Três cenas semelhantes, três sotaques distintos, e a contribuição à cultura universal de nossas simplórias aldeias pantaneiras do velho Mato Grosso...
ato 1 Cena 1 Poconé
Entra um vendedor de pão, com a jaqueta branca 4 botões do ofício, empurrando uma bicicleta triciclo, com o baú metálico dos antigos vendedores ou entregadores de pão de quilo.
Ele tira um cartaz onde se vê escrito Poconé, aponta, faz sinal de é aqui, apontando o chão e pendura no baú de bicicleta.
Pigarreia duro e começa a caminhar e anunciar seu produto, em Poconé fala-se o português castiço do século 17, não há acento no “ão”, ele se pronuncia com som aberto “áoo”, não “pao”, mas sim “páoo”.
--Olha o páoo! Olha o páoo! Olha o páoo!
Detém-se, olha interessado por cima da cerca, eis que é a casa de Dona Tita, sua freguesa, e tenta a venda:
-- Nhá Tita, qué páoo?"
Imediatamente a decepção se estampa!
-- Náoo?", fala alto, balançando a cabeça, falando agora triste para si mesmo: “Hodje náoo, ela náoo qué páoo...”
Ato 2 Cena 2 Cáceres
Entra um vendedor de pão, com a jaqueta branca 4 botões do ofício, empurrando uma bicicleta triciclo, com o baú metálico dos antigos vendedores ou entregadores de pão de kilo.
Ele tira um cartaz onde se vê escrito Cáceres, aponta, faz sinal de é aqui, apontando o chão e pendura no baú de bicicleta.
Pigarreia duro e começa a caminhar e anunciar seu produto, em Cáceres fala-se o português temperado com o espanhol fronteiriço, não se pronuncia “ão” e sim “on” , pão é “pon”, não é “non”.
--Olha o pon! Olha o pon! Olha o pon!
Detém-se, olha interessado por cima da cerca, eis que é a casa de Dona Tita, sua freguesa, e tenta a venda:
-- Nhá Tita, qué pon?"
Imediatamente a decepção se estampa!
--Non?" fala alto, balançando a cabeça falando agora triste para si mesmo: “Hodje ela non qué pon...”
Ato3 Cena 3 Livramento
Livramento, cidade dos papa banana fica entre Cuiabá e Poconé e o sotaque é “iguá”, “iguá”.
Cidade mais pobre, nosso herói sem bicicleta ou baú, sai anunciando seu produto:
--Olha o páoo! Olha o páoo! Olha o páoo!
Dona Tita, freguesa certa acerca-se da cimbra de acesso à casa...
Apressa-se, voz doce e cantada:
-- Donaa Titaa, iinhoraa qué páoo?
Dona Tita, voz firme, canta as palavras em contralto anasalado:
-- Meeuu fiioo, sê tivéé beiinn de veiiss, detcha um catcho!
Cai a cortina!
* Pantaneiro, Porto São Pedro
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