quinta, 13 de fevereiro de 2025
ARTIGO

Universidade Federal do Território do Pantanal

28 DEZ 2024 - 11h14Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

Ailton Krenak, líder indígena e escritor, em candentes palavras, flecha o coração dos modernos postulados urbanóides: "Amazônia não é símbolo é território."

Corta grande e abre longe, como se diz no pantaneirês castiço de nossa beira rio, ao reiterar criticando a próxima COP 30 em Belém do Pará. Copyright © Agência Cenarium 

"São essas grandes empresas que patrocinam as rodadas climáticas, seja aqui no Brasil, seja na África ou na Ásia. Elas tocam o disco. Cabe a nós decidirmos como e onde nos posicionamos, porque, se não formos, elas continuarão fazendo do mesmo jeito”.

Na década de 1960, o geógrafo Milton Santos, nos presenteou com luminoso enunciado sobre Território:

"Território numa definição mais ampla, não se refere somente a área de um local, mas também às relações sociais, políticas e culturais que ocorrem ali, tratando sobre as formas de apropriação local, regional, nacional ou supranacional."

Entendemos que a tragédia gerada por tantos e repetitivos incêndios, que transformaram o Corredor Azul da Águas dos rios afluentes nos quadrantes Norte, Oeste e Leste do Pantanal, num assoreado Corredor do Fogo com pavorosos e repetitivos incêndios descontrolados, abre a possibilidade de todos participarmos da salvação, pelo menos da planície pantaneira...

O Pantanal na Planície é um bioma complexo formado por inserções e transições de todos os biomas dos planaltos que o circundam, e só uma possibilidade persiste para o manter evoluindo sustentavelmente: buscar a integridade de seu Território.

Afinal, apesar dos esforços, não existe um Pantanal Patrimônio Nacional do Norte ou do Sul, com leis, destinos ou usos diferentes, e não há nada que impeça que a divisão político administrativa vigente, permaneça mantendo fronteiras fluídas, desde que respeitando as relações políticas, econômicas e históricas que ocorreram nesse território no transcurso de séculos, culminando com a formação de uma cultura onde a sobrevivência humana tornou-se  organicamente simbiótica com a natureza vegetal e animal circundante.

Toda a evolução orgânica dos potenciais econômicos naturais do Pantanal, o Bioma dos Biomas, oriundos  dessa simbiose, foram inorganicamente postergadas ao se tornarem objeto da cobiça política imediatista, atropelando propositalmente seu papel de coração da logística sul americana, não importando que do seu secular eixo internacional hidroviário, surgiram florescentes acessos por modais ferroviário e rodoviário, replicados também  no cruzamento das aerovias superiores Norte Sul e Leste Oeste...

A Ponte Ferroviária Eurico Gaspar Dutra, no Rio Paraguai, em Porto Esperança, monumental e perene obra de arte em legítimo concreto protendido da América do Sul, testemunha qual Esfinge enigmática, a precariedade de algumas oscilantes pinguelas modernas, com prazo de validade.

Entre o bem orgânico, no sentido de permanente e o inorgânico moldável por conveniências políticas provisórias, que como que alugam locais temporariamente para objetivos concupiscentes imediatos, parece-me conveniente que o Governo Federal, origem da mutilação da integridade territorial do Pantanal, reúna-o pelo menos no aspecto acadêmico, numa Universidade Federal do Território do Pantanal.

 A partir da valoração dos bens naturais e dos bens culturais intangíveis, acumulados na comprovada adaptação multisecular do homem e da atividade econômica, que culminou na sustentabilidade da Planície Pantaneira, encontre-se a resposta da catástrofe que nos ameaça quando predadores sedentos dos lucros das commodities ambientais impõem o modelo de reservas com a população tradicional segregada em bolsões dos megaecolatifundios do neocolonialismo importado.

Os atualistas preconizam que os eventos hoje correntes na Terra são eventos naturais iguais aos ocorridos no passado, sendo fácil expor que, no passado e na história, devem ser buscados a condução sustentável para o futuro.

Já os catastrofistas postulam que periodicamente extinguem-se fauna e flora, cujos dogmáticos modernos fanatizam-se com a teoria que variadas catástrofes nos espreitam nos próximos dias, meses ou anos...

Só precisamos que nosso conhecimento na construção deste jardim natural que é o Pantanal, seja tão escrito, descrito e pesquisado que o habilite a substituir as reservas "protegidas" via modernas rotas culturais, evitando tornar-se, tão somente, um parque vazio e queimado, cheio de Torres de Babel onde se falarão idiomas estranhos e se regozijarão os investidores com a própria sabedoria, enquanto contabilizam os lucros da monetização que impuseram ao Pantanal...

Quanto pagaram?

 Quase nada! Compramos tudo por tonelada, trazidos por nossos próprios agentes corretores e com a balança aferida  de dez mil  dólares por um mísero real.

(*) Pantaneiro do Porto São Pedro, Serra do Amolar, em Corumbá (MS)

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