, à transparência, à ética empresarial. Então, todo esse conjunto, o Sebrae pode nos ajudar a fazer o convencimento de que isso pode se tornar uma oportunidade, e principalmente, que isso pode também agregar valor para quem produzir a partir desse novo paradigma de sustentabilidade.

Ter o pequeno negócio aliado nesse processo, pode ser um catalisador para a implementação dessas medidas, na sua opinião? Ou não?

Não tenha dúvidas, porque a maioria das nossas compras é feita no pequeno negócio, então imagina se você frequenta um ambiente, uma loja ou um pequeno mercado e de repente você percebe todo um cuidado com a questão da sustentabilidade, com a neutralidade de carbono. As pessoas começam a se questionar e isso acaba sendo um processo que as empresas também podem ter uma mão dupla de educação com o consumidor. O consumidor leva suas novas exigências, da mesma forma ele recebe das empresas esse feedback e a acabamos criando um modelo, um novo paradigma de desenvolvimento.

Como você disse, há várias iniciativas. Quais são os desafios também desse processo de implementação de medidas?

Todos os elementos de política governamental que precisavam ser feitos nesse primeiro momento, já foram colocados, nós instituímos uma série de programas com essa pegada de sustentabilidade, criamos agora e institucionalizamos o programa MS Carbono Neutro, criamos a estrutura de Governo de Estado, então o maior desafio é convencer a sociedade de que isso pode ser benéfico para todos nós. O que temos visto, por exemplo, grandes nações que em princípio saíram do protocolo do acordo do Paris ou não se comprometem, e fica em dúvida na cabeça das pessoas.

Entendo que o Mato Grosso do Sul pode ser um exemplo, e tem sido um exemplo para o Brasil, porque nós assinamos acordos importantes, assinamos termos de cooperação com instituições para que possam nos ajudar a implementar essa agenda. Então, acho que o grande desafio é fazer essa sensibilização do sul-mato-grossense e acabarmos nos tornando uma referência para todo o País. Temos ainda uma matriz energética muito focada nos combustíveis fósseis, e você não muda isso de uma hora para outra, então é esse talvez o maior desafio, que não é só do Mato Grosso do Sul, é do planeta como um todo.

No momento em que começamos a mostrar que fontes mais renováveis podem não somente reduzir o problema do aquecimento global, como também criar novas oportunidades, viramos a chave e muda o paradigma.