OBSERVAÇÃO

Onça em árvores contribui para turismo na Amazônia

12 JUL 2017 • Por Redação/Vandré Fonseca/OEco • 21h05

Um grupo restrito de nove turistas esteve este ano na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, na Amazônia, para observar onças-pintadas de jeito diferente de qualquer outro lugar. Cada um deles desembolsou R$ 10 mil reais, para passar quatro dias na pousada Uakari e flagrar período em que o chão é coberto por água e os felinos vivem em árvores.

A interação entre humanos e os animais durante a observação em trilhas na reserva, situada no município de Tefé, inclui também outros animais e aves. É possível contemplar outras espécies amazônicas, como primatas, pirarucus, botos cor-de-rosa, tucuxis, jacarés-açu e preguiças. . Estudo mostra que espécies convivem harmoniosamente com visitantes e o projeto alia pesquisa e turismo.

Entre maio e junho, ocorre o auge da cheia em Mamirauá. Nos igapós, parte do tronco e a copa das árvores permanecem acima do nível da água, que forma um imenso e contínuo espelho. Enquanto muitos animais fogem para a terra firme, as onças permanecem por ali.

“É um comportamento inusitado”, afirma o biólogo Emiliano Esterci Ramalho, coordenador de Monitoramento do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (ISDM). “Um felino deste tamanho precisa de muito alimento e uma área grande para sobreviver”, completa.

O dinheiro da observação de onças é revertido parte para a comunidade e parte para pesquisas. A atividade turística ocorre antes da alta temporada, que vai de junho a agosto.

Fora os pacotes de observação de felinos, a pousada Uakari recebe até 100 pessoas por mês. Mas este ano a procura está baixa, apenas 70% de ocupação. O preço, cerca de R$ 2,5 mil para um pacote de quatro noites, a partir da cidade de Tefé (AM).

A observação

Onça subir em árvores não é novidade. Mas passar tanto tempo lá em cima, é. Ramalho explica que, em Mamirauá, as onças conseguem se adaptar devido a abundância de presas, mesmo durante a cheia, e preservação da área.

Turistas não se intimidam com a presença da felina

A flexibilidade de adaptação da onça também é importante, pois consegue viver, caçar e se alimentar sobre os galhos. E claro, as onças são excelentes nadadoras. Há registros em Mamirauá de um animal que chegou a nadar três quilômetros em uma única noite.

“Quando vi que passavam muito tempo em árvores, que eram visíveis, eu busquei o turismo para criar a observação de onças”, conta Ramalho.

São apenas três semanas de observação de onças por ano. Para cada pacote, são quatro vagas (mas há possibilidade de aumentar para seis vagas). O período escolhido é o clímax da cheia, quando existe a maior possibilidade de ver os animais, com mais segurança.

“Na árvore, estão com mobilidade reduzida, não se sentem ameaçadas e a gente não faz barulho andando de canoa”, afirma Ramalho, “Por isso, a observação funciona”.

Uso e interação

As pesquisas de fauna do Instituto, conforme ressalta Ramalho, são voltadas para a interação e uso da comunidade. No caso das onças, os pesquisadores ainda buscavam compreender a ecologia da espécie no ambiente da várzea. Mas o turismo, além de levar benefícios para comunidades, pode contribuir também para proteger o animal, aumentando a tolerância das pessoas à espécie.

Em Mamirauá, há conflitos entre os felinos e a população humana. As causas são diversas: retaliação por ataque a animais domésticos, medo de ataque a crianças ou famílias, comer a carne ou até mesmo um pouco de ação.

Legenda da Foto

Portanto, segundo Ramalho, são necessárias estratégias diferentes para proteger o animal. Com turistas pagando caro, um preço maior do que o pacote convencional, a expectativa é que a onça passe a ser vista também como um animal benéfico. Com base em entrevistas com comunitários, estima-se que 70 onças são abatidas por ano em Mamirauá.

Sinais de rádio

Não é um caminho fácil, como conta o auxiliar de pesquisas Valciney Martins de Oliveira, o Sarney, criado na comunidade de Boca do Mamirauá, berço da Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Onças dão medo às comunidades.

“Hoje, com a experiência de pesquisa que acompanho desde pequeno, vejo diferente, mas muita gente do interior tem medo, porque acredita que é um animal feroz, que pode fazer mal para crianças e para a família”, afirma. “É muito difícil para uma pessoa que mora lá acreditar que a onça não é tão feroz quanto pensam”.

Mas para turistas, onças são uma atração. Até agora, em três anos de programa, nenhum saiu frustrado por não ter encontrado o animal. E não é apenas sorte. Turismo e pesquisa navegam juntos em Mamirauá. Os visitantes são guiados por um especialista, que monitora os sinais de rádio enviados por colares colocados nos animais.