sábado, 20 de abril de 2024

Quem chora pelos rios assoreados?

07 OUT 2021 - 11h52Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

Lamentavelmente, apesar de tantos diagnósticos e prognósticos não se divulga o fato que não temos mais os mesmos rios de 1964.

Tentam aparentar normalidade nos números de hoje, olvidando que naqueles tempos, com esse mesmo calado, se permitia a navegação dos rápidos navios boieiros com 600 cabeças a bordo, seja em todo o Paraguai, como nos rios Taquari/São Lourenço/Cuiabá/Piquiri.

 O cimento de Corumbá, única fonte de abastecimento de Cuiabá e Cáceres, e daí todo o Norte do Mato Grosso, também singrava sem interrupção pelos rios não assoreados do Pantanal.

A lancha Pan Americana, da firma Irmãos Kassar, com suas duas chatas de 60 toneladas subia e descia com praça completa, pelo Rio Taquari, até a cidade de Coxim.

Hoje, pequenos botes já navegam com dificuldade, e no Taquari, nosso eterno Rio da Música, com rápidas águas que cantavam na proa das embarcações, hoje virou uma estrada de imenso areal a ringir nas rodas das caminhonetes.

Quando as águas diminuíam, o canal navegável se concentrava e esbanjava profundidade...

Não adiantam prognósticos otimistas de volta das chuvas, o Pantanal só encheu em 1974 depois que ninguém mais acreditava que isso seria possível, e só secou agora para contrariar tantos falsos profetas que alardeavam o contrário.

Para nós, pantaneiros,  que descobrimos a estabilidade nos instáveis pulsos de seca e enchente do Pantanal, que somos filhos da mãe do fogo e fraternais companheiros do fogo amigo, só nos cabe ter resiliência e esperar que a arrogância letrada - ou nem tanto -,  seja  ou incinerada no fogo inimigo que eles mesmos alimentaram ou se afoguem na próxima enchente, que estejam certos, virá quando menos esperarem.

O Pantanal é um ser vivo, que adora contrariar os muito vivos que dele querem se apossar.

O Pantanal não impõe, só expõe!

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