quinta, 25 de abril de 2024

Se correr o bicho pega, se ficar, ele come

08 AGO 2022 - 16h59Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

Pantaneiros que vivem há décadas o dia a dia do Pantanal sabem que aumentou a quantidade de onças.Tá perigoso ir na roça, já morreram os cachorros, bem  próximo de morrer gente!

Pesquisador que mora na cidade, olha a planilha do Excel e fala: “Não aumentou...”. Onça só ataca caçador, mas, e se ela te atacar? A culpa é toda sua, ali é o local dela, você é o intruso. 

Não vão admitir a situação de emergência, se comer um pantaneiro roçando, uma pantaneira lavando roupa na porta de casa ou uma criança pantaneira mesmo subida no pé de goiabeira. Sim!  Nossa gente pode morrer!

Só vai ser emergência se morrer turista ou pesquisador… Aí, vai assustar, mas eles passam só dois ou três dias, no mês, nestas bandas. Quem passa a vida, é que vai padecer.

Propor como solução acender luz, tocar buzina, é quase menosprezar nossa inteligência e a do bicho. Se for usada a solução antiga, seremos imediatamente presos e expulsos, o problema é novo a exigir solução compatível e justa. 
 
A sensação é que com nossa diáspora, levaríamos, ao correr em fuga, nossa extinção enquanto gente com cultura... No sofisma proposto tudo está bem previsto. Pantaneiro morrer, matar, correr, só traria benefícios a quem pretende lucrar muito com esta situação enganosamente manipulada. 

Na realidade, encontramo-nos no Pantanal, diante de um dilema e uma escolha:  enfrentar a angústia de ver um parente ou o próprio risco de morrer ou correr, fugir, "lavrando terra e estufando a blusa" para bem longe do Pantanal?

O Pantaneiro rejeita este artificial duelo de vida e morte com onças, uma boa forma de trilhar novos caminhos, seria pararem de imediato a matança de jacarés da beira do rio, que voltou em larga escala.

Os próprios turistas precisam entender que cada porção do exótico e monetizado petisco, utilizando rabo de jacaré extraído da natureza, coloca em risco moradores tradicionais do Pantanal principalmente crianças e também   a própria onça, tornada inimiga pela quebra de sua cadeia alimentar...

Há superpopulação de felinos? Estão quebrando sua cadeia alimentar? A pecuária extensiva continua a ser fundamental na conservação do Pantanal? Existem soluções que possam manter a compatibilização de gado, humanos e felinos? Definir territórios (reservas) para conservação no Pantanal continua uma política válida? Presença de onças em zonas urbanas ou no seu entorno, ao se tornarem eventos corriqueiros trazem algum significado? 

Por enquanto, nesta Babel pantaneira, continuaremos orando para que o Senhor Proteja os nossos, Ilumine a eles e também aos seus, e tenha Piedade de nós todos.

(*) Pantaneiro do Porto São Pedro, Serra do Amolar - Corumbá MS

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