terça, 23 de abril de 2024

Pantanal: Laboratório ou Crematório?

08 DEZ 2022 - 12h14Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

Enviei a um pantaneiro amigo o convite para o tal do PELD, que vem a ser o Programa Ecológico de Longa Duração. Diante de seu desânimo, agreguei que, talvez, seria diferente, pois no programa não constava o nome das Ongs que costumeiramente infernizam o Pantanal...

Ele calou-me com um taxativo: "idealizaram um laboratório para o Pantanal, e em tantos anos   só construíram, para bichos e vegetação, um colossal crematório."

Emudeci diante da realidade dos incêndios permanentes nas reservas e áreas SNUC, que os programas de sensoriamento remoto de focos de calor no Pantanal nos trazem em tempo real.

Acompanhei a PELD através de alguns amigos presentes, e um pesquisador de distante Instituição afirmou com toda a convicção que só o fundamentalismo meio fanatizado permite: "A Pecuária é a causa dos incêndios!"

Por sorte, encontravam-se presentes dois eminentes e respeitados pesquisadores científicos do Pantanal, os Mestres Arnildo Pott e Geraldo Damasceno Junior, editores do alentado trabalho "Flora and Vegetation of the Pantanal Wetland", destinado a ser fonte de conhecimento científico sobre o Pantanal por muito, muito tempo.

Por estarem diante do criador do Boi Bombeiro, alguém perguntou ao dogmático: "Você conhece o Boi Bombeiro?"

Escolado nas lacrações, memes e cancelamentos, segurando acesso de riso, retrucou no ato: "Isso é como aquela coisa do pen drive do Catar!"

Desnudou perante todos que ele não pratica a política da humilde Ciência, mas a arrogância da ciência com política, informado da presença do criador do Boi Bombeiro, ele insistiu e inquiriu onde Mestre Pott, baseava tal teoria...

Com toda a tranquilidade foi informado que não se tratava de uma teoria, mas, o resultado de experimento científico extremamente simples: "Reduzir o combustível!" 

Por todo o globo terrestre, em regiões sujeitas a incêndios florestais, abundam não só bovinos bombeiros, mas inúmeros ovinos e caprinos bombeiros, que repetem gostosamente a tarefa de reduzir o combustível disponível na natureza.

Algumas situações no Pantanal transformaram-se em questões político-ideológicas, dogmaticamente cristalizadas pela propaganda e ação de especialistas e  "formadores de opinião".

Mesmo com toda a sua utilidade comprovada, o Boi Bombeiro segue sendo um anátema,  tal como o Rio Cuiabá e São Lourenço, que, por mais demonstrações físicas que dão de sua regulação em 20 %  a mais no fluxo constante de água, fora empeixamento  neste ano de seca, consequência virtuosa das represas no pediplano e Planalto, infelizmente seguem sendo alvos do negacionismo de milhares de "especialistas", estes talvez beneficiados para isso.

A fórmula desta moderna Santa Inquisição, que dá acesso ao bem remunerado comércio de indulgências plenárias, se baseia na seguinte Fórmula Mágica, martelada a exaustão: "São cálculos precisos, feitos por especialistas."

Não importa que o Pantanal, refém de tais repetidas e importadas fórmulas que potencializam o acúmulo de combustíveis, de sagrado laboratório tenha virado um colossal crematório, como nos dá conta a sabedoria empírica.

Quanto mais incineram vidas vegetais e animais, mais dobram a meta da estupidez, esperando, com o aumento do erro atingir, enfim, os páramos celestes do acerto utópico. 

Paciência.  Essa publicação do Arnildo Pott e do Geraldo Damasceno, lançada no dia 8 de dezembro deste ano, se constituirá na fonte que iluminará a trilha dos que tiverem o privilégio de nela beberem, sem negacionismos e pré-conceitos, da verdadeira ciência.

O Pantanal não impõe, só expõe.
 

(*) Armando Arruda Lacerda, pantaneiro do Porto São Pedro, Serra do Amolar (Corumbá/MS)

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