terça, 13 de maio de 2025
ARTIGO

Justo no quintal dos pantaneiros? Aqui não!

08 JUL 2024 - 09h45Por ARMANDO ARRUDA LACERDA

Ao redor do mundo, as populações de determinados locais costumam reagir a projetos de modificações estruturais ou expoliação empresarial de suas condições de vida com um movimento chamado no original em inglês de Nimby ou Not in my back yard, traduzido por “no meu quintal, não!” Em pantaneirês castiço, é hora de atiçar nossa antiga tecnologia de vigilância: “Pprrrúúú! Issca! Peegaa Chulim!”

No terceiro ano pós incêndios de 2020, já era consensual que teríamos um enorme reinício de temporada de incêndios nas áreas ditas “protegidas”, por visível acúmulo de material vegetal, mesmo nas áreas de beira rio que tinham sido totalmente calcinadas.

Não há nenhum componente ideológico ou resistência fundamentalista na questão das áreas adquiridas com lealdade ou normalidade de particulares, e depois transformadas em reservas tipo SNUC, Sistema Nacional de Unidades de Conservação no Pantanal, somente ocorre o fato de que, se forem áreas antes ocupadas por pecuária, num regime de menos enchentes, tais “áreas protegidas” conviverão com fogaréu a cada 3 anos…

Mesmo o Parque Nacional do Pantanal, situado entre os Rios São Lourenço e Paraguai, após quarenta anos de enchentes e turfa acumuladas, comprovou-se em 2023 que tão logo sai o úmido pulso da água, começa o flamejante pulso do fogo.

Como os pantaneiros cansaram-se de sofrer repetidos assédios em inquéritos policiais e judiciais, atiçados por irregular sistema privado de vigilância, com profusas manipulações midiáticas para chegar a um linchamento virtual, quebrando ao mesmo tempo a isenção necessária das autoridades acusadoras, cooptadas como parceiras.

Se o comburente oxigênio é onipresente, e a ignição podendo ser natural ou aleatória, faz-se necessário acurada perícia do tal ponto de ignição, em muitos casos iniciaram-se incêndios, por claros focos salteados parecendo pré programados.

Para que se descarte algum tipo de manejo malicioso visando esconder até mesmo algum tipo de ignição aleatória natural ocorrida nesses acúmulos de enorme massa combustível, escorregando na tentação de alguém resolver incinerar num mega incêndio, as provas daquele fogo que poderia queimar a reputação de algum ente ou entidade “protetora”.

Os pantaneiros apreciam quando Manoel de Barros diz: ”Meu quintal é maior do que o mundo” e concordam com a poetisa Maria Walsh quando afirma: “Gracias doi a la desgracia, e a la mano con puñal, que me mató tan mal, e sigo cantando…”

Ispialá! Ispialá! Presta sentido e põe reparo que olhos pantaneiros estão permanentemente atentos às imagens de satélite, os pilotos voando e filmando em tempo real o Pantanal e até moradores e vaqueiros de campo carregando na cintura coisas imprescindíveis como faca, chaira e… celular com câmera!

Ficou extremamente difícil manter a velha narrativa de que o fogo foi obra dos produtores malvadões e os olhos e imagens se voltam para os mega latifúndios adquiridos com concupiscentes subterfúgios ou até aparentemente costeando rente os diplomas legais do estelionato.

Para muito além das narrativas, os pantaneiros não se negarão a manter o diálogo com o MPE, confiantes que as dificuldades criadas pela sua “parceria” com entidades que envenenam o Pantanal com suas milionárias armações e futricas, indicarão os interesses conflitantes constantes do futuro recurso ao plenário do CNMP, onde confiam na possibilidade de que o homem pantaneiro verdadeiro seja compreendido ao expor este pesadelo permanente, crise que nunca foi pela natureza e sim pela expropriação do Pantanal, para lucro de poucos neo colonialistas.

Por total pertinência com o tema, parafraseio o amigo particular do Porto São Pedro iniciado como pantaneiro a bordo dum rabeta correndo pelo Corixo do Mata Cachorro, senhor David Feffer, da Suzano Celulose, que recentemente citou, em artigo na imprensa, o notável estadista Churchill: “-O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”. 

Sejamos otimistas!

O Pantanal expõe com muito otimismo as inúmeras oportunidades presentes nas atuais dificuldades.

*Pantaneiro do Porto São Pedro, Corumbá MS
 

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