Dá-nos conta velho causo da disputa entre dois soldados, servindo num batalhão cuiabano, um arrebanhado no Norte do País e outro pantaneiro do pé rachado e unha preta.
Sabe-se lá por qual arte, o sargento designara os dois guerreiros neófitos como hortelões do batalhão, encarregando-os de cuidar de duas tarefas de roça, para ajudar a suprir as necessidades de alimentação do restante da tropa aquartelada.
Certo é que mantinham entre si acesas discussões, quanto às próprias origens, da gabolice inicial surgiu bairrismo exacerbado, onde cada um defendendo com mais ênfase e radicalismo, comparações entre as respectivas terras de origem.
Na maior escalada da porfia mútua, eis que o mato-grossense achou, à flor da terra , vistosa pepita de ouro, e foi imediatamente humilhar o companheiro: "Veja, seu forasteiro, como minha terra é rica, olhe o tamanho desta pepita de ouro!"
O outro ficou possesso com o escárnio, apossou-se da pedra amarela, e correndo para o local que deixaram as ferramentas, começou a martelá-la furiosamente.
Tamanho o reboliço na luta corporal que se seguiu, que o sargento foi chamado e, incontinenti, confiscou a pedra encontrada no terreno do quartel e a manteve em exposição, talvez até hoje, entre os objetos cultuados pelo batalhão.
No Pantanal, abundam Institutos e organizações para "salvar" o bioma, os quais insistem em não atribuir nenhum valor à cultura secular dos que habitam felizes e independentes de favores governamentais, espalhados por tantos e tão diferentes ermos da região, mantendo por séculos, com amor e desvelo, como intocadas todas as nuances da natureza.
A adaptação do termo SOS, do original em inglês "Save ours souls" ou “Salvem nossas almas”, foi eternizada pelo radiotelegrafista do Titanic, que a irradiou enquanto o aparelho funcionou.
SOS Surreal no Pantanal, tão surreal quanto esta crônica da morte insistentemente anunciada do Pantanal, a mídia ao comprar e massificar o cretinismo e a estupidez dos Institutos e ongs e a falácia milionária dos latifúndios formados por pura especulação ambiental em "áreas protegidas", que mais uma vez conseguem realizar seus malignos intentos.
Como o forâneo exaltado com a riqueza que a região mostrou e tentou desesperadamente destruir a marretadas, tais SOSs tentam usar esse artifício para tentar esconder os incêndios de sua própria responsabilidade, espalhando-o por todo um inocente Pantanal.
Longe de estarmos num Titanic prestes a afundar, enviando pontos e traços ao éter para salvar nossas almas, a Internet traz aos pantaneiros, até nestas distantes barrancas do Rio Paraguai que SOS em linguagem moderna digital significa "Slower Older Smarter" ou seja: mais lento, mais velho e mais esperto, definição que parece condizente com a experiência acumulada de gerações de vida pantaneira, e até a imagem de lentidão com que de nós desdenham agitados citadinos.
O Pantanal não está utilizando o telégrafo que o pantaneiro Cândido Rondon, espalhou por todo Brasil, mas aprendeu, nos dias atuais, a acumular em aparelhos com câmera, arquivos de áudio e vídeo que estão à disposição da perícia criminal para derrubar com a exibição da verdade, todas as narrativas encomendadas para justificar tantas repetitivas catástrofes nos mesmíssimos locais do Pantanal.
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