Hoje, como convém aos velhos, enquanto os aranquãs anunciavam o amanhecer, trocava mensagens com um amigo arranchado às margens do rio Paraguai.
Naquele momento, vendo cair a primeira e tardia chuva da primavera e apreciando o movimento das aves perseguindo as içás, que brotavam da terra molhada e agradecida, falou-me sobre o Fantástico do domingo.
Relutante, assisti a apenas algumas imagens do vídeo. Ao fundo, uma repórter inaudível
falava certamente sobre o "socorro" prestado aos animais do Pantanal que sofrem com rigorosa e cíclica seca.
Assisti aquilo que se assemelhava a uma cena de cinema mudo e pensei que se me coubesse legendar aquela dramatização os caracteres contariam uma história de cinema do absurdo, onde atores controlados remotamente representavam a inutilidade das ações humanas diante dos rigores da natureza...
A narrativa cênica, com as pessoas indo ao mercado comprar ovos e bananas e depositando ao pé das árvores, fazia parecer que fossem oferendas aos irados deuses de um imaginário Olimpo.
O soldado do IBAMA estaria ali chancelando aquele ato como um procedimento oficial de Estado que se curvava a um poder maior.
A mísera água que escorre do caminhão pipa, o soro aplicado ao jacaré, que, depois, é transportado como o cadáver real em um funeral viking , e o número "fantástico" apresentado de dezessete milhões de animais mortos, que só se compara à pesquisa eleitoral que dá um certo presidiário como detentor da preferência do eleitorado brasileiro, simbolizam a escandalosa tentativa de induzir o espectador a se sentir culpado e partícipe daquele show de horrores que apenas revela figurantes anônimos, dirigidos por cineastas a serviço da Grande Mentira que tenta contar como sendo está a correta versão da recente tragédia do Pantanal.
Entretanto, este modesto articulista e milhares de outros pecuaristas pantaneiros abastecem todos os dias milhares de açudes e bebedouros onde matam a sede os bovinos e toda a fauna silvestre, aí inclusos os mamíferos, aves, répteis, anfíbios e insetos, entre outros.
Para que os herbívoros mantenham um desejável escore corporal, servimos em centenas de milhares de cochos o sal proteinado, onde se fartam todos, inclusive algumas aves "em extinção", como as araras-azuis e os periquitos de várias espécies.
Tudo isso sem o dinheiro público e os alardes demagógicos da imprensa engajada, porque é assim que preservamos a fauna pantaneira e com ela convivemos.
As chuvas voltarão e aí então o cinema terror dará lugar às concorridas lives dos aficcionados das narrativas vazias que proliferam nas mídias sociais.
A emissora em questão continuará a distorcer a verdade sobre tudo e sobre todos.
Infelizmente, dessa maneira, o país se curva às exigências do novo colonialismo mundial e muitos brasileiros continuarão vivendo das verbas com que compram a nossa soberania.
Manoel Martins Almeida, pantaneiro do Paiaguás (Corumbá, MS)
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